A casa caiu
Nubor Orlando Facure
O chefe da Neurocirurgia era
severo, com uma postura médica impecável, observador rigoroso, extremamente
dedicado ao trabalho e, naquele ambiente
acadêmico a hierarquia jamais poderia ser desobedecida. Não era um regime militar,
era um respeito conquistado pela competência e experiência dele e de seus
assistentes.
Quando ele destacava alguém apara
realizar uma cirurgia de tumor cerebral era um atestado de competência que os
assistentes se vangloriavam por alguns dias até que seu nome saísse na escala
determinando a hora da intervenção.
Na segunda feira, antes das 6, já
estava o Dr. Carlos a postos com a equipe para a exérese de um tumor frontal
esquerdo – nesse dia eu estava comprometido com atividades na enfermaria – não
vi o que se passou na sala de cirurgia.
Na terça feira tínhamos a visita de
rotina acompanhando o Professor Tenuto indo a um por um dos casos internados.
Naquela UTI, na verdade um quarto improvisado, estava o paciente operado pelo
Dr. Carlos – Normalmente o assistente que operava relatava com certo orgulho o
sucesso dos seus procedimentos – nesse dia porém, iniciou-se a conversa com um
silêncio sepulcral – Dr. Carlos anuncia com uma voz cavernosa que fez todo
mundo tremer – “Professor, eu não achei o tumor” – ninguém teria coragem de
abrir a boca naquele momento, fazer pergunta?
nem por telepatia – o que fazer? Porque ele não achou o tumor? Um
meningeoma, é a coisa mais fácil do mundo, eu pensei comigo.
O que se passou a seguir eu invejo
até hoje, o Professor Tenuto, com a maior calma do mundo, calma essa que eu
nunca consegui adquirir nos meus 48 anos de atividade, todos ainda estávamos
tremendo e sem voz quando ele diz: marque a cirurgia para amanhã cedo. O
Professor Tenuto foi saindo e, no último sinal de vida lúcida o Dr. Carlos teve
força hercúlea para perguntar: “o que o senhor acha que aconteceu”? Olhando
para traz, parecia fixar diretamente os olhos de cada um de nós, o professor
diz secamente – você operou do lado errado -
Moral da história:
Só não erra quem não opera
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