sexta-feira, 3 de junho de 2011

Contar histórias para construir a mente
Nubor Orlando Facure


A memória e as narrativas da criança

Minha bisneta às vezes me visita na sala de consultas. Tem um pouco mais de um ano e cada vez que vai me ver ela sabe direitinho onde está cada um dos brinquedos e enfeites que tenho na sala. A boneca pretinha, o gatinho e o cachorrinho são os seus preferidos, ela os aponta e chega a nomeá-los. Está construindo aos poucos a sua memória declarativa
Uma criança mais velha, com mais de dois anos, além de aprender a reconhecer os objetos, já começa a fazer uma narrativa dos acontecimentos vividos por ela - é aquela sugestão que os pais fazem: "conte pro vovô onde você foi hoje"
Nas narrativas ela tem de mobilizar sua imaginação e os conteúdos de sua memória. Um caso após o outro que ela vai narrando, vão construindo seus mundos internos e conscientes.
Resumidamente, estamos querendo dizer que nossa mente é construída dos casos que vivemos e que depois contamos para os outros


A experiência social e sua narrativa

Saindo de casa começamos a descobrir os outros mais intensamente. Primeiro na escola, depois na academia de ginástica, no curso de línguas, no clube social ou, nos diversos ambientes do lugar onde nascemos e onde desenvolvemos os contatos interpessoais - o contato com os outros tende a desenhar muitas das características da nossa mente - basta uma visita à Bahia para percebermos isso - as características da Alma baiana
As narrativas sociais são compostas de regras e expectativas culturais que compartilhamos com nossos semelhantes - a criança começa a aprender o significado dos diversos acertos e desvios socais: não responder mal aos pais, não faltar às aulas, não pegar objetos dos coleguinhas, levar um presente no aniversario dos amigos, agradecer o que ganha dos outros.
Para mim existe uma "mente social" - podemos ver isso nas características de cada povo com sua cultura e suas exigências sociais - a "mentalidade" feminina e masculina muda tremendamente de Dubai para o Rio de Janeiro.


A mente e as narrativas nos sonhos

Cada dia nos oferece novos episódios de aprendizado - alguns deles podem ser traumáticos, como uma agressão na escola, uma ameaça na rua, um acidente no trânsito, um desastre natural que a tempestade provocou, uma nota ruim que tem de ser mostrada aos pais - outros, são de uma alegria inesquecível, a festa de aniversário, o passeio no Hoppy Hari, uma viagem com amigos, o baile de formatura ou a vitória do nosso time.
A noite a gente sonha com tudo isso - a vantagem dos sonhos é que eles nos permitem uma narrativa totalmente incoerente e desconexa - podemos misturar nossas várias modalidades de sentidos - vejo sangue na comida, um vento frio na cama, soldados saindo da igreja, animais distorcidos, amigos amontoados numa carroça, crianças que flutuam, há mãos que crescem e olhos que saem do lugar - não há conexão temporal já que as coisas de hoje se misturam com fatos de anos atrás. Minha casa é a mesma, mas, as ruas para chegar até ela, são as do meu tempo de criança quando morava em Minas.
Os cientistas dizem que os sonhos consolidam as nossas memórias. Particularmente eu acho que os meus sonhos fazem uma "poda" nas memórias que eu não preciso guardar - as historias do que sonhei essas não ficam comigo.

Lição de casa
Viva suas experiências, conte os seus casos, faça as suas narrativas livremente, vai lhe fazer bem - talvez até lhe previna contra o Alzheimer.

Um comentário:

  1. Prezado Nubor

    Parabens pelos seus posts!

    Ademir Xavier
    eradoespirito.blogspot.com
    spiritistknowledge.blogspot.com

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