sábado, 19 de março de 2011

Neurologia Popular - 3

Meus Medos
Nubor Orlando Facure

Medo natural
É o medo inato, o instinto do medo, a gente já nasce com medo, medo de por a mão numa coisa peluda como uma aranha ou um ruído muito forte num lugar escuro
Medo aprendido
A mordida do gato me faz temer acariciá-lo de novo
Medo condicionado
Um papel azul é seguido de um choque, todo papel azul agora me mete medo, pois, daqui para frente, me lembra o incômodo do choque
Medo patológico
É medo demais de uma coisa que nem é ameaça - medo exagerado de dentista, medo de estar sozinho, medo de um encontro que nem vai acontecer
Medos específicos
São todas as fobias por uma porção de coisas - medo de altura, de avião, de baratas, de elevador
Medo sem motivo
O chefe é bravo mas não morde, não há porque temê-lo
Medo nos outros
È prudente perceber o medo nos outros - ele se expressa e se identifica na face. No rosto de cada um eu percebo o medo que ele tem - outras vezes, no grito que ele dá, no seu pulo para traz ou no gesto das mãos com que afasta a ameaça - quase sempre ajudamos a quem tem fome, agasalhamos a quem tem frio, mas, ainda precisamos aprender a acudir a quem tem medo
Medo do desconhecido
O pior deles é o medo da Morte - que julgamento nos espera? Quem vai nos apresentar a fatura de débitos? Por quanto tempo estaremos a sós com nossa própria consciência?
Medo de solidão
É o medo frio do abandono - tem gente que não suporta a possibilidade da separação - o mundo inteiro parece que se esvazia e, frequentemente, a solidão é cheia de culpas
Medos típicos
Algumas doenças tem seus medos característicos:
Na Epilepsia do Lobo Temporal - principalmente quando a crise atinge uma região mais interna chamada de Ìnsula (que se traduz por ilha) o paciente refere um medo intenso, uma sensação de angústia muito forte, com uma impressão de sufoco, do estrangulamento dos enforcados e perturbações viscerais - no estômago, intestinos, coração e pulmões - felizmente duram poucos minutos
No TOC - transtorno obsessivo compulsivo - há um medo intenso de adoecer, de tocar alguma coisa que esteja contaminada, de um vírus que possa nos alcançar
A falta de medo
Na criança hiperativa (TDAH) ocorre perda da noção de risco - ela não teme o perigo de andar em cima de um muro ou achegar-se ao beiral da janela do prédio
Na Síndrome de Klever-Bucy:
Eu conheci pessoalmente um simpaticíssimo neurocirurgião americano - o Dr. Paul Bucy (era 1964) quando esteve em Belo Horizonte - um doce de criatura - mas, ele e seus colegas de laboratório executaram uma perversidade médica de grande sucesso. Retiraram cirurgicamente as Amígdalas dos Lobos temporais de uma Chimpanzé e perceberam o aparecimento de um quadro clínico que se tornou emblemático - daí foi adotado o nome de Síndrome de Klever-Bucy em suas homenagens - para uma experiência que hoje os levariam para a prisão - de qualquer modo, chama-se de síndrome porque, esse mesmo quadro da Chimpanzé, pode ser visto, também, em, Humanos, vítimas de trauma de crânio, de encefalites ou de anóxia cerebral pós-parto. O macaco na floresta aprendeu com seus pais a ter medo de cobra. Aquela Chimpanzé que ficou sem suas amígdalas temporais no Laboratório do Dr Bucy, deixa de temer, de expressar reação que denote qualquer medo de cobras. Ela apresenta, também, uma hiperfagia, passa a comer tudo à sua frente - eu mesmo tive pacientes que comiam - literalmente, eles comiam - seu polegar ou, se amarrados, davam um jeito de morder seu próprio ombro.
Na síndrome de Klever-Bucy ocorre, ainda, uma hipersexualidade, a escova de penteá-los ou a torneira do laboratório passam a ser instrumentos de masturbação usados obsessivamente pela Chimpanzé. Já atendi crianças com retardo mental grave que podiam serem vistas com comportamento parecido, manipulando compulsivamente seus genitais.

2 comentários:

  1. Olá Dr. Facure...meu nome é Thaís, sou cunhada do Dayme (orientado da Dra. Katia). Muito interessante o texto do senhor. Realmente o medo é necessário, porém em alguns casos se torna uma doença que paralisa o corpo e a mente das pessoas. Milhões de seres humanos têm medo do passado, do futuro, da velhice, da loucura e da morte. E aprender a sorrir dos nossos temores é nosso maior desafio.
    Gostaria de parabenizar o senhor pelo livro Muito Além dos Neurônios. Sou estudante de medicina e espírita e achei a leitura do livro muito esclarecedora, mesclando esses dois temas tão fascinantes.
    Atenciosamente,
    Thaís

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  2. Na minha opinião, é bom sentirmos medo porque ele está ligado aos nossos limites, nós sentimos medo quando percebemos que uma atitude nossa pode ultrapassar nossos limites e nos fazer mal. O medo não pode prevalecer, nós temos que domina-lo e não o contrário, pois isso pode nos prejudicar.

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