domingo, 26 de junho de 2011

Resgate e salvação
Nubor Orlando Facure



Cadeira de rodas
Seu Angelino era conhecido como muito vaidoso e perdulário. Com empréstimos comprava tudo que queria, até um dia que a queixa dos credores era tanta que ele corria o risco de ir para a cadeia. Desesperado e sem recurso, Angelino, se atira nas rodas de um trem urbano. Anos depois de muito sofrer e implorar conseguiu renascer sem escutar e sem poder andar

Com válvulas na cabeça
Rosenilda não se cansava de falar. De casa em casa era um vizinho ou um parente que ela punha para escutar. Nunca se cuidou do que não dizer para não machucar. Não poupava ninguém, nem mesmo suas irmãs. Tanto plantava que até casamento conseguiu desarranjar. Inimizade aos montões. O tempo passa e, noutra vida, está a Rosenilda no vai e vem de hospital em hospital - tem hidrocefalia, a cabeça agora é oca tem mais água que miolo.


Perdeu a memória
Comendador Flores tinha terras, gado e muito dinheiro. Para um filho prometeu ajuda para estudar. Para a filha ia dar uma casa para morar. Na Santa Casa deixou recado que ia levar sacarias de mantimentos. O pobre do Manezinho era o vizinho doente que ele ficou de visitar e levar os remédios que precisar. Mulheres da igreja pediam donativos para a caridade e ele prometia ajudar. Passando de uma vida para a outra o seu Flores agora vive esquecendo tudo que ouve sofrendo de Alzheimer


A dançarina de rua
Leocárdia tinha sempre um pretexto para humilhar. Era a dona do castelo e se sentia no direito de aprovar ou condenar. Nunca perdeu, porém, a oportunidade para expor um ou outro convidado ao deboche e desconsideração. Criticava a roupa de uma, o penteado de outra. Menosprezava a inteligência de uma autoridade. Ridicularizava a pobreza de alguém de renome que "esbanjava" dinheiro na caridade. Fazia desfilar a criadagem humilde para esnobar a firmeza com que mandava. Vidas depois, Leocardia está na cidade de Bom Jesus, percorre as ruas maltrapilha, balançando braços e pernas, fazendo caretas e falando de soquinhos. Na Santa Casa disseram que ela sofre de Coréia, diz o médico que é a dança de São Guido. Não é por isso que ela mereça ser achincalhada pelos moleques da rua que a seguem imitando os seus trejeitos

sábado, 25 de junho de 2011

Remédios amargos
Nubor Orlando Facure


Aflição
Genival abandonou a Rosalina que ninguém sabe mais onde foi parar - hoje ele sofre de uma aflição que não lhe abandona o peito

Desencanto
O filho de Romildo sempre teve de tudo, sem qualquer esforço. Hoje o pai, desencantado com a vida, não sabe por onde ele anda

Cansaço
Seu Tarquino sempre soube dar ordens, punha todo mundo para correr trazendo o que ele pedia.
Hoje suas pernas não obedecem, ele padece de um cansaço sem explicação

Tédio
Faustina adorava festança, deixava as coisas de casa para ser a primeira a chegar - agora não sai do médico, sofre de depressão, diz que sua vida agora é só tédio, todo convite é feito em vão

Sofrimento
Toninho era valentão, decidia tudo na pancada - hoje tem dor no corpo todo, os médicos descobriram que ele tem um câncer nos ossos

Feridas a céu aberto
Dona Naná herdou fazenda de escravos. Não perdoava afronta de negro. Chibata aos que não obedeciam.
Hoje é moradora de rua, o corpo cheio de feridas, as pústulas estouram como se fossem marcas de chicotadas

Ansiedade
Dona Faustina herdou fortuna na conta bancária. Emprestava à juros altos e era implacável na cobrança. Não havia quem não tremesse só de ouvir seu nome na porta de casa.
Faustina hoje consulta médicos todo mês. Acorda em pânico à noite sem remédio que a melhore

Psicose
Lindalva Teve três filhos e não quis criar nenhum. Fez a doação assim que eles nasciam. A vida era festa demais para ela desperdiçar com criança. Hoje está internada, passou por choques na cabeça e toma remédios para se acalmar

Paralisia
Leonice era enteada que Cibele não suportava. Tanta intriga foi montada que a Leonice acabou presa. Hoje, com a ajuda de Cidinha empurrando a cadeira de rodas, a Cibele pede esmola. Ficou muda e não anda mais

Lição de casa
Ensinou Jesus que a sementeira é livre, mas, a colheita obrigatória

sexta-feira, 24 de junho de 2011

“Sistema de valores” - quantificando as Emoções
Nubor Orlando Facure


As crianças já nascem com um “sistema de valores” - herança dos primatas que nos antecederam na evolução.
Eles vão se expandindo ao longo da vida
Facilmente elas aprendem a detectar os estados afetivos da mãe
Aprendem, depois, que podem tirar vantagens com a emoção dos outros - descobrem como chantagear a mãe ou seduzir o pai
Percebem que estados afetivos podem se irradiar para o grupo onde vive
(Os animais que agem em bando têm mais chance para sobreviver)
Notam que o olhar e as expressões faciais dos outros, indicam que comportamento esperar deles
Percebem, com o tempo, que a emoção dos outros, muda os estados internos que produzimos em nós mesmos
A raiva no outro perturba todo seu equilíbrio orgânico - seu estômago reage sempre muito mal a esses destemperos
Acumulam experiência notando que cada comportamento nos outros, tem um significado
Gritar, correr, esconder passam a ser sinais de alerta
Saber o que os outros vêem pode nos indicar melhor o que eles sentem
Aprendem o significado de cada gesto, a mensagem de cada olhar, o afeto de cada sorriso e a melodia de cada voz
Descobrem que o estado de humor dos outros é um comunicado social
Mesmo antes de aprender a falar, a criança já aprendeu a linguagem dos gestos, das expressões faciais, do tom de voz e das mudanças corporais que refletem o estado de espírito seu e dos outros
À medida que cresce ela aprende a falar dos seus próprios sentimentos
Interagindo com os outros ela um dia saberá o que é bom e o que é mau, o que deve aceitar e o que deve rejeitar, para quem ela deve revelar suas emoções e o que ela deve esperar de quem se confessa com ela

Lição de casa
Que cuidados ter para criar um filho?
Para criar um filho, as palavras não vão tão longe, se perdem com o vento
São suas posturas, seus gestos, seu olhar, sua voz, são sempre suas emoções que deixarão marcas neles
Anotações do Face book
Nubor Orlando Facure


O meu corpo também tem Memórias:
Aquele susto que disparou meu coração, aquele medo, aquela raiva, aquele empurrão, aquela pisada, aquele aperto de mãos, aquele sorriso, aquele carinho, se me tocam de novo Eu sinto tudo outra vez


Para nascermos nós criamos 250 mil neurônios por minuto. Para envelhecer nós deixamos morrer 100 mil por dia - possivelmente porque não insistimos no seu uso - sugestão: tente aprender uma coisa nova todos os dias


Sua Mente registra as informações, sua Consciência decide se vale a pena, mas, é a Emoção quem dá significado ao que você recebe - sem emoção a Vida não se projeta em 3D


A Baleia Azul sabe nadar com um cérebro de 5 Kilos - O Beija-flor sabe voar com um cérebro de 5 Gramas
E o cérebro de um homem é mais pesado que o de uma mulher


Ninguém vive sem vasculhar a Mente dos outros.
Preciso saber quando um amigo está aflito, quando um filho está sofrendo, quando uma mulher está mentindo e quando um homem está trapaceando.
Todo elo afetivo exige uma comunicação de Mente para Mente

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ainda assim é preciso você
Nubor Orlando Facure

O esforço tecnológico
O computador realiza cálculos extraordinários, superior a qualquer esforço humano - ainda assim é preciso o homem que lhe instale os programas
O automóvel encurta distâncias com enorme velocidade, ainda assim não pode dispensar o motorista
O celular ti põe em contacto com o mundo todo em questão de segundos, mesmo assim existe alguém conversando de um lado com o outro
Milhares de homens estão no comando de aviões, outros tantos são mobilizados para que todos vejam a Televisão - nada ocorre sem dedicação e esforço de muitos
Livros e jornais são escritos informando, ensinando ou divertindo leitores pelo mundo todo. - nesse gigantesco trabalho é fácil perceber o esforço de gente especializada
Máquinas extraordinárias são instaladas em pacientes perigosamente doentes nos hospitais, mesmo assim elas não se tornam úteis sem a vigilância permanente de um médico

O esforço individual
Você estudou, cursou faculdade, fez cursos avançados, mesmo assim, é sua própria dedicação que lhe permitirá o sucesso
Você trabalha, cumpre horários, obedece a normas de segurança, faz por merecer seu salário - e todo esse esforço contou iniciativas suas
Para manter sua saúde você obedece a dietas, faz exercícios, procura o médico para exames e, tudo isso decorre da sua disposição para se cuidar
A família exige cuidados diversos, as crianças freqüentam escola, as contas bancárias não permitem qualquer descuido - os deveres são muitos e é você que está à frente, praticamente sem descanso

Lição de casa
A Vida fará exigências que só você pode cumprir

domingo, 12 de junho de 2011

Minha vida noutra vida
Nubor Orlando Facure


Onde será que eu já vivi?
Foi onde eu pude ensinar - adoro alunos, explicações, argumentos, para tornarem fácil o que é difícil
Foi onde encontrei uma família - sou caseiro, sou parceiro, trabalho o dia inteiro, não sou festeiro nem cozinheiro, por isso que dessa vez nasci "mineiro"
Foi onde tinha crianças - elas me comovem, hoje em dia elas já nascem sabendo de tudo, seu estoque de perguntas é inesgotável, elas me permitem, porém, recriar o mundo à minha volta e comigo participam dessa fantasia
Foi onde tinha livros - adoro ler
Foi onde tinha sossego - nunca entro numa briga
Foi onde tinha gente para me ouvir - adoro contar causos
Foi onde achei minha esposa, meus filhos, meus netos, minha bisneta, para estar hoje aqui com eles outra vez
Seu Bebê já sabe falar?
Nubor Orlando Facure


Toda mãe conversa com seu Bebê - e o contrário? O Bebê conversa com as mães?
É claro que sim
Eles foram os primeiros a adotar a "língua dos sinais" - a gente apenas precisa saber ler cada um deles
Há muitos anos, estávamos num simpósio sobre dor de cabeça com vários figurões da Neurologia da época. Um pediatra simplório, típico do interior, pediu-nos para falar sobre a dor de cabeça em bebezinho. Seria uma temeridade dar-lhe a palavra. O que será que ele pretendia nos dizer?
Primeiro ele nos informa que tem anos de experiência observando crianças em berçário. Pode então constatar que os bebês se comunicam com as vogais, a,é,i,o,u.
Conforme a vogal do choro o pediatra saberia onde eles queriam dizer que estava a sua dor - eu mesmo nunca soube dizer se isso é verdade ou não - para resumir, ele dizia que com dor de cabeça o choro do bebê tem som de i (i de inverno)
Na atualidade os cientistas testam os recém-nascido com uma chupeta conectada a um computador - a criança aumenta ou diminui a força e a rapidez da sucção conforme lhe seja mostrado coisas boas ou más - o rosto da mãe ou um rosto desconhecido; um rosto sorrindo ou outro triste; uma voz baixa e outra alta; o chamado da mãe ou de um estranho.
Entretanto, nada é mais comunicativo que as expressões faciais - mesmo com um sorriso torto eles apontam alegria para nós - também tem olhar de desaprovação, de desconfiança, de timidez e de rejeição.
Eles têm talento para discernir num simples olhar com quem eles podem contar e, principalmente, quem eles podem dominar.
Precocemente eles identificam quem é quem na sua família - embora os neurologistas afirmem que só depois dos 3 anos é que a criança sabe quem é ela - qual a sua identidade
Minhas recordações, de onde elas vêem?
Nubor Orlando Facure



Como é complicada essa minha memória!
Minha memória é traiçoeira, até o que eu já li eu cheguei um dia pensar que vivi
Coisas que me contaram, eu hoje penso até que aconteceu comigo
O que já se passou há tanto tempo e tão longe de mim, vem nas minhas lembranças como se eu estivesse estado lá
Nosso cérebro não separa tão bem assim as coisas - ele precisa estar sempre comparando o que me falam, com o que já escutei; o que me mostram com o que eu já vi; as dores que eu sinto, com as mágoas que eu já sofri
O tempo passa, mil coisas que vem e que vão, para todas elas, longe ou perto, meu cérebro diz que tudo foi ontem
Outras memórias me invadem sem que eu as chame - essa “intromissão” traz grande alívio quando me faz achar o que eu perdi e me aborrece quando os desencontros se repetem - como é ruim saber que, de novo não vão cumprir o que me prometeram

sábado, 11 de junho de 2011

Almanaque de Neurologia – Memória e Afeto
Nubor Orlando Facure

Moléculas de memória existem?
Já se conhece uma proteína conhecida como CREB que é responsável pela consolidação das nossas memórias.
A gente faz uma viagem de férias, conhecendo lugares que não quer esquecer jamais. O que acontecerá no cérebro?
A proteína CREB ativará os genes que indicarão a síntese de proteínas que vão estabelecer novas sinapses - estou, assim, construindo minhas memórias, as mais duradouras, de curto e longo prazo.
Não convém, porém, comprometer minha "caixa de memórias" com toda informação que me atinge - somos incomodados por muita informação inútil:
A televisão que mostra cenas de notícias desagradáveis
Meu telefone toca e é engano
Na caixa do carteiro foi colocado uma propaganda de encanador
Uma informação no celular me propõe concorrer para ganhar um carro
Felizmente, nossa salvação é outra proteína, a CREB-2, ela é uma proteína supressora da memória, limitando a transferência de uma informação rápida, como aquela desagradável que vi televisão, para minha memória de longa duração. Nada justifica que eu guarde essas cenas.
Portanto, meu próprio cérebro me livra do lixo que passa por mim todo dia


O que memorizar, então?
Nosso cérebro está recebendo estímulos continuamente - que escolha devemos fazer?
Primeiro, valorizar - questionando se essa ou aquela informação é importante
Isso depende do que cada coisa significa para nós - Uma banda inglesa vai se apresentar no Morumbi, a mídia informa os dias, os horários e até mesmo o repertório - eu não vou nem de graça, mas, qualquer um dos meus netos corre atrás de todas essas informações e por muito tempo esse será um tema inesquecível para eles.
Já está demonstrado que é a emoção que, faz escolhas, edita, atualiza ou revisa as memórias que precisamos guardar




Aprender com afeto
Na relação com os pais, possuindo um cérebro infantil ainda imaturo, a criança aprende a usar os recursos do cérebro dos pais. Suas dificuldades, suas deficiências, suas incapacidades são supridas com as facilidades que os pais põem à sua disposição
Os pais têm de fazer o que a criança ainda não faz
É do senso comum de que eles não podem estar fazendo tudo, solucionando problemas que a criança precisa aprender a lidar por conta própria
As emoções da criança, também, são amadurecidas de comum acordo no jogo dessas transações emocionais.
Uma hora os pais aprovam e noutra repelem, ensinando à criança o que pode e o que não pode fazer



Relações emocionais - a direção do afeto
No decorrer da vida é fundamental termos alguma forma de relacionamento afetivo. A construção desses relacionamentos nos dois ou três primeiros anos de vida constrói aquela criança que no futuro vai saber lidar com emoções positivas ou negativas, com suas frustrações, suas perdas, suas conquistas sociais ou suas separações traumáticas.
As mães, as cuidadoras ou qualquer um que exerça o papel de protetor precisam saber quais "sinais" a criança usa para pedir ajuda.
Precisamos antes de qualquer justificativa, aprender a oferecer acolhimento à criança



Afeto simétrico e assimétrico
Joaozinho e Maria estão namorando e o Pedrinho e a Renata são apenas amigos Esses são casos de relacionamento simétrico - dividem por igual necessidades e apoio, dúvidas e certezas. Eles aprendem uns com os outro, acertam e erram juntos. Estão no mesmo nível de experiência.
Entre eu e minha professora, minha terapeuta, meu médico ou meus pais, mantemos uma relação afetiva assimétrica Eles tem muito a me ensinar, são mais experientes que eu. Precisam, porém, ter sensibilidade para perceber meus sinais de carência, de necessidades, de insegurança e de pedir apoio

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Contar histórias para construir a mente
Nubor Orlando Facure


A memória e as narrativas da criança

Minha bisneta às vezes me visita na sala de consultas. Tem um pouco mais de um ano e cada vez que vai me ver ela sabe direitinho onde está cada um dos brinquedos e enfeites que tenho na sala. A boneca pretinha, o gatinho e o cachorrinho são os seus preferidos, ela os aponta e chega a nomeá-los. Está construindo aos poucos a sua memória declarativa
Uma criança mais velha, com mais de dois anos, além de aprender a reconhecer os objetos, já começa a fazer uma narrativa dos acontecimentos vividos por ela - é aquela sugestão que os pais fazem: "conte pro vovô onde você foi hoje"
Nas narrativas ela tem de mobilizar sua imaginação e os conteúdos de sua memória. Um caso após o outro que ela vai narrando, vão construindo seus mundos internos e conscientes.
Resumidamente, estamos querendo dizer que nossa mente é construída dos casos que vivemos e que depois contamos para os outros


A experiência social e sua narrativa

Saindo de casa começamos a descobrir os outros mais intensamente. Primeiro na escola, depois na academia de ginástica, no curso de línguas, no clube social ou, nos diversos ambientes do lugar onde nascemos e onde desenvolvemos os contatos interpessoais - o contato com os outros tende a desenhar muitas das características da nossa mente - basta uma visita à Bahia para percebermos isso - as características da Alma baiana
As narrativas sociais são compostas de regras e expectativas culturais que compartilhamos com nossos semelhantes - a criança começa a aprender o significado dos diversos acertos e desvios socais: não responder mal aos pais, não faltar às aulas, não pegar objetos dos coleguinhas, levar um presente no aniversario dos amigos, agradecer o que ganha dos outros.
Para mim existe uma "mente social" - podemos ver isso nas características de cada povo com sua cultura e suas exigências sociais - a "mentalidade" feminina e masculina muda tremendamente de Dubai para o Rio de Janeiro.


A mente e as narrativas nos sonhos

Cada dia nos oferece novos episódios de aprendizado - alguns deles podem ser traumáticos, como uma agressão na escola, uma ameaça na rua, um acidente no trânsito, um desastre natural que a tempestade provocou, uma nota ruim que tem de ser mostrada aos pais - outros, são de uma alegria inesquecível, a festa de aniversário, o passeio no Hoppy Hari, uma viagem com amigos, o baile de formatura ou a vitória do nosso time.
A noite a gente sonha com tudo isso - a vantagem dos sonhos é que eles nos permitem uma narrativa totalmente incoerente e desconexa - podemos misturar nossas várias modalidades de sentidos - vejo sangue na comida, um vento frio na cama, soldados saindo da igreja, animais distorcidos, amigos amontoados numa carroça, crianças que flutuam, há mãos que crescem e olhos que saem do lugar - não há conexão temporal já que as coisas de hoje se misturam com fatos de anos atrás. Minha casa é a mesma, mas, as ruas para chegar até ela, são as do meu tempo de criança quando morava em Minas.
Os cientistas dizem que os sonhos consolidam as nossas memórias. Particularmente eu acho que os meus sonhos fazem uma "poda" nas memórias que eu não preciso guardar - as historias do que sonhei essas não ficam comigo.

Lição de casa
Viva suas experiências, conte os seus casos, faça as suas narrativas livremente, vai lhe fazer bem - talvez até lhe previna contra o Alzheimer.