quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


A obsessão e suas máscaras
Nubor Orlando Facure

Erotides chega na psiquiatria tomada de intensa catatonia. Além daquela rigidez típica ela está desalinhada da cabeça aos pés, as roupas sujas, parecem rotas em alguns pedaços– o diagnóstico de esquizofrenia foi sugerido ha 6 meses – ela falava com os vultos que lhe apareciam – gritava, teimava, atirava objetos – várias vezes foi contida à força. De repente fica quieta, se isola, chora aos soluços – tem-se a impressão que seus gritos de dor se referem a alguém que esta lhe estapeando.
A mãe conta que ela levou a filha a um centro espírita. O facultativo, meio ríspido, recusa ouvir – disse que essa coisa de demônio é crendice
A medicação traz grande melhora resgatando em Erotides o equilíbrio perdido
Eu, porém, quis ouvir o que foi falado no Centro – é uma postura que ha anos venho propondo aos que trabalham comigo – vamos dar toda atenção ao paciente, ele está em primeiro lugar, não as minhas vaidades acadêmicas, crendice mesmo, a Ciência médica também tem, e muitas demoram a serem desmistificada – basta ver os remédios e as cirurgias para emagrecer, sem esquecer da lobotomia frontal de tenebroso passado.
Erotides num passado recente induziu sua irmã mais velha a se livrar do marido, rico fazendeiro em Pernambuco. O crime foi mal executado e ambos – a irmã e o cunhado - falecem em acidente de carro
Hoje a obsessão está francamente instalada – as autoridades não caracterizaram o crime, o psiquiatra não acolheu a justificativa maior para o transtorno – que pena, as noções de doenças espirituais que hoje as Faculdades de Medicina estão estudando, não tem nada a ver com a ingerência do demônio medieval, essa confusão já ficou para traz – hoje, os tratados médicos já incluem a obsessão e a possessão dentro de sua classificação nosológica – é melhor estudar agora, porque, mais cedo ou mais tarde o futuro nos trará as luzes necessárias



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