A ponta do Iceberg
Nubor Orlando Facure
Essa é uma imagem surrada mas,
permanece expressiva para nossa ilustração: quase sempre nos atemos à
superfície dos fatos
Minha esposa acamada me obriga a
fazer as compras caseiras – fui mimado em 48 anos de casamento e hoje constato
minha bisonha incompetência.
Acho até estranho o termo
monogamia, não vivo sem a Lourdes, a Kátia, a Lúcia, a Andréia, a Dora, a Cida,
a Ivone e outras tantas dessa constelação de estrelas brilhantes.
Ali no açougue eu peço patinho e o
garoto do balcão pesa e embrulha a ponta da posta de carne, fiz menção de
reclamar ele diz que era porque estava começando a peça agora.
Peço 5 litros de leite A e só em
casa me demonstram o vexame de ter trazido dois litros errados, um vencido e
outro era leite B – me coro de vergonha, mas, justifico que o vendedor foi
gentil comigo.
Comprei abacate e manga que visto
por fora estavam lindos. Em casa me ensinaram que fruta que congela e
descongela apodrece por dentro. Fico cada vez menor, até meu corpo parece
encolher de vergonha
E o que tem isso a ver com a Boate
de Santa Maria e a Eleição do Renan Calheiros?
É fácil entender o que quero
mostrar:
Se o menino do açougue, o vendedor
do leite ou o moço da frutaria estivessem na Presidência do Senado ou focem
eles os proprietários da Boate de Santa Maria a corrupção, a desonestidade,
irresponsabilidade, a permissividade, o interesse monetário seriam exatamente
os mesmos.
É isso que me faz chorar de pena
por esse Brasil abençoado e podre. Mil vozes se levantam condenando os
culpados, intensificando a fiscalização que parece ser a mesma que recomeça em
todas tragédias desse país. Choramos o nossos mortos na madeira dos caixões,
postamos mensagens sentimentais no Face, marcamos passeatas de solidariedade,
acendemos velas, esparramamos flores, iniciamos mais um milhão de assinaturas
para tirar o Renan.
Mas, e aqueles milhões de
vendedores e negociantes que teremos de enfrentar, os milhares de hospitais
incompetentes e médicos faltosos que vão nos atender, a inércia das repartições
públicas, as multas, os atestados, as liminares, os recursos para adiarmos as
condenações, a indiferença com a morte brutal no trânsito, a permissividade dos
nossos Juízes que liberam presos sem medir seus riscos e as prisões lotadas
onde a promiscuidade ensina um holocausto às avessas
Nós brasileiros precisamos de um
choque de consciência – somos todos culpados. Longe de mim estar aqui fazendo uma
condenação, mas, fomos nós, com a nossa cultura do jeitinho e da aprovação
quando se trata de favorecer a nós mesmos, de pedir ao funcionário para quebrar
um galho para mim, que permitimos inconscequentemente, crescerem as chamas
desse inferno que hoje consome a nós e a nossos filhos – fica a pergunta: onde
estamos errando e no que podemos melhorar um por um de nós todos, a cada gesto,
a cada atitude com nosso próximo ?
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