Reciclagem no cérebro
Nubor Orlando Facure
Diante de contrariedades ensina o
dito popular a “fazermos das tripas o coração “ , é mais ou menos isso que fez
o cérebro humano. Afinal a gente já tinha feito os ossinhos dos ouvidos a
partir dos ossos da mandíbula. Aprendemos, também, que quem não tem cão caça
com gato.
Afinal, o organismo humano
formou-se a partir de um animal que desceu das árvores onde comia frutas e que
passou a andar na savana onde aprendeu a correr atrás de caça para comer carne.
Foi importante erguer a cabeça, prestar atenção, olhar em volta os pequenos
sinais de perigo, identificar rapidamente uma ameaça, um parceiro para ajudar
na briga ou uma fêmea para acasalar como qualquer outro mamífero.
O cérebro expandiu uma área na base dos dois
lobos temporais que chamamos giros fusiformes que foram se especializando em
reconhecer rostos. Como nos computadores modernos, essa área usa uma memória
flash, esse reconhecimento tem de ser muito rápido por questões de
sobrevivência. Com isso foi preciso simplificar – não interessa se estamos
vendo o rosto do lado direito ou do seu lado esquerdo, a fera que nos ameaça
pode não nos dar tanto tempo assim para correr. Até uma criança pequena pode
identificar, reconhecer o rosto da sua mãe independente de vê-lo de frente, de
perfil, de cabeça para baixo, com uma mancha vermelha do lado, com cabelos
curtos ou cumpridos, até com um olho a menos. A especialização chegou a um tal
ponto de especificação que muito de nós pode ter se dado ao luxo de ter reservado
um neurônio para identificar o rosto da Angelina Joli ou da Juliana Paes –
gosto não se discute.
Passam-se os milênios e o Homem expande seus grupos
sociais, se vê forçado a estabelecer um código de comunicação – que as gerações
subsequentes poderiam repetir uns com os outros – construindo a linguagem
falada com fonemas, palavras e frases, dando um significado aos objetos e às
suas ações - área cerebral para ouvir ele já tinha, aproveitou seus neurônios
motores da região da garganta e da boca para expressar os sons da fala.
O Homem que quer sempre mais,
inventou a escrita
Aqueles pequenos traços das
pinturas que sabia fazer podiam ser organizados em símbolos com significados,
eles tinham linhas retas, traços, curvas e ângulos, como um rosto – portanto
aproveitava-se aquelas áreas fusiformes para seu aprendizado - a mão direita
(Hemisfério esquerdo) tracejava o desenho das letras, o som e a fala também
saiam do cérebro esquerdo – lobo temporal e frontal – mas, eis que de repente
“deu zebra” - o Hemisfério Direito que
aprendeu a reconhecer um rosto, que, em
qualquer posição é sempre o mesmo rosto,
passou a incomodar – ele via e reconhecia as letras mas, não sabia de
que lado estava vendo – então as letras b e d para o lado direito são as mesmas;
p e q também; MA e AM são iguais – nasceu a dislexia