sábado, 26 de março de 2016

Como aprendi a estudar ?

Como aprendi a estudar?
Nubor Orlando Facure

1 – Quase tudo que aprendi foi fora da sala de aula
Gostaria tanto de ter tido aula no páteo da escola, no gramado, no jardim de inverno, no banheiro, na sala da Diretora, na oficina de reparos – eram nesses lugares que estavam toda a minha curiosidade
2 – A professora não deixava a gente conversar
Só podia tirar dúvidas com ela
Deixei tanta coisa para traz sem perguntar
Tantos colegas que eu queria reencontrar hoje e ter olhado as soluções nos cadernos deles
3 – Adorava ouvir histórias
Mas eu queria mesmo é ser os personagens
Queria ser heroi
Defender a princesa
Prender o lobo mau
Voar com o Peter Pan
Saber o que sobrou da perna do Saci Pererê
4 – Eu li os livros da escola
É uma pena que a professora não deixava a gente mudar o enredo dos textos
Eu queria escrever: 
“O Grande Príncipe”
“A Emília e o Pedrinho na Disney”
A festa no Céu ao invés de bixos eu ia enxer de crianças
O anoinzinhos da Branca de Neve iam ser todos escoteiros
5 – Sempre tirei notas boas
Até hoje não sei o que isso significava
Os alunos mais conhecidos na Escola nunca se importavam com a nota
Eu queria mesmo é que meus colegas pudessem dar notas
A aprovação dos colegas tinha mais valor que a das professoras
6 – Já fiz “trabalho em Grupo”
Adorei – na verdade a gente mais conversava que trabalhava mas, nunca se esquece da casa do colega onde a gente ia se reunir para trabalhar o texto
Não gostava das notas que a professora dava ao trabalho achava mais justo se ela perguntasse se valeu a pena todo esforço que fizemos juntos
7 – Meus melhores momentos foram os dias de exposição
O que isso significava?
Os alunos enxiam as paredes de cartazes – Meio Ambiente, Nossas Indústrias, o Valor da Água, as Criaçoes nas Fazendas, a Mata e os Rios de Minas Gerais
8 – Conheci dois irmãos que a Professora falava que tinham deficiência – a mãe era idosa e sofria da Tireoide – o meninos naceram “retardados”
Eram o Jony e a Janice – a Escola mandava os Agentes de ensino levar as provas do fim de mês, mas quem ensinava mesmo era a Cotinha, empregada deedicada que eles tinham em casa. Muitos de nós aprendeu a Taboada foi mesmo é com a Cotinha – como seria bom a gente dispor de mais professores na casa da gente com o talento da Cotinha

 


sábado, 12 de março de 2016

Entre o bem e o Mal


Entre o Bem e o Mal
Nubor Orlando Facure

Dimas aparentava extremo cansaço naquela tarde. Havia passado por mais um dia de trabalho extenuante recolhendo tâmaras para o mercado, tosquiando ovelhas para tecer, guardando o leite das cabras, empilhando a sacaria de trigo e, apressado se despedia do senhor que lhe dava emprego para ir correndo até sua casa à meia hora de distância
Era ali que ainda tinha de recompor suas forças para fazer a higiene e dar um pouco de pão, pimenta e ervas para duas irmãs que a febre do Egito havia prostrado na cama, por anos dolorosos e atribulados.
Sua mãe tivera 5 filhos e veio a falecer pela hemorragia incontrolável no seu último parto quando nasceram as gêmeas irmãs de Dimas. O pai, em desespero passou a sofrer de uma loucura desconhecida e incontrolável que o levou a perambular pelos caminhos do deserto – Vagava da Judéia até a Síria maltrapilho e faminto
Dimas cresceu no trabalho tentando a duras penas suprir as necessidades das irmãs e cumprir seus compromissos no Templo
Ouvira falar da visita de um carpinteiro nas cidades vizinhas de Jerusalém e das lições de bondade que pregava – mas, a maioria dos sacerdotes o condenava por se interessar por Alguém que estava provocando a ira dos Fariseus – trabalhando aos sábado, misturando-se com bandidos e não se envergonhando de sentar para comer com as mulheres pecadoras – ensinava perdoar aos inimigos e pagar os impostos devidos a César.
Naquela tarde ele saiu mais sedo do serviço dirigindo-se até as vizinhanças do Templo onde centenas de mercadores trocavam sua mercadoria trazidas das terras longínquas da Grécia, do Egito e da Turquia
De repente, ele vê uma bolsa de moedas displicentemente largada ao lado da mesa de um comerciante. Quem sabe com esse dinheiro ele poderia levar um pouco da carne de carneiro que suas irmãos nunca haviam provado. Mal conseguiu esconde-la debaixo da camisa quando um soldado truculento o esbofeteia jogando-o ao chão. Esse crime seria punido com a escravidão nas galeras ou a morte na cruz.
Na manhã daquela sexta-feira ele recapitula as lições que aprendera no Templo, não matarás, não dizer falso testemunho, não desejar a mulher alheia e não roubar, o jumento, as sandálias e o dinheiro do próximo. As lágrimas lhe escorriam misturados com o suor do arrependimento, a respiração era ofegante, ele já não suportava esse suplício por mais tempo pendurado na madeiro da cruz.
Aos poucos vê aproximar-se a multidão que vocifera exigindo a morte de mais outro condenado. Só que Ele não reage, não clama por misericórdia, não esconjura seus algozes. Dimas consegue ver em seus olhos o brilho de quem perdoava a ignorância e a incredulidade humana. Séculos vão passar até que se compreenda a monstruosidade dessa injustiça com quem era o próprio amor encarnado pregando a misericórdia e a mansidão
Dimas queria ter um minuto mais de forças para erguer sua voz e perguntar: afinal quem sois? 
Desfalecente ainda conseguiu ouvir: não se preocupe, ainda hoje estaremos juntos no meu Reino – de lá você atenderá as necessidades das sua irmãs, há muito trabalho a fazer