Nossas “âncoras afetivas”
Nubor Orlando Facure
A loja de enfeites de Natal abriu
no feriado e o médico, professor da Faculdade, está assentado num banco que lhe
dá um descanço momentâneo em meio ao trança trança de gente. Ele está alí
enquanto aguarda que suas netas, trigêmeas, isso mesmo, trigêmeas, terminem as
ecolhas das estrelinhas luminosas. É possível que seu pensamento ainda guarde
as imagems e as vozes do plantão de ontem a noite. Nem pode abrir o celular
porque sabe que alí deve ter mensagens lhe dando conta de mais um pedido de
orientação. Deixará isso para quando chegar em casa. Quando eu me aproximo ele
se ergue, parece até que cresce o peito e, aponta as trinetas – isso mesmo,
trinetas (sõ 3 meninas de 4 anos). Acho que perdeu a voz, ele não conseguia
responder minhas perguntas. Eu queria saber como iam as aulas, os alunos, os
colegas de antigamente. As 3 meninas congelaram ele por inteiro, o mundo agora era feito só delas, os
olhinhos, os sorrisos, o corpinho magro, e aquele jeito agitado das crianças de
hoje, era tudo igual, se repetindo 3 vezes do mesmíssimo jeito.
A vida é completamente outra quando
um doce afeto nos prende. A gente não consegue que o relógio deixe de consumir
as horas levando nossos dias para longe, mas alimentamos sempre a esperança de
que ele não marque o final.
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