Para quem gosta de histórias da
medicina e histórias da vida
Nubor Orlando Facure
A Igrejinha de Santa Rita
Chamavam Uberaba de “a cidade de 7
colinas” e no alto de uma delas, de onde se pode ver o Mercadão Santa Rita foi
homenageada com uma igrejinha construída com a simplicidade do nosso período
colonial. Nas sua escadarias singelas já fui surpreendido namorando a Maria
Joana, enfermeira do nosso chefe de cirurgia – eram “artes” que a gente faz
quando tem 20 anos – final de 1960
O Hospital das Crianças
Quero destacar que foi o primeiro
hospital infantil do Brasil, construído pelo Rotary Club que meu pai
frequentava
Saindo da Faculdade de Medicina
caminha-se uns tantos quarteirões, subimos a ladeira da igreja Santa Rita e,
pronto, estamos no Hospital das Crianças. Eu estava lá, aproveitando as férias
do segundo ano da Faculdade. Meu pai me queria como pediatra, mas, naquela
manhã de quinta feira o “pepinho”, colega de turma, me levou até ao Hospital
São José para assistirmos as cirurgias. Estávamos na sala dos médicos quando a
enfermeira chefe entra avisando que o Dr. Guerra, neurocirurgião, iria precisar
de auxiliar para fazer uma cirurgia numa criança de 3 anos. Não me dei conta
que todos alunos saíram apressados, sobrando eu na sala.
Hospital São José
No maior susto do mundo, daí meia
hora, estávamos só Dr. Guerra e eu na sala de cirurgia, preparando a criança
para ser operada – uma cirurgia que ia durar 15 hora e, só aí, me dei conta porque todo mundo fugiu da sala
dos médicos. Era um tumor no cerebelo, a paciente seria operada de barriga para
baixo.
Pasmem, naquele tempo não existia
anestesista, o Dr. Hirogi e o Dr. Wandir, ambos da cirurgia geral, vieram para se
revezarem no papel de anestesistas.
O trabalho neurocirúrgico é
minucioso, horas seguidas lidando num único ponto do tumor, as horas passam e a
gente já não percebe as pernas, as costas ficam adormecidas e a visão não
enxerga mais nada dos lados, os olhos não podem desgrudar dos vasos que
sangram. Altas horas da noite o banco de sangue já está fechado e a criança
precisa de mais transfusões.
Não se espantem com o que eu vou
lhes contar: foram chamados os dois alunos do plantão noturno o Ivo e o
Hiroshi. Um por vez deitou numa maca ao lado da criança e com uma seringa alemã
era aspirado o sangue do aluno e empurrando a seringa esse sangue ia para a
veia da menina.
Alta madrugada terminamos a
cirurgia exaustos, eu quero um chão para deitar, não precisa nem cama, me deem
um tempo para descansar as pernas.
Impossível esquecer essa
experiência extenuante e a lição que aprendemos a seguir. Relaxamos, e deixamos
o anestesista virar a paciente - nesse momento ela tem uma parada cardíaca e
morre ali na nossa frente.
Passei o resto da vida lutando para
empurrar essa morte para longe dos pacientes que eu fui operando depois
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