segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Transformações sociais
Nubor Orlando Facure

Admite-se que o homem é um animal social e que sua sociedade está em constante transformação. Embora estas mudanças ocorram muito rápidamente, talvez de uma geração para a outra seja possível registrar-se históricamente grandes mudanças sociais que marcaram época.
Os períodos de transformação mais marcantes estão relacionados com as grandes descobertas ou com as revoluções nos paradigmas vigentes.
A revolução tecnológica e industrial se iniciou com o domínio do fogo e das técnicas de agricultura causando as primeiras grandes renovações no comportamento social do ser humano. A agricultura fixou o homem em pontos estratégicos garantindo uma subsistência mais duradoura.
Ao desfrutar de interesses comuns, ele se organizou socialmente e passou a defender com mais empenho o seu território.
A descoberta da imprensa, da máquina à vapor, do motor à combustão, do rádio, do cinema, do telefone, do computador, entre outras, provocou transformações vultosas exigindo novas sistemáticas de organização para o trabalho e para a hierarquia da sociedade. Estas conquistas instrumentalizaram o homem permitindo que ele multiplique sua força, amplie sua velocidade, economize seu tempo, difunda suas idéias, divulgue seus costumes e, enfim, concretize seus sonhos.
A revolução dos paradigmas científicos que ocorreu em épocas diversas repercutiu também no comportamento e nos costumes das sociedades humanas. René Descartes separa definitivamente o corpo da alma.
Copérnico desmistifica a Terra como centro do Universo. Galileu Galilei visualiza com lunetas os planetas e seus satélites e inaugura a experimentação científica sistematizada.
Charles Darwin desloca o homem do centro da criação e descobre como se hierarquiza o desenvolvimento da vida na Terra. Isaac Newton descreve as leis fundamentais do movimento e da atração e repulsão entre os corpos descobrindo a Lei da Gravidade, e Albert Einstein disseca a anatomia da luz, expõe a relatividade do tempo e do espaço e identifica a matéria como energia condensada.
Por meio da ciência, o homem se transforma reinterpretando o mundo em que vive modificando suas relações com o meio ambiente e com o seu semelhante.
Por outro lado, enquanto ser social, o homem tem sempre um comportamento político. É por meio da política que ele estabelece e impõe a hierarquia de poderes. Este poder tem sido exercido quase sempre de maneira autoritária, centralizadora, subjugando povos inteiros e manipulando a consciência humana, impondo regras para os costumes e os comportamentos sociais, mesmo assim, e apesar disso, o livre arbítrio e a liberdade individual tem sido o ideal e a esperança desejada por todos os povos. Sempre que estas condições deixaram de ser respeitadas, ultrapassando-se o grau de liberdade, o direito de cada um e as tradições de cada povo, o homem se aviltou e a sua sociedade sucumbiu.
Talvez, angustiado pela sua fragilidade e perplexo diante da natureza que o cerca, o homem desenvolveu um caráter místico e transcendente. Ao criar suas tradições e crenças religiosas ele estabeleceu regras que disciplinaram a ética e a moral, fazendo-o distinguir o comportamento certo do errado e o objeto sagrado do profano.
Porém, a maioria das religiões que deveriam abrir a mente humana favorecendo as conquistas para todos, quase sempre se constituiu em doutrinas sectárias que estabeleceram limites rígidos de liberdade física e psicológica. E quase todas criaram um sistema de troca de favores com Deus ou com suas divindades, ignoraram o princípio de igualdade entre os homens perante Deus, estabelecendo um sistema hierárquico entre seus sacerdotes e uma escala de privilégios entre seus seguidores.
Por isso, ainda hoje, o fanatismo religioso serve de argumento para oprimir e segregar a mulher nos países muçulmanos, para separar em dezenas de grupos o mesmo povo na Índia ou para guerrear e matar na Palestina.
Na atualidade, uma transformação social profunda por meio de religião só ocorrerá quando cada um por si mesmo realizar sua reforma interior, o homem terá que desenvolver sua segurança por meio da sua autoconfiança. Ele terá que se libertar das amarras culturais e dos preconceitos, de mitos e crendices e dos estigmas sociais. Ele terá que saber que pode aprender de tudo, mas só deverá vivenciar o melhor.
Ele terá que evoluir por experiência própria e decidir por si mesmo os seus caminhos e as companhias. Suas relações com seus semelhantes e com o meio em que respira e a vida deverão ser de cordialidade, de cooperação, de parceria solidária uns com os outros. Por enquanto, o homem ainda vive e convive com os mesmos costumes primitivos que coloca uns contra os outros na disputa do poder, na ostentação de valores materiais ou na permissividade de vícios ou paixões sem limites. Nas últimas décadas, transformações sociais gigantescas e rápidas ultrapassaram qualquer controle político ou cultural. Curiosamente, ao lado de ganhos tecnológicos espantosos, o homem atual vive um paradoxo de perdas morais. Dispondo de conhecimentos para alimentar todos os que têm fome, ele se saceia à fartura, aumentando a mortalidade pela obesidade por comer demais.
Contando com a pílula para controlar a concepção ele descontrola a licenciosidade sexual e aumenta o número de adolescentes grávidas. Conhecendo as drogas que sanearam a loucura esvaziando os hospícios, aumentam os que consomem drogas na rua exigindo pela violência que, os que são sadios, se tranquem em casa para não morrer. Decodificando o DNA para identificar com precisão a paternidade, desconhecemos qualquer código moral que nos oriente no que fazer com milhares de embriões de proveta que permanecerão sem pai.
Mesmo conhecendo os primores da técnica cirúrgica que embeleza, optamos, muitas vezes, por matar um feto malformado. O mesmo “laser” que “opera” na sala de cirurgia para salvar vidas é usado para matar nas “operações de guerra”. A televisão que difunde cultura e divertimento ensina técnicas para matar, os golpes para roubar, as mentiras para enganar, estimula o sexo sem compromisso e exalta a família dissoluta, desunida, sem raízes e que debocha das tradições. O computador hoje está no endereço de todas as casa, a Internet destina a correspondência a todos os cantos da Terra, mas o homem parece que perdeu o endereço da sua consciência, do seu Deus e possivelmente do seu futuro.
Permanecemos com a mesma fragilidade de antes porque sabemos escrever apenas a história do nosso ontem. Já desvendamos milhões de anos sobre o nosso comportamento social, na mais remota antiguidade e nos dias contemporâneos, mas somos incapazes de determinar com certeza como será nosso próximo minuto, e muito menos o nosso amanhã.
Resta-nos a esperança de uma nova era de transformações sociais mais profundas, que está para ocorrer com base nos valores transcendentes do ser humano e com direito a todos de usufruí-la.

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