sábado, 12 de janeiro de 2013

A casa caiu


A casa caiu
Nubor Orlando Facure

O chefe da Neurocirurgia era severo, com uma postura médica impecável, observador rigoroso, extremamente dedicado ao trabalho  e, naquele ambiente acadêmico a hierarquia jamais poderia ser desobedecida. Não era um regime militar, era um respeito conquistado pela competência e experiência dele e de seus assistentes.
Quando ele destacava alguém apara realizar uma cirurgia de tumor cerebral era um atestado de competência que os assistentes se vangloriavam por alguns dias até que seu nome saísse na escala determinando a hora da intervenção.
Na segunda feira, antes das 6, já estava o Dr. Carlos a postos com a equipe para a exérese de um tumor frontal esquerdo – nesse dia eu estava comprometido com atividades na enfermaria – não vi o que se passou na sala de cirurgia.
Na terça feira tínhamos a visita de rotina acompanhando o Professor Tenuto indo a um por um dos casos internados. Naquela UTI, na verdade um quarto improvisado, estava o paciente operado pelo Dr. Carlos – Normalmente o assistente que operava relatava com certo orgulho o sucesso dos seus procedimentos – nesse dia porém, iniciou-se a conversa com um silêncio sepulcral – Dr. Carlos anuncia com uma voz cavernosa que fez todo mundo tremer – “Professor, eu não achei o tumor” – ninguém teria coragem de abrir a boca naquele momento, fazer pergunta?  nem por telepatia – o que fazer? Porque ele não achou o tumor? Um meningeoma, é a coisa mais fácil do mundo, eu pensei comigo.
O que se passou a seguir eu invejo até hoje, o Professor Tenuto, com a maior calma do mundo, calma essa que eu nunca consegui adquirir nos meus 48 anos de atividade, todos ainda estávamos tremendo e sem voz quando ele diz: marque a cirurgia para amanhã cedo. O Professor Tenuto foi saindo e, no último sinal de vida lúcida o Dr. Carlos teve força hercúlea para perguntar: “o que o senhor acha que aconteceu”? Olhando para traz, parecia fixar diretamente os olhos de cada um de nós, o professor diz secamente – você operou do lado errado - 
Moral da história:
Só não erra quem não opera

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