domingo, 9 de outubro de 2011

O que tens plantado?

Nubor Orlando Facure

A lição é simples demais: colhemos o que plantamos. É a partir de nossas escolhas que o “destino” vai sendo desenhado

Toninho, gaúcho de Três Rios, entrou para o exército e hoje sofre com o calor nas matas húmidas da Amazônia

José Carlos, investiu na plantação de café nos morros de São Gonçalo e hoje reza para o tempo ajudar enquanto espera a colheita

Melissa deixou a casa dos pais para ir morar com José Renato e hoje, com 3 filhos, quando sai do fogão já vai para a lavanderia, passa pano no chão e separa briga de criança, termina o almoço e já tem de novo a louça para lavar

Roberval não saia das festas, mas, com inteligência privilegiada entrou num curso de medicina. Virou pediatra e acabou a festança. Plantão de fins de semana e chamados noturnos de mães de criança com febre que não lhe dão mais sossego.

Raimundinho não obedeceu a regras de segurança e perdeu a mão no moedor de cana

Dr. Leonildo, enriqueceu construindo prédios, mas, após a droga deixou tudo para traz se afundando em dívidas

O que cada um faz, cada um colhe

Mesmo assim, tem gente que deplora a falta de oportunidades, diz que a vida não lhes favoreceu, que o destino é ingrato, que precisava ter mais sorte. Faz promessa pedindo a Deus para fazer por ele o que deixou de plantar

Diz André Luiz que a felicidade é fruto que se colhe da felicidade que se planta nos outros

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Desencontro em Santa Rita - 2004

Nubor Orlando Facure

Cidade do interior, a família toda reunida, estão comemorando o aniversário de Renatinho. A criançada toda correndo e gritando como fazem todos meninos nas festas de aniversário. Está com 8 anos, boa saúde, bom aluno, vive mais com os avós que cuidam da sua educação, porque, os pais são empresários e as ocupações consomem tempo energia dos dois.

Rogério e Marina, pais de Renatinho, se conheceram num curso de pós-graduação em gerenciamento de empresas. Ele já teve um casamento anterior sendo pai de Humberto, moço de 23 anos, estudante de Direito que tem contatos esporádicos com o pai.

Durante a festa, o telefone toca e Rogério é chamado às pressas pela ex-esposa, Ruth, que relata acidente de trânsito com Humberto. Não há como evitar, mesmo contrariando Marina, que tudo faz para reter Rogério, esse sai num taxi que o leva ao hospital onde encontrará Humberto.


Lembranças do passado

O casamento de Rogério e Marina só se estabilizou após o nascimento de Renatinho. Com a vinda do menino, marido e mulher sentem-se mais comprometidos e o ciúme de Marina diminui bastante. Ela nunca aceitou as exigência que Ruth fazia à distância exigindo comprometimento de Rogério na educação de Humberto. Insistia que apesar da separação Humberto era filho dos dois.

Marina, por sua vez, não permitia que Rogério trouxesse Humberto em casa, principalmente após o nascimento de Renatinho. Não tiveram efeito os elogios que Rogério fazia sobre esse filho, educado, muito simpático com todo mundo, um gentleman e que revelava desejo e curiosidade em conhecer a ambos, Marina e Renatinho.


Um drama na Itália - 1904

Cidade do interior da Itália, povo extremamente reservado, preso a tradições religiosas, muito conservador nos seus costumes familiares. Qualquer estrangeiro era visto com muita reserva.

Mora ali a nossa mesma Marina sempre acompanhando a família nas visitas e obrigações com a Igreja. Chega na cidade o nosso conhecido Humberto que a deixa deslumbrada. Moço bonito, educado, filósofo e estudante de Direito em Coimbra. Ali ele abandonou a esposa e uma filha para tentar a vida na Itália. Na verdade estava de passagem pela pequena cidade onde vivia Marina. A paixão entre os dois cresceu como um incêndio na relva seca, sem que nada pudesse controlar. Foram feita juras de amor eterno como fazem os apaixonados. Sem qualquer possibilidade de revelarem sua paixão os dois tentam uma fuga para longe da Itália.

A inexperiência não lhes possibilitou sucesso no plano de fuga. Descobertos, Humberto é morto, caindo nos braços de Marina, exaurindo-se em sangue. Marina foi enviada para uma instituição religiosa na Suíça e não se teve mais notícia dela


Reencontro adiado mais uma vez

O jovem Humberto, ainda não reencontrou sua querida Marina que hoje está casada com seu pai. Não conseguiram se unir na antiga Itália e agora a vida arquiteta um jeito esquisito para aproximar os dois.

Ressentimentos, mágoas e ciúmes não permitiram que Marina sequer queira vê-lo

A vida terá de esperar mais uma vez por nova oportunidade

Em busca do caminho

Nubor Orlando Facure

Em São Paulo

Paulo André 23 anos, moço bonito, boa família, sempre correndo para não se atrasar nas festinhas da Faculdade. Não levava a sério os estudos, não procurava trabalho, mas, quanto à aparência nunca se descuidou. Usando roupa de marcas e circulando com carros de luxo seu grupo de amigos era enorme. Constrói a imagem completa de muitos rapazes descompromissados da atualidade.

A família de Paulinho tem outra postura:

A mãe frequenta Centro Espírita onde passa às tarde diante de um caldeirão de sopa que ajuda a distribuir

O pai organiza voluntários para serviços de reformas em escolas públicas de poucos recursos

A irmã dá aulas de artesanato para gestantes

Paulo André nunca se sensibilizou com os apelos da família que tenta incluí-lo no serviço da caridade

Uma festa em Araçatuba

Ha um casamento que a família não pode perder. Vão todos, num carro só, dirigido por Paulo André. Esse vai o tempo todo contrariado. Não é o tipo de festa que gosta, porque, lá encontrará parentes que criticam abertamente seu estilo de vida, gente que chega a lhe pedir dinheiro emprestado, primos que incomodam depois de abusar da bebida, moças regateiras que não se dão conta do seu estilo “caipira” e insistem em seduzi-lo. Além do que, seus avós sempre perguntam se ele está frequentando o Centro Espírita com a mãe.

Uma tragédia

Na volta de Araçatuba Paulo André insiste em pegar a estrada à noitinha, sem qualquer descanso. Melhor repousar em São Paulo para estar em forma ao encontrar o colegas na noite seguinte.

Pressa, alta velocidade e desatenção provocam o desastre. Batem de frente com um velho caminhão de transporte e aí se encerra definitivamente um capítulo na vida desse grupo familiar. Os quatro não tiveram nenhuma percepção do que acontecia e desencarnam ali mesmo na estrada

Reencontro com a consciência

Paulo André estranha tudo que está a sua volta, não fazendo a menor ideia de onde está. Gente mal vestida, cheiro ruim lhe provocando náusea, gritos, chingamentos. Quando ouve o seu nome percebe que está sendo acusado de coisas que não fez. Fica em dúvida se lhe conhecem porque as vezes descrevem detalhes da sua vida íntima.

Faz tempo que não come e a agua que bebe é a que recolhe da chuva que as vezes açoita forte aquele lugar. Sente muito medo, mas nada é pior que a terrível solidão. Afinal onde estarão os seus parentes?

Um sinal no caminho

Paulo André acorda com o corpo dolorido marcado pela pedra onde repousava. Ao longe, vê um brilho que vem em sua direção. Uma emoção estranha toma-lhe a Alma e não contém o choro como se fosse uma criança pedindo colo.

Ele nada consegue ver, mas, escuta a voz da mãe a lhe dizer:

Vem em meus braços filho, mais essa vez eu lhe estou perdoando

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Prisioneiros

Nubor Orlando Facure

Bandidos, ladrões e assassinos estão trancafiados atrás das grades com penas duradouras para resgatar seus crimes. Quatro, cinco, quinze anos de sofrimento.

Outros porém se aprisionam vitimados por si mesmos

João Macedo guarda até hoje a escritura das terras que tomou do seu Candinho cobrando dívidas de negócios. Foi cruel, mas, nessa hora, defendendo os seus interesses, achou que não podia amolecer.

Não soube mais de qualquer notícias do seu Candinho que teve de se arrastar com mulher e filhos para o interior da Bahia tentando se sobreviver.

As vezes, João Macedo é incomodado por um lampejo de remorso que passa-lhe pela cabeça, mas, agora não há mais o que fazer. Já se vão quinze anos nessa tormenta.

Mariana e Jacira eram irmãs inseparáveis. Casaram juntas e mantiveram sempre a aproximação carinhosa. Quando uma adoecia a outra acudia. Quando uma viajava a outra substituía vigiando os sobrinhos.

Com a morte dos pais foi necessário dividir a herança.

Marido de uma, marido de outra, filhos crescidos interessados em dinheiro, contas, reformas da casa, impostos e advogados viraram conversa nova para quem só falava de coisas de casa e da vida simples de antigamente.

Uma palavra aqui outra ali, mal entendidos, desculpas, protelações e acordos. Tudo isso vai afastando cada vez mais as duas irmãs. Nem um lado nem o outro ficou satisfeito com as partilhas dos bens paternos e ressentimentos foram brotando e crescendo sem controle.

Já se vão cinco anos de desencontros, aprisionando as duas em desavença que nunca houve

Dr. Ronaldo saia tarde do escritório de advogado. Pacientemente a esposa fazia os filhos suportarem a demora para jantarem juntos no iniciar da noite. Dava tempo para uma conversa rápida pondo em dia as necessidades da casa e o comportamento peralta dos 3 meninos do casal.

Raramente tinham tempo para férias. A correria aumentava, a clientela crescia e os atrasos se espichavam. Os meninos, entrando na adolescência, exigiam pulso mais firme que a mãe não dava conta. Essa mistura de muito trabalho e muita cobrança familiar desestabilizava o controle emocional do Dr. Ronaldo. E, justamente num momento dessas reflexões lhe procura uma cliente jovem, relatando aflições e desamparo. O que uma fala o outro compara com sua própria angústia. Em pouco tempo as trocas afetivas tem início, e, como tantos outro casos parecidos, o Dr. Ronaldo separa da esposa sem se dar conta do desastre que estava causando dentro da própria casa.

Quinze anos depois, martirizado por traições da nova companheira, procura notícias do destino dos filhos que nunca mais viu