sábado, 16 de novembro de 2013

Nossas "âncoras afetivas"

Nossas “âncoras afetivas”
Nubor Orlando Facure

A loja de enfeites de Natal abriu no feriado e o médico, professor da Faculdade, está assentado num banco que lhe dá um descanço momentâneo em meio ao trança trança de gente. Ele está alí enquanto aguarda que suas netas, trigêmeas, isso mesmo, trigêmeas, terminem as ecolhas das estrelinhas luminosas. É possível que seu pensamento ainda guarde as imagems e as vozes do plantão de ontem a noite. Nem pode abrir o celular porque sabe que alí deve ter mensagens lhe dando conta de mais um pedido de orientação. Deixará isso para quando chegar em casa. Quando eu me aproximo ele se ergue, parece até que cresce o peito e, aponta as trinetas – isso mesmo, trinetas (sõ 3 meninas de 4 anos). Acho que perdeu a voz, ele não conseguia responder minhas perguntas. Eu queria saber como iam as aulas, os alunos, os colegas de antigamente. As 3 meninas congelaram ele por inteiro,  o mundo agora era feito só delas, os olhinhos, os sorrisos, o corpinho magro, e aquele jeito agitado das crianças de hoje, era tudo igual, se repetindo 3 vezes do mesmíssimo jeito.
A vida é completamente outra quando um doce afeto nos prende. A gente não consegue que o relógio deixe de consumir as horas levando nossos dias para longe, mas alimentamos sempre a esperança de que ele não marque o final.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Emoção a toda prova


Emoção a toda prova
Nubor Orlando Facure

Rogério e Adelaide fizeram um casamento simples para inaugurarem sua união depois de um noivado feliz e carinhoso, um e outro se preenchiam em todos os detalhes, nos passeios, nas preferências e nos mínimos desejos – nada parecia ameaçar o encanto dessa paixão.
Dois anos depois Rogério arruma emprego numa repartição pública onde conhece Janete – era casada, mãe de um rapaz problemático que estava se envolvendo com drogas – era Bruninho que passava os dias sem estudo ou trabalho, abusando de droga até que um dia vem a falecer nas porta de um pronto socorro. O casamento de Janete vai de mal a pior e ela aproveita ocasiões favoráveis para se insinuar com Rogério. Ele permanecia obediente aos seus princípios morais.
Adelaide fica grávida.  iria nascer Leonardo para encanto do casal. No final da gravidez soam os sinais de alarme – a pressão de Adelaide sobe muito e a eclampsia se instala – é acudida          às pressas mas, num hospital de poucos recursos, falece Adelaide e Leonardo, levando Rogério à desespero irremediável
Janete força sua separação e volta a dar em cima de Rogério – a instabilidade emocional e a falta de vigilância os faz se comprometerem com uma gravidez indesejável – nasce um filho com grave retardo – é Bruninho de volta.
Espírito nobre, Rogério aceita essa prova difícil e investe tempo e cuidados no tratamento multidisciplinar de Bruniho. Cinco anos depois Janete inaugura um quadro de esquizofrenia grave – foi necessário a internação e medicação pesada que levou a uma impregnação crônica que não a permitia sair mais do hospital psiquiátrico.
Cyntia vai em busca de um documento importante e cruza com Rogério na repartição pública – daí a novos encontros que se repetiam foi um passo para que a afeição recíproca os unisse em definitivo  - Janete era para Rogério uma mulher desequilibrada que ele não abandonaria, Bruninho era realmente um filho problemático e ele se sentia altamente comprometido no seu tratamento e, agora, Cyntia era uma nova possibilidade de buscar a paz e o sossego que nunca lhe fora possível.
Daí 4 anos Cyntia dá a luz a uma princesinha – os mesmos olhos de uma pessoa amada e conhecida de Rogério – era Adelaide de volta
Lições como essas se repetem aos milhares na parentela humana