Entre o Bem e o Mal
Nubor Orlando Facure
Dimas aparentava extremo cansaço naquela tarde. Havia passado
por mais um dia de trabalho extenuante recolhendo tâmaras para o mercado, tosquiando
ovelhas para tecer, guardando o leite das cabras, empilhando a sacaria de trigo
e, apressado se despedia do senhor que lhe dava emprego para ir correndo até
sua casa à meia hora de distância
Era ali que ainda tinha de recompor suas
forças para fazer a higiene e dar um pouco de pão, pimenta e ervas para duas
irmãs que a febre do Egito havia prostrado na cama, por anos dolorosos e
atribulados.
Sua mãe tivera 5 filhos e veio a falecer pela hemorragia
incontrolável no seu último parto quando nasceram as gêmeas irmãs de Dimas. O
pai, em desespero passou a sofrer de uma loucura desconhecida e incontrolável
que o levou a perambular pelos caminhos do deserto – Vagava da Judéia até a
Síria maltrapilho e faminto
Dimas cresceu no trabalho tentando a duras penas suprir
as necessidades das irmãs e cumprir seus compromissos no Templo
Ouvira falar da
visita de um carpinteiro nas cidades vizinhas de Jerusalém e das lições de
bondade que pregava – mas, a maioria dos sacerdotes o condenava por se
interessar por Alguém que estava provocando a ira dos Fariseus – trabalhando
aos sábado, misturando-se com bandidos e não se envergonhando de sentar para
comer com as mulheres pecadoras – ensinava perdoar aos inimigos e pagar os
impostos devidos a César.
Naquela tarde ele saiu mais sedo do serviço
dirigindo-se até as vizinhanças do Templo onde centenas de mercadores trocavam
sua mercadoria trazidas das terras longínquas da Grécia, do Egito e da Turquia
De
repente, ele vê uma bolsa de moedas displicentemente largada ao lado da mesa de
um comerciante. Quem sabe com esse dinheiro ele poderia levar um pouco da carne
de carneiro que suas irmãos nunca haviam provado. Mal conseguiu esconde-la
debaixo da camisa quando um soldado truculento o esbofeteia jogando-o ao chão.
Esse crime seria punido com a escravidão nas galeras ou a morte na cruz.
Na
manhã daquela sexta-feira ele recapitula as lições que aprendera no Templo, não
matarás, não dizer falso testemunho, não desejar a mulher alheia e não roubar,
o jumento, as sandálias e o dinheiro do próximo. As lágrimas lhe escorriam
misturados com o suor do arrependimento, a respiração era ofegante, ele já não
suportava esse suplício por mais tempo pendurado na madeiro da cruz.
Aos poucos
vê aproximar-se a multidão que vocifera exigindo a morte de mais outro
condenado. Só que Ele não reage, não clama por misericórdia, não esconjura seus
algozes. Dimas consegue ver em seus olhos o brilho de quem perdoava a
ignorância e a incredulidade humana. Séculos vão passar até que se compreenda a
monstruosidade dessa injustiça com quem era o próprio amor encarnado pregando a
misericórdia e a mansidão
Dimas queria ter um minuto mais de forças para erguer
sua voz e perguntar: afinal quem sois?
Desfalecente ainda conseguiu ouvir: não
se preocupe, ainda hoje estaremos juntos no meu Reino – de lá você atenderá as
necessidades das sua irmãs, há muito trabalho a fazer
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