O macaco mais famoso da
Neurocirurgia
Nubor Orlando Facure
Era 1964 no Congresso de
Neurocirurgia em Belo Horizonte. Não ha como não gostar e se familiarizar com
os mineiros de BH. E, o Presidente do
Congresso, mineiro de fino trato, fazia parte, também, do nobilíssimo Staff de
neurocirurgiões da Universidade de Chicago – diziam que era sócio do Chefe do
Departamento, por isso ele trouxe para a Conferência Magna o Dr Paul Bucy.
Vendo-o de perto, atarracadinho, baixo, uma cabeça grande, que me perdoe tê-lo
achado parecido com o português de muitas padarias que já frequentei – exceto
por aquele ar de nobreza que transparece em toda suas fotografias.
Preciso antes retroceder no tempo
Lá por 1938 o Professor Heinrich
Kluver na Un. de Chicago estudava a cognição visual em macacos – o que e como
eles veem as coisas.
Um fato comum dessa época, permitia
o Prof. Kluver ser vidrado em Mescalina e, ele mesmo testava em si próprio para
observar os seus efeitos alucinógenos – na sua interpretação essas alucinações
lembravam muito a “aura” dos pacientes
epilépticos – episódios visuais, auditivos ou afetivos, que ocorrem por
descargas de neurônios do lobo temporal. O Prof. Kluver contratou, então, para trabalhar na Universidade de Chicago um Neurocirurgião,
no caso o Dr. Paul Bucy, aquele mesmo que fui conhecer em Belo Horizonte – e,
assim, foram retirados os dois lobos temporais de vários macacos – hoje eles
seriam presos pela Sociedade protetora de animais
O curioso é que sob a ação da
Mescalina o comportamento dos macacos foi o mesmo, porém, Kuver e Bucy notaram
um padrão de respostas e comportamentos que se repetia em todos macacos
operados – foi descrita, então, a famosa síndrome de Kluver e Bucy – uma
cegueira psíquica, não percebem mais o significado do objeto que vê,
hiperfagia, levam tudo à boca para comer, reações excessiva aos estímulo
visuais o que os torna arredios e assustados, perdem a capacidade de exibir
raiva ou medo, mesmo diante de uma cobra que deveria representar uma grande
ameaça para eles, comportamento sexual
promíscuo e extravagante e consomem carne abundantemente.
Um novo salto no tempo
Chefiei uma UTI de Neurocirurgia
por 30 anos – internávamos pacientes com trauma de crânio, trauma de parto,
anóxia cerebral, que, eventualmente, apresentavam algum componente da Síndrome
de Kluver-Bucy – atendemos uma garota extremamente agressiva, que não nos
permitia qualquer aproximação física, andava pelo chão arrastando sua genitália
que esfregava em qualquer objeto que encontrava no solo. Outro, também violento,
vítima de TCE, era amarrado ao leito porque mordia e arrancava pedaços de sua
própria carne, do polegar e do ombro.
Como me ensina minha filha bióloga, nós não somos descendentes de
macacos, nós ainda somos macacos e, sempre mostrei aos meus alunos que mesmo
famosos professores da Unicamp quando vítimas de traumatismo no lobo temporal,
também se agitam, blasfemam, agridem e passam a mão, inconvenientemente, nas enfermeiras.
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