Ainda assim é preciso você
Nubor Orlando Facure
O esforço tecnológico
O computador realiza cálculos extraordinários, superior a qualquer esforço humano - ainda assim é preciso o homem que lhe instale os programas
O automóvel encurta distâncias com enorme velocidade, ainda assim não pode dispensar o motorista
O celular ti põe em contacto com o mundo todo em questão de segundos, mesmo assim existe alguém conversando de um lado com o outro
Milhares de homens estão no comando de aviões, outros tantos são mobilizados para que todos vejam a Televisão - nada ocorre sem dedicação e esforço de muitos
Livros e jornais são escritos informando, ensinando ou divertindo leitores pelo mundo todo. - nesse gigantesco trabalho é fácil perceber o esforço de gente especializada
Máquinas extraordinárias são instaladas em pacientes perigosamente doentes nos hospitais, mesmo assim elas não se tornam úteis sem a vigilância permanente de um médico
O esforço individual
Você estudou, cursou faculdade, fez cursos avançados, mesmo assim, é sua própria dedicação que lhe permitirá o sucesso
Você trabalha, cumpre horários, obedece a normas de segurança, faz por merecer seu salário - e todo esse esforço contou iniciativas suas
Para manter sua saúde você obedece a dietas, faz exercícios, procura o médico para exames e, tudo isso decorre da sua disposição para se cuidar
A família exige cuidados diversos, as crianças freqüentam escola, as contas bancárias não permitem qualquer descuido - os deveres são muitos e é você que está à frente, praticamente sem descanso
Lição de casa
A Vida fará exigências que só você pode cumprir
quinta-feira, 23 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Minha vida noutra vida
Nubor Orlando Facure
Onde será que eu já vivi?
Foi onde eu pude ensinar - adoro alunos, explicações, argumentos, para tornarem fácil o que é difícil
Foi onde encontrei uma família - sou caseiro, sou parceiro, trabalho o dia inteiro, não sou festeiro nem cozinheiro, por isso que dessa vez nasci "mineiro"
Foi onde tinha crianças - elas me comovem, hoje em dia elas já nascem sabendo de tudo, seu estoque de perguntas é inesgotável, elas me permitem, porém, recriar o mundo à minha volta e comigo participam dessa fantasia
Foi onde tinha livros - adoro ler
Foi onde tinha sossego - nunca entro numa briga
Foi onde tinha gente para me ouvir - adoro contar causos
Foi onde achei minha esposa, meus filhos, meus netos, minha bisneta, para estar hoje aqui com eles outra vez
Nubor Orlando Facure
Onde será que eu já vivi?
Foi onde eu pude ensinar - adoro alunos, explicações, argumentos, para tornarem fácil o que é difícil
Foi onde encontrei uma família - sou caseiro, sou parceiro, trabalho o dia inteiro, não sou festeiro nem cozinheiro, por isso que dessa vez nasci "mineiro"
Foi onde tinha crianças - elas me comovem, hoje em dia elas já nascem sabendo de tudo, seu estoque de perguntas é inesgotável, elas me permitem, porém, recriar o mundo à minha volta e comigo participam dessa fantasia
Foi onde tinha livros - adoro ler
Foi onde tinha sossego - nunca entro numa briga
Foi onde tinha gente para me ouvir - adoro contar causos
Foi onde achei minha esposa, meus filhos, meus netos, minha bisneta, para estar hoje aqui com eles outra vez
Seu Bebê já sabe falar?
Nubor Orlando Facure
Toda mãe conversa com seu Bebê - e o contrário? O Bebê conversa com as mães?
É claro que sim
Eles foram os primeiros a adotar a "língua dos sinais" - a gente apenas precisa saber ler cada um deles
Há muitos anos, estávamos num simpósio sobre dor de cabeça com vários figurões da Neurologia da época. Um pediatra simplório, típico do interior, pediu-nos para falar sobre a dor de cabeça em bebezinho. Seria uma temeridade dar-lhe a palavra. O que será que ele pretendia nos dizer?
Primeiro ele nos informa que tem anos de experiência observando crianças em berçário. Pode então constatar que os bebês se comunicam com as vogais, a,é,i,o,u.
Conforme a vogal do choro o pediatra saberia onde eles queriam dizer que estava a sua dor - eu mesmo nunca soube dizer se isso é verdade ou não - para resumir, ele dizia que com dor de cabeça o choro do bebê tem som de i (i de inverno)
Na atualidade os cientistas testam os recém-nascido com uma chupeta conectada a um computador - a criança aumenta ou diminui a força e a rapidez da sucção conforme lhe seja mostrado coisas boas ou más - o rosto da mãe ou um rosto desconhecido; um rosto sorrindo ou outro triste; uma voz baixa e outra alta; o chamado da mãe ou de um estranho.
Entretanto, nada é mais comunicativo que as expressões faciais - mesmo com um sorriso torto eles apontam alegria para nós - também tem olhar de desaprovação, de desconfiança, de timidez e de rejeição.
Eles têm talento para discernir num simples olhar com quem eles podem contar e, principalmente, quem eles podem dominar.
Precocemente eles identificam quem é quem na sua família - embora os neurologistas afirmem que só depois dos 3 anos é que a criança sabe quem é ela - qual a sua identidade
Nubor Orlando Facure
Toda mãe conversa com seu Bebê - e o contrário? O Bebê conversa com as mães?
É claro que sim
Eles foram os primeiros a adotar a "língua dos sinais" - a gente apenas precisa saber ler cada um deles
Há muitos anos, estávamos num simpósio sobre dor de cabeça com vários figurões da Neurologia da época. Um pediatra simplório, típico do interior, pediu-nos para falar sobre a dor de cabeça em bebezinho. Seria uma temeridade dar-lhe a palavra. O que será que ele pretendia nos dizer?
Primeiro ele nos informa que tem anos de experiência observando crianças em berçário. Pode então constatar que os bebês se comunicam com as vogais, a,é,i,o,u.
Conforme a vogal do choro o pediatra saberia onde eles queriam dizer que estava a sua dor - eu mesmo nunca soube dizer se isso é verdade ou não - para resumir, ele dizia que com dor de cabeça o choro do bebê tem som de i (i de inverno)
Na atualidade os cientistas testam os recém-nascido com uma chupeta conectada a um computador - a criança aumenta ou diminui a força e a rapidez da sucção conforme lhe seja mostrado coisas boas ou más - o rosto da mãe ou um rosto desconhecido; um rosto sorrindo ou outro triste; uma voz baixa e outra alta; o chamado da mãe ou de um estranho.
Entretanto, nada é mais comunicativo que as expressões faciais - mesmo com um sorriso torto eles apontam alegria para nós - também tem olhar de desaprovação, de desconfiança, de timidez e de rejeição.
Eles têm talento para discernir num simples olhar com quem eles podem contar e, principalmente, quem eles podem dominar.
Precocemente eles identificam quem é quem na sua família - embora os neurologistas afirmem que só depois dos 3 anos é que a criança sabe quem é ela - qual a sua identidade
Minhas recordações, de onde elas vêem?
Nubor Orlando Facure
Como é complicada essa minha memória!
Minha memória é traiçoeira, até o que eu já li eu cheguei um dia pensar que vivi
Coisas que me contaram, eu hoje penso até que aconteceu comigo
O que já se passou há tanto tempo e tão longe de mim, vem nas minhas lembranças como se eu estivesse estado lá
Nosso cérebro não separa tão bem assim as coisas - ele precisa estar sempre comparando o que me falam, com o que já escutei; o que me mostram com o que eu já vi; as dores que eu sinto, com as mágoas que eu já sofri
O tempo passa, mil coisas que vem e que vão, para todas elas, longe ou perto, meu cérebro diz que tudo foi ontem
Outras memórias me invadem sem que eu as chame - essa “intromissão” traz grande alívio quando me faz achar o que eu perdi e me aborrece quando os desencontros se repetem - como é ruim saber que, de novo não vão cumprir o que me prometeram
Nubor Orlando Facure
Como é complicada essa minha memória!
Minha memória é traiçoeira, até o que eu já li eu cheguei um dia pensar que vivi
Coisas que me contaram, eu hoje penso até que aconteceu comigo
O que já se passou há tanto tempo e tão longe de mim, vem nas minhas lembranças como se eu estivesse estado lá
Nosso cérebro não separa tão bem assim as coisas - ele precisa estar sempre comparando o que me falam, com o que já escutei; o que me mostram com o que eu já vi; as dores que eu sinto, com as mágoas que eu já sofri
O tempo passa, mil coisas que vem e que vão, para todas elas, longe ou perto, meu cérebro diz que tudo foi ontem
Outras memórias me invadem sem que eu as chame - essa “intromissão” traz grande alívio quando me faz achar o que eu perdi e me aborrece quando os desencontros se repetem - como é ruim saber que, de novo não vão cumprir o que me prometeram
sábado, 11 de junho de 2011
Almanaque de Neurologia – Memória e Afeto
Nubor Orlando Facure
Moléculas de memória existem?
Já se conhece uma proteína conhecida como CREB que é responsável pela consolidação das nossas memórias.
A gente faz uma viagem de férias, conhecendo lugares que não quer esquecer jamais. O que acontecerá no cérebro?
A proteína CREB ativará os genes que indicarão a síntese de proteínas que vão estabelecer novas sinapses - estou, assim, construindo minhas memórias, as mais duradouras, de curto e longo prazo.
Não convém, porém, comprometer minha "caixa de memórias" com toda informação que me atinge - somos incomodados por muita informação inútil:
A televisão que mostra cenas de notícias desagradáveis
Meu telefone toca e é engano
Na caixa do carteiro foi colocado uma propaganda de encanador
Uma informação no celular me propõe concorrer para ganhar um carro
Felizmente, nossa salvação é outra proteína, a CREB-2, ela é uma proteína supressora da memória, limitando a transferência de uma informação rápida, como aquela desagradável que vi televisão, para minha memória de longa duração. Nada justifica que eu guarde essas cenas.
Portanto, meu próprio cérebro me livra do lixo que passa por mim todo dia
O que memorizar, então?
Nosso cérebro está recebendo estímulos continuamente - que escolha devemos fazer?
Primeiro, valorizar - questionando se essa ou aquela informação é importante
Isso depende do que cada coisa significa para nós - Uma banda inglesa vai se apresentar no Morumbi, a mídia informa os dias, os horários e até mesmo o repertório - eu não vou nem de graça, mas, qualquer um dos meus netos corre atrás de todas essas informações e por muito tempo esse será um tema inesquecível para eles.
Já está demonstrado que é a emoção que, faz escolhas, edita, atualiza ou revisa as memórias que precisamos guardar
Aprender com afeto
Na relação com os pais, possuindo um cérebro infantil ainda imaturo, a criança aprende a usar os recursos do cérebro dos pais. Suas dificuldades, suas deficiências, suas incapacidades são supridas com as facilidades que os pais põem à sua disposição
Os pais têm de fazer o que a criança ainda não faz
É do senso comum de que eles não podem estar fazendo tudo, solucionando problemas que a criança precisa aprender a lidar por conta própria
As emoções da criança, também, são amadurecidas de comum acordo no jogo dessas transações emocionais.
Uma hora os pais aprovam e noutra repelem, ensinando à criança o que pode e o que não pode fazer
Relações emocionais - a direção do afeto
No decorrer da vida é fundamental termos alguma forma de relacionamento afetivo. A construção desses relacionamentos nos dois ou três primeiros anos de vida constrói aquela criança que no futuro vai saber lidar com emoções positivas ou negativas, com suas frustrações, suas perdas, suas conquistas sociais ou suas separações traumáticas.
As mães, as cuidadoras ou qualquer um que exerça o papel de protetor precisam saber quais "sinais" a criança usa para pedir ajuda.
Precisamos antes de qualquer justificativa, aprender a oferecer acolhimento à criança
Afeto simétrico e assimétrico
Joaozinho e Maria estão namorando e o Pedrinho e a Renata são apenas amigos Esses são casos de relacionamento simétrico - dividem por igual necessidades e apoio, dúvidas e certezas. Eles aprendem uns com os outro, acertam e erram juntos. Estão no mesmo nível de experiência.
Entre eu e minha professora, minha terapeuta, meu médico ou meus pais, mantemos uma relação afetiva assimétrica Eles tem muito a me ensinar, são mais experientes que eu. Precisam, porém, ter sensibilidade para perceber meus sinais de carência, de necessidades, de insegurança e de pedir apoio
Nubor Orlando Facure
Moléculas de memória existem?
Já se conhece uma proteína conhecida como CREB que é responsável pela consolidação das nossas memórias.
A gente faz uma viagem de férias, conhecendo lugares que não quer esquecer jamais. O que acontecerá no cérebro?
A proteína CREB ativará os genes que indicarão a síntese de proteínas que vão estabelecer novas sinapses - estou, assim, construindo minhas memórias, as mais duradouras, de curto e longo prazo.
Não convém, porém, comprometer minha "caixa de memórias" com toda informação que me atinge - somos incomodados por muita informação inútil:
A televisão que mostra cenas de notícias desagradáveis
Meu telefone toca e é engano
Na caixa do carteiro foi colocado uma propaganda de encanador
Uma informação no celular me propõe concorrer para ganhar um carro
Felizmente, nossa salvação é outra proteína, a CREB-2, ela é uma proteína supressora da memória, limitando a transferência de uma informação rápida, como aquela desagradável que vi televisão, para minha memória de longa duração. Nada justifica que eu guarde essas cenas.
Portanto, meu próprio cérebro me livra do lixo que passa por mim todo dia
O que memorizar, então?
Nosso cérebro está recebendo estímulos continuamente - que escolha devemos fazer?
Primeiro, valorizar - questionando se essa ou aquela informação é importante
Isso depende do que cada coisa significa para nós - Uma banda inglesa vai se apresentar no Morumbi, a mídia informa os dias, os horários e até mesmo o repertório - eu não vou nem de graça, mas, qualquer um dos meus netos corre atrás de todas essas informações e por muito tempo esse será um tema inesquecível para eles.
Já está demonstrado que é a emoção que, faz escolhas, edita, atualiza ou revisa as memórias que precisamos guardar
Aprender com afeto
Na relação com os pais, possuindo um cérebro infantil ainda imaturo, a criança aprende a usar os recursos do cérebro dos pais. Suas dificuldades, suas deficiências, suas incapacidades são supridas com as facilidades que os pais põem à sua disposição
Os pais têm de fazer o que a criança ainda não faz
É do senso comum de que eles não podem estar fazendo tudo, solucionando problemas que a criança precisa aprender a lidar por conta própria
As emoções da criança, também, são amadurecidas de comum acordo no jogo dessas transações emocionais.
Uma hora os pais aprovam e noutra repelem, ensinando à criança o que pode e o que não pode fazer
Relações emocionais - a direção do afeto
No decorrer da vida é fundamental termos alguma forma de relacionamento afetivo. A construção desses relacionamentos nos dois ou três primeiros anos de vida constrói aquela criança que no futuro vai saber lidar com emoções positivas ou negativas, com suas frustrações, suas perdas, suas conquistas sociais ou suas separações traumáticas.
As mães, as cuidadoras ou qualquer um que exerça o papel de protetor precisam saber quais "sinais" a criança usa para pedir ajuda.
Precisamos antes de qualquer justificativa, aprender a oferecer acolhimento à criança
Afeto simétrico e assimétrico
Joaozinho e Maria estão namorando e o Pedrinho e a Renata são apenas amigos Esses são casos de relacionamento simétrico - dividem por igual necessidades e apoio, dúvidas e certezas. Eles aprendem uns com os outro, acertam e erram juntos. Estão no mesmo nível de experiência.
Entre eu e minha professora, minha terapeuta, meu médico ou meus pais, mantemos uma relação afetiva assimétrica Eles tem muito a me ensinar, são mais experientes que eu. Precisam, porém, ter sensibilidade para perceber meus sinais de carência, de necessidades, de insegurança e de pedir apoio
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Contar histórias para construir a mente
Nubor Orlando Facure
A memória e as narrativas da criança
Minha bisneta às vezes me visita na sala de consultas. Tem um pouco mais de um ano e cada vez que vai me ver ela sabe direitinho onde está cada um dos brinquedos e enfeites que tenho na sala. A boneca pretinha, o gatinho e o cachorrinho são os seus preferidos, ela os aponta e chega a nomeá-los. Está construindo aos poucos a sua memória declarativa
Uma criança mais velha, com mais de dois anos, além de aprender a reconhecer os objetos, já começa a fazer uma narrativa dos acontecimentos vividos por ela - é aquela sugestão que os pais fazem: "conte pro vovô onde você foi hoje"
Nas narrativas ela tem de mobilizar sua imaginação e os conteúdos de sua memória. Um caso após o outro que ela vai narrando, vão construindo seus mundos internos e conscientes.
Resumidamente, estamos querendo dizer que nossa mente é construída dos casos que vivemos e que depois contamos para os outros
A experiência social e sua narrativa
Saindo de casa começamos a descobrir os outros mais intensamente. Primeiro na escola, depois na academia de ginástica, no curso de línguas, no clube social ou, nos diversos ambientes do lugar onde nascemos e onde desenvolvemos os contatos interpessoais - o contato com os outros tende a desenhar muitas das características da nossa mente - basta uma visita à Bahia para percebermos isso - as características da Alma baiana
As narrativas sociais são compostas de regras e expectativas culturais que compartilhamos com nossos semelhantes - a criança começa a aprender o significado dos diversos acertos e desvios socais: não responder mal aos pais, não faltar às aulas, não pegar objetos dos coleguinhas, levar um presente no aniversario dos amigos, agradecer o que ganha dos outros.
Para mim existe uma "mente social" - podemos ver isso nas características de cada povo com sua cultura e suas exigências sociais - a "mentalidade" feminina e masculina muda tremendamente de Dubai para o Rio de Janeiro.
A mente e as narrativas nos sonhos
Cada dia nos oferece novos episódios de aprendizado - alguns deles podem ser traumáticos, como uma agressão na escola, uma ameaça na rua, um acidente no trânsito, um desastre natural que a tempestade provocou, uma nota ruim que tem de ser mostrada aos pais - outros, são de uma alegria inesquecível, a festa de aniversário, o passeio no Hoppy Hari, uma viagem com amigos, o baile de formatura ou a vitória do nosso time.
A noite a gente sonha com tudo isso - a vantagem dos sonhos é que eles nos permitem uma narrativa totalmente incoerente e desconexa - podemos misturar nossas várias modalidades de sentidos - vejo sangue na comida, um vento frio na cama, soldados saindo da igreja, animais distorcidos, amigos amontoados numa carroça, crianças que flutuam, há mãos que crescem e olhos que saem do lugar - não há conexão temporal já que as coisas de hoje se misturam com fatos de anos atrás. Minha casa é a mesma, mas, as ruas para chegar até ela, são as do meu tempo de criança quando morava em Minas.
Os cientistas dizem que os sonhos consolidam as nossas memórias. Particularmente eu acho que os meus sonhos fazem uma "poda" nas memórias que eu não preciso guardar - as historias do que sonhei essas não ficam comigo.
Lição de casa
Viva suas experiências, conte os seus casos, faça as suas narrativas livremente, vai lhe fazer bem - talvez até lhe previna contra o Alzheimer.
Nubor Orlando Facure
A memória e as narrativas da criança
Minha bisneta às vezes me visita na sala de consultas. Tem um pouco mais de um ano e cada vez que vai me ver ela sabe direitinho onde está cada um dos brinquedos e enfeites que tenho na sala. A boneca pretinha, o gatinho e o cachorrinho são os seus preferidos, ela os aponta e chega a nomeá-los. Está construindo aos poucos a sua memória declarativa
Uma criança mais velha, com mais de dois anos, além de aprender a reconhecer os objetos, já começa a fazer uma narrativa dos acontecimentos vividos por ela - é aquela sugestão que os pais fazem: "conte pro vovô onde você foi hoje"
Nas narrativas ela tem de mobilizar sua imaginação e os conteúdos de sua memória. Um caso após o outro que ela vai narrando, vão construindo seus mundos internos e conscientes.
Resumidamente, estamos querendo dizer que nossa mente é construída dos casos que vivemos e que depois contamos para os outros
A experiência social e sua narrativa
Saindo de casa começamos a descobrir os outros mais intensamente. Primeiro na escola, depois na academia de ginástica, no curso de línguas, no clube social ou, nos diversos ambientes do lugar onde nascemos e onde desenvolvemos os contatos interpessoais - o contato com os outros tende a desenhar muitas das características da nossa mente - basta uma visita à Bahia para percebermos isso - as características da Alma baiana
As narrativas sociais são compostas de regras e expectativas culturais que compartilhamos com nossos semelhantes - a criança começa a aprender o significado dos diversos acertos e desvios socais: não responder mal aos pais, não faltar às aulas, não pegar objetos dos coleguinhas, levar um presente no aniversario dos amigos, agradecer o que ganha dos outros.
Para mim existe uma "mente social" - podemos ver isso nas características de cada povo com sua cultura e suas exigências sociais - a "mentalidade" feminina e masculina muda tremendamente de Dubai para o Rio de Janeiro.
A mente e as narrativas nos sonhos
Cada dia nos oferece novos episódios de aprendizado - alguns deles podem ser traumáticos, como uma agressão na escola, uma ameaça na rua, um acidente no trânsito, um desastre natural que a tempestade provocou, uma nota ruim que tem de ser mostrada aos pais - outros, são de uma alegria inesquecível, a festa de aniversário, o passeio no Hoppy Hari, uma viagem com amigos, o baile de formatura ou a vitória do nosso time.
A noite a gente sonha com tudo isso - a vantagem dos sonhos é que eles nos permitem uma narrativa totalmente incoerente e desconexa - podemos misturar nossas várias modalidades de sentidos - vejo sangue na comida, um vento frio na cama, soldados saindo da igreja, animais distorcidos, amigos amontoados numa carroça, crianças que flutuam, há mãos que crescem e olhos que saem do lugar - não há conexão temporal já que as coisas de hoje se misturam com fatos de anos atrás. Minha casa é a mesma, mas, as ruas para chegar até ela, são as do meu tempo de criança quando morava em Minas.
Os cientistas dizem que os sonhos consolidam as nossas memórias. Particularmente eu acho que os meus sonhos fazem uma "poda" nas memórias que eu não preciso guardar - as historias do que sonhei essas não ficam comigo.
Lição de casa
Viva suas experiências, conte os seus casos, faça as suas narrativas livremente, vai lhe fazer bem - talvez até lhe previna contra o Alzheimer.
domingo, 29 de maio de 2011
Os caminhos da roça
Nubor Orlando Facure
Lá na roça
O vai e vem dos peões, as viagens da carroça de milho, do caminhão do leiteiro, do caminhar das mulas que trazem as encomendas da cidade, vão marcando o solo criando caminhos.
Os anos se passaram e até hoje para ir de um lado para o outro seguimos as mesmas trilhas de antigamente - tropeçamos nas mesmas pedras, subimos os barrancos, ultrapassamos os veios d'água e nos esfolamos nas mesmas quedas.
No cérebro de um bebezinho
Ele está repleto de neurônios - quando sua mãe canta, seu irmãozinho joga uma bola, a professora o ensina a pintar, lá na televisão as crianças brincam, o pai o leva num passeio de carro - a cada estímulo novo, um conjunto de neurônios é mobilizado - são criadas redes de conexões neurais.
O efeito dos estímulos
Repetindo a mesma tarefa, haverá uma tendência da mesma rede de neurônios responderem ao estímulo. "Neurônios que disparam juntos hoje tendem a dispararem juntos no futuro". Isso é a essência do aprendizado. Freud teria adorado essa afirmação proposta por Donald Hebb em 1949
Uma criança leva um susto com o barulho de um brinquedo. Quando cresce, ela não se lembra mais do barulho, mas, rejeita pegar no brinquedo sem saber porquê. Aquele conjunto de neurônios que a criança estimulou na primeira ocasião reproduz a situação quando no futuro o mesmo estímulo se repete - a mesma rede de neurônios é mobilizada. É como seguir os mesmos caminhos da roça.
Nossos medos
O medo de chuva, a incapacidade para dirigir, a raiva da cunhada, o nojo da comida e a tristeza que aquela música provoca, são repetições das mesmas redes de neurônios que no passado construímos para nós mesmos.
Esse tipo de recordação está ligada a nossa "memória implícita" - ela não requer a participação da consciência - resumidamente, podemos dizer que nas nossas experiências do dia-a-dia, estamos desenvolvendo comportamentos e gerando emoções a cada imagem que a vida nos apresenta.
Imagens, comportamentos e emoções andam sempre juntas.
Não gosto tanto assim do lugar onde nasci - gosto mais é das lembranças que esses lugares me despertam.
O corpo fala
Esse tipo de memória (implícita) não se refere apenas a situações externas. Experiências vivenciadas pelo nosso corpo criarão conexões neurais que hoje estão respondendo a um estímulo e, no futuro, repetirão os mesmos caminhos. O carinho de um abraço numa criança ou as palmadas que a violentam marcam também o seu corpo
A maneira como respondemos hoje a dor de uma queda, de uma picada de injeção, ao corte de uma cirurgia, ao peso de uma dor nas costas, tem muito a ver com essa história na infância.
Nosso futuro fica mais ou menos escrito nas redes de neurônios que construímos ontem e hoje
Nubor Orlando Facure
Lá na roça
O vai e vem dos peões, as viagens da carroça de milho, do caminhão do leiteiro, do caminhar das mulas que trazem as encomendas da cidade, vão marcando o solo criando caminhos.
Os anos se passaram e até hoje para ir de um lado para o outro seguimos as mesmas trilhas de antigamente - tropeçamos nas mesmas pedras, subimos os barrancos, ultrapassamos os veios d'água e nos esfolamos nas mesmas quedas.
No cérebro de um bebezinho
Ele está repleto de neurônios - quando sua mãe canta, seu irmãozinho joga uma bola, a professora o ensina a pintar, lá na televisão as crianças brincam, o pai o leva num passeio de carro - a cada estímulo novo, um conjunto de neurônios é mobilizado - são criadas redes de conexões neurais.
O efeito dos estímulos
Repetindo a mesma tarefa, haverá uma tendência da mesma rede de neurônios responderem ao estímulo. "Neurônios que disparam juntos hoje tendem a dispararem juntos no futuro". Isso é a essência do aprendizado. Freud teria adorado essa afirmação proposta por Donald Hebb em 1949
Uma criança leva um susto com o barulho de um brinquedo. Quando cresce, ela não se lembra mais do barulho, mas, rejeita pegar no brinquedo sem saber porquê. Aquele conjunto de neurônios que a criança estimulou na primeira ocasião reproduz a situação quando no futuro o mesmo estímulo se repete - a mesma rede de neurônios é mobilizada. É como seguir os mesmos caminhos da roça.
Nossos medos
O medo de chuva, a incapacidade para dirigir, a raiva da cunhada, o nojo da comida e a tristeza que aquela música provoca, são repetições das mesmas redes de neurônios que no passado construímos para nós mesmos.
Esse tipo de recordação está ligada a nossa "memória implícita" - ela não requer a participação da consciência - resumidamente, podemos dizer que nas nossas experiências do dia-a-dia, estamos desenvolvendo comportamentos e gerando emoções a cada imagem que a vida nos apresenta.
Imagens, comportamentos e emoções andam sempre juntas.
Não gosto tanto assim do lugar onde nasci - gosto mais é das lembranças que esses lugares me despertam.
O corpo fala
Esse tipo de memória (implícita) não se refere apenas a situações externas. Experiências vivenciadas pelo nosso corpo criarão conexões neurais que hoje estão respondendo a um estímulo e, no futuro, repetirão os mesmos caminhos. O carinho de um abraço numa criança ou as palmadas que a violentam marcam também o seu corpo
A maneira como respondemos hoje a dor de uma queda, de uma picada de injeção, ao corte de uma cirurgia, ao peso de uma dor nas costas, tem muito a ver com essa história na infância.
Nosso futuro fica mais ou menos escrito nas redes de neurônios que construímos ontem e hoje
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