A força do passado
Nubor Orlando Facure
Faustina organizava as festas no casarão colonial escolhendo a dedos os convidados. Alem da conversa familiar, da música que uma das filhas tocava ao piano, da declamação de poemas, dos pratos apetitosos que eram passados um a um, havia sempre um ar esnobe, arrogante e prepotente que todos identificavam nas feições de Faustina. Fazia questão absoluta que todos reverenciassem sua origem nobre.
No século seguinte a mesma Faustina está numa cadeira de rodas esmolando nas ruas do Rio de Janeiro que tanto conhecia.
Quem a vê hoje, percebe os antigos sinas de "nobreza" do passado. Continua dando ordens, não se dirige a qualquer um e querendo proteger seu corpo do olhar dos outros, se esconde em trapos de roupas rasgadas. Exaspera-se a cada solavanco da cadeira nos buracos da calçada, ainda desfia o xingatório e destrata a todos. É a mesma Faustina do casarão colonial carioca.
Fabriciano foi dono de fazenda em Barra do Carmo interior de Minas Gerais. Os escravos já vinham de herança do pai, rico proprietário de terras na região. Enquanto o genitor era amável, Fabriciano sempre aos gritos impunha suas vontades com violência. Caminhava com um vara de pau, arrancada de uma goiabeira que tinha prazer em sentar no lombo dos crioulos quando demoravam para lhe cumprir as ordens.
Hoje, Fabriciano está de volta na mesma Minas Gerais, na região do Triângulo. Os pais de agora são empregados da fazenda Buriti Alegre. Ele e mais 9 irmãos participam da lida exaustiva cuidando do gado. Mas, de novo, a velha índole violenta do Fabriciano se manifesta. As ordens que da agora são para os pobres dos irmãos. Uma tarde ele sofre uma queda do cavalo, a perna mal engessada ficou mais curta e ele passou a se apoiar num pedaço da goiabeira que cortou com o facão. E, lasca de novo as lambadas nas costas dos irmãos, exigindo pressa e obediência
Frei Angelli de anjo mesmo nunca teve nada. Século XIV, as trevas da ignorância predominam no interior da Europa e, nosso Frei, participa da aplicação de penas determinadas nos tribunais religiosos da época. Rigoroso, detalhista, conhece com profundidade todos os quesitos de condenação. Aflição, denúncias, traições e relatórios que são conseguidos por confissões forçadas na presença de Frei Angélli.
Quinhentos anos depois, já no final do Século XX, uma casa de estudos espíritas é dirigida pelo antigo Frei. Diretoria rigorosa, seu presidente tem pulso de ferro, não são permitidas falhas, as comunicações mediúnicas tem de ser autorizadas, livros são censurados, freqüentadores de pouca cultura são afastados, os temas das palestras quase sempre ignoram Jesus. Há muito mais medo que amor nessa casa e todos atribuem os desmandos à perturbação das trevas
Lição de casa
Ainda permanecem em nós os mesmos defeitos de outras vidas que teimamos em possuir. Quanto mais cedo nos livrarmos desse “homem velho” melhor
domingo, 17 de julho de 2011
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