A obsessão e suas máscaras
Nubor Orlando Facure
Erotides chega na psiquiatria
tomada de intensa catatonia. Além daquela rigidez típica ela está desalinhada
da cabeça aos pés, as roupas sujas, parecem rotas em alguns pedaços– o
diagnóstico de esquizofrenia foi sugerido ha 6 meses – ela falava com os vultos
que lhe apareciam – gritava, teimava, atirava objetos – várias vezes foi
contida à força. De repente fica quieta, se isola, chora aos soluços – tem-se a
impressão que seus gritos de dor se referem a alguém que esta lhe estapeando.
A mãe conta que ela levou a filha a
um centro espírita. O facultativo, meio ríspido, recusa ouvir – disse que essa
coisa de demônio é crendice
A medicação traz grande melhora
resgatando em Erotides o equilíbrio perdido
Eu, porém, quis ouvir o que foi
falado no Centro – é uma postura que ha anos venho propondo aos que trabalham
comigo – vamos dar toda atenção ao paciente, ele está em primeiro lugar, não as
minhas vaidades acadêmicas, crendice mesmo, a Ciência médica também tem, e
muitas demoram a serem desmistificada – basta ver os remédios e as cirurgias
para emagrecer, sem esquecer da lobotomia frontal de tenebroso passado.
Erotides num passado recente
induziu sua irmã mais velha a se livrar do marido, rico fazendeiro em
Pernambuco. O crime foi mal executado e ambos – a irmã e o cunhado - falecem em
acidente de carro
Hoje a obsessão está francamente
instalada – as autoridades não caracterizaram o crime, o psiquiatra não acolheu
a justificativa maior para o transtorno – que pena, as noções de doenças
espirituais que hoje as Faculdades de Medicina estão estudando, não tem nada a
ver com a ingerência do demônio medieval, essa confusão já ficou para traz –
hoje, os tratados médicos já incluem a obsessão e a possessão dentro de sua
classificação nosológica – é melhor estudar agora, porque, mais cedo ou mais
tarde o futuro nos trará as luzes necessárias
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