segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Cérebro e a “Santíssima Trindade”

Nubor Orlando Facure

Até parece teologia – essa visão do “mistério da santíssima trindade” no cérebro. Talvez um cacoete dos velhos professores da medicina francesa que buscavam em todas as doenças a “tríade sintomática” que as caracterizava. A meningite iniciava com esses três sintomas - “dor de cabeça, febre e constipação intestinal”. Mesmo considerando a multiplicidade das funções do cérebro e do psiquismo humano, encontramos, em vários autores, essa sistematização hierarquizada em três níveis, lembrando “o Pai, o Filho e o Espírito Santo” que a Igreja coloca na distribuição dos poderes sagrados.
Sigismund Freud identifica três entidades no nosso aparelho psíquico – o ID, o Ego e o Superego. Há entre esses níveis uma hierarquia e uma submissão que ocasionalmente é contrariada. As forças do ID, procedentes do “inconsciente” podem impor “disfarçadamente” os seus desejos oprimidos pela consciência onde o Ego supostamente faz nossas escolhas. Domínio, submissão e perversão da hierarquia estiveram sempre presentes nos diversos autores da “trindade”cerebral.
Antes de Freud tivemos o grande neurologista inglês, Hughlings Jackson cuja esposa sofria de epilepsia apresentando um tipo de crise motora “sui-generis” . As contrações ocorriam sem perda da consciência, iniciando no polegar se estendendo para os dedos, a mão, o antebraço, o braço e finalmente a face. Como foram descritas pelo próprio esposo, elas ficaram conhecidas como crises Jacksonianas.
Estudando a atividade motora no sistema nervoso, Hughlings Jackson, sugeriu a existência de 3 níveis de complexidade. O sistema piramidal – no córtex cerebral, o extra-piramidal – nos gânglios da base e o periférico a partir da medula espinhal. Jackson introduziu o conceito de “liberação” – lesões nos níveis superiores “liberam”a ação dos inferiores. Há exaltação dos reflexos medulares quando são lesionados os sistemas piramidal e o extrapiramidal.
Outra visão trinaria foi popularizada pelo neurocientista americano, Paul Mac Lean. Sua proposta é evolucionista. Ele enxerga 3 cérebros sobrepostos na anatomia humana. Um cérebro reptiliano, um intermediário, dos mamíferos e um superior, dos primatas – chimpanzé e humanos.
Os estudantes de neuropsicologia quase todos iniciam os estudos das funções superiores do cérebro com a leitura de Luria, neurologista russo. Ele propõe a organização do cérebro em sistemas que se hierarquizam em 3 níveis de complexidade. Simplificadamente para a manutenção do tônus muscular, da percepção sensorial e das vias de associação.
Finalmente, queremos anotar a descrição do cérebro que faz o Espírito André Luiz (psicografia de Chico Xavier) no capitulo “a casa mental” (no livro No Mundo Maior). Ele anota, também, 3 níveis. Um medular, de atividade visceral – sexo e alimentação; outro ao nível da atividade motora que nos prende ao cotidiano das nossas tarefas - principalmente o trabalho de subsistência; e, por fim, o nível frontal superior que permite nossa ligação com os propósitos superiores da espiritualidade.

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