domingo, 29 de março de 2009

Depressão

Depressão é uma doença que pode ser tratada.
O diagnóstico é a primeira etapa no tratamento. Depressão é um dos transtornos mentais mais freqüentes.

Objetivos
O assunto desta apostila é a depressão maior, uma das formas de doença depressiva.

Divide-se em duas partes

Parte I :- Contém respostas às perguntas mais freqüentes sobre depressão, e algumas informações básicas sobre o assunto.
Parte II :- Contém informações mais detalhadas sobre depressão e seu tratamento.

Parte I

Quem fica deprimido ?

A depressão maior, freqüentemente chamada de depressão, é uma doença comum, que pode acometer qualquer pessoa. A depressão é duas vezes mais freqüente em mulheres do que em homens.

O que é depressão ?

Depressão não é apenas uma sensação de tristeza ou de “baixo astral”. É mais do que se sentir triste ou ficar de luto após uma perda. A depressão é uma doença tanto como o Diabetes, Pressão Arterial elevada ou Doenças Cardíacas, que afetam seus pensamentos, seus sentimentos , sua saúde e seu comportamento.

A depressão pode ser causada por diversos fatores :-

 História familiar
 Doenças não psiquiátricas
 Alguns medicamentos
 Uso de drogas ou álcool
 Doenças psiquiátricas

Algumas situações da vida como estresse intenso ou separação brusca podem desencadear a depressão ou impedir uma recuperação completa. Em algumas pessoas, a depressão ocorre mesmo quando tudo está bem.
A depressão não ocorre por sua culpa. Não é uma fraqueza. É uma doença e pode ser tratada.

Como saber se estamos deprimidos ?

Pessoas que têm depressão maior apresentam determinados sintomas quase que diariamente, a maior parte do dia por um período mínimo de duas semanas. Esses sintomas incluem pelo menos um dos seguintes : -

 Humor deprimido
 Insatisfação com a vida
 Afastamento das atividades sociais
 Perda do interesse ou prazer em atividades ou por coisas que você costumava apreciar. Tristeza, melancolia ou sensação de vazio.
 Sensação de lentidão ou de inquietação, com incapacidade de permanecer quieto.
 Sentimentos de autodesvalorização ou de culpa.
 Aumento ou redução de apetite ou de peso.
 Idéias freqüentes de morte ou suicídio.
 Dificuldade para se concentrar, raciocinar, memorizar, ou tomar decisões.
 Insônia ou excesso de sono.
 Abuso de substâncias prejudiciais
 Perda de energia ou cansaço persistente.

Freqüentemente ocorrem também outros sintomas físicos ou psicológicos.

 Dor de cabeça
 Outras dores
 Problemas digestivos
 Dificuldades sexuais
 Pessimismo ou desesperança
 Ansiedade ou preocupação

O que fazer quando tivermos esses sintomas ?

Muitas vezes, as pessoas não procuram tratamento para sua depressão porque não reconhecem os sintomas, porque têm dificuldade em pedir ajuda, porque se sentem culpadas, ou porque não sabem que existem tratamentos para a depressão.

Quando o médico é consultado ele deve : -

 Descobrir se existe uma causa física para a depressão.
 Tratar a depressão.
 Encaminhar a um psiquiatra para avaliação complementar e tratamento.

Como o tratamento pode ajudar ?

O tratamento reduz a dor e o sofrimento da depressão. Quando bem feito, elimina os sintomas da depressão e permite que volte à vida normal. Quanto mais cedo procurar ajuda, mais depressa começará a se sentir melhor. Como em outras doenças, quanto mais tempo se demora para procurar tratamento, tanto mais difícil será a recuperação.
A maioria das pessoas que recebe tratamento para depressão começa a se sentir melhor e retoma suas atividades diárias em algumas semanas.
Assim como em outras doenças, algumas vezes o primeiro tratamento pode não funcionar de forma adequada. Talvez seja necessário tentar um outro tipo de tratamento. É importante não desanimar se a primeira tentativa não der certo.

Tipos de tratamentos

 Medicamentos antidepressivos
 Psicoterapia
 Medicamento antidepressivo associado à psicoterapia

Idéias de suicídio ou morte freqüentemente acompanham a depressão. Se você tiver idéias desse tipo, conte imediatamente para uma pessoa de sua confiança. Peça-lhe ajuda para conseguir orientação profissional o mais rápido possível. Se a depressão for tratada adequadamente, tais idéias desaparecerão.



Parte II

Sintomas de depressão

Quando uma pessoa está deprimida, apresenta vários sintomas quase diariamente, a maior parte do dia, por um período de pelo menos duas semanas.

 Humor deprimido.
O paciente manifesta seus sentimentos geralmente com palavras, com expressão facial ou mesmo com posturas que revelam tristeza, desesperança, desamparo ou sensação de inutilidade.

 Sentimento de culpa.

 Paciente se sente auto-recriminado, sente que decepcionou os outros, com suas idéias de culpa costuma se incomodar sobre seus erros passados ou suas más ações. Imagina a doença como um castigo. Tem delírio de culpa, pode ouvir vozes de acusação ou denúncia e alguns referem alucinações visuais ameaçadoras.

 Idéias ou gestos suicidas.
Esses pacientes costumam sentir que a vida não vale a pena. Desejariam estar mortos e pensam com freqüência na possibilidade de sua morte. Alguns tentam o suicídio.

 Insônia freqüente.
A insônia costuma ser um sintoma inicial. Alguns queixam-se de dificuldades ocasional para conciliar o sono e outros referem insônia todas as noites. Existe também uma insônia no meio da noite em que o paciente acorda com freqüência referindo inquietude e perturbação mental.

 Comprometimento do trabalho e das atividades.
Ocorrem pensamentos e sentimentos de incapacidade, fadiga ou fraqueza para realizar qualquer atividade, seja no trabalho ou mesmo nos passa tempos. Alguns referem perda total do interesse por suas atividades, costumam indiretamente revelar isto pela sua desatenção, indecisão e vacilação. Sentem que precisam esforçarem-se a contragosto no trabalho ou em qualquer atividade. Ocorre diminuição no tempo que se dedicam às suas atividades com conseqüente queda de produtividade.
 Retardo no pensamento.
Com freqüência os pacientes manifestam lentidão de idéia e fala; dificuldade de concentração. A atividade motora chega a ficar lenta e reduzida.
 Agitação.
Alguns pacientes demonstram certa agitação que parece inconsciente :- brincam com as mãos, com os cabelos, torcem as mãos, roem as unhas, mordem os lábios.
 Ansiedade psíquica.
Pode-se observar tensão emocional e irritabilidade subjetiva. Preocupam-se com trivialidade. Demonstram atitude apreensiva no rosto ou na fala. Mesmo sem serem inquiridos os seus gestos expressam medos.
 Ansiedade física.
O paciente deprimido tem sensações físicas, incômodas extremamente freqüente :- boca seca, flatulência, indigestão, diarréia, cólicas, eructações, palpitações, dor de cabeça, suspiros, respiração difícil, freqüência urinária, suor aumentado.
 Outros sintomas físicos.
Perda de apetite, alimentação forçada, sensações de peso no abdômen. Dificuldades de comer se não insistirem. Uso freqüente de laxativo ou medicação para os intestinos ou para sintomas digestivos.
 Sintomas físicos gerais.
Peso nos membros, nas costas ou na cabeça. Dores nas costas, dores de cabeça, dores musculares. Fadiga, perda de energia e cansaço.
 Sintomas gênito-urinários.
Perda do libido, distúrbios menstruais, aumento da freqüência urinária.
 Hipocondria.
O paciente exagera na auto observação com relação ao seu próprio corpo. Excessiva preocupação com a saúde. Queixas freqüentes de sintomas físicos. Pedidos de ajuda por pequenos sintomas. Idéias delirantes hipocondríacas.
 Perda de peso.
Ocorre freqüentemente perda de mais de um quilo por semana.
 Consciência da própria doença.
O paciente reconhece que está deprimido e doente. Com freqüência atribui a causa à má alimentação, ao clima, ao excesso de trabalho, a vírus, a necessidade de repouso, a estresse. Outros negam estarem doentes.
 Despersonalização e desrealização.
Em estados graves o paciente revela sensações de irrealidade e idéias niilistas.
 Sintomas paranóicos.
Quadros depressivos podem se agravar com manifestações psicóticas. Acentua-se desconfiança, idéias de referência, delírio de referência e perseguição. O paciente se atormenta com a idéia de que os vizinhos, os amigos ou os atores da televisão conversam sobre ele, interferem nos seus pensamentos e com freqüência tendem a prejudicá-los.
 Sintomas obsessivos e compulsivos.
Nos deprimidos mais graves podem ocorrer manifestações psíquicas ou motoras de comportamento obsessivo compulsivo. Por exemplo lavar as mãos, trancar portas e janelas, executar rituais de alimentação.
 Perda de interesse ou prazer em atividades ou passatempos que você costumava apreciar, inclusive atividade sexual. *
 Tristeza, melancolia ou sensação de vazio. *
 Sensação de lentidão ou inquietação, com incapacidade de permanecer quieto.
 Sentimentos de autodesvalorização ou de culpa.
 Aumento ou redução do apetite ou peso.
 Idéias de morte ou suicídio; tentativa de suicídio.
 Dificuldades para se concentrar, raciocinar, memorizar, ou tomar decisões.
 Insônia ou excesso de sono
 Perda de energia ou sensação contínua de cansaço.
 Dor de cabeça
 Outras dores.
 Problemas digestivos.
 Dificuldades sexuais.
 Pessimismo ou desesperança.
 Ansiedade ou preocupação.

Observação :-

 Se você apresentou cinco ou mais sintomas, incluindo um dos dois assinalados com asterisco *, por um período de no mínimo duas semanas, pode estar com depressão maior.
 Se você apresentou apenas alguns sintomas de depressão, também é aconselhável procurar um médico.
 Às vezes, poucos sintomas pode evoluir para depressão maior. Existem formas leves de depressão, porém persistentes ou crônicas.

Outra forma de depressão

Algumas pessoas com depressão apresentam oscilações de humor, que vão do extremo desânimo, (depressão) à euforia excessiva (mania), com duração de dois dias a meses. Nos intervalos entre depressão e mania, essas pessoas sentem-se perfeitamente normais. Essa condição é denominada transtorno bipolar ou doença maníaco-depressiva.
O transtorno bipolar é hereditário. Pode ser também associado a outros problemas médicos, como traumatismo craniano, distúrbios neurológicos ou outras doenças.

Sintomas de mania

 Euforia ou irritabilidade *
 Diminuição da necessidade de sono
 Tagarelice ou sensação de que não consegue parar de falar
 Dificuldade de concentração
 Aceleração do pensamento, com sensação de Ter muitas idéias ao mesmo tempo
 Atitudes que dão prazer, mas cujo efeito é prejudicial (gastar dinheiro demais, atividade sexual inadequada, investimentos financeiros insensatos)
 Idéias de grandeza
 Muitos planos de atividade (no trabalho, na escola ou socialmente) ou necessidade de se manter em movimento

Observação :-

 Se você apresentar quatro desses sintomas incluindo o assinalado com asteriscos *, por um período de no mínimo uma semana, você pode ter tido um episódio de mania.

Causas da depressão

A depressão maior não é causada por apenas um fator. Provavelmente é conseqüência da combinação de fatores biológicos, genéticos e psicológicos. Algumas condições de vida, como estresse extremo, luto, separação, podem desencadear uma tendência natural, psicológica ou biológica, para depressão. Em algumas pessoas a depressão aparecem mesmo quando as coisas estão bem. O consumo excessivo de álcool ou uso de drogas algumas vezes podem levar à depressão. Assim que esses hábitos são interrompidos, a depressão pode desaparecer.
Lembre-se que a depressão maior não é causada por fraqueza, preguiça ou falta de força de vontade. É uma doença que pode ser tratada.

Diagnosticando a depressão, seu médico pode ajudar

 Perguntando sobre sintomas
 Perguntando sobre sua saúde em geral
 Investigando seus antecedentes familiares em relação a doenças em geral e doenças psiquiátricas
 Fazendo um bom exame
 Solicitando exames laboratoriais

Tipos de depressão

Grave, moderada e discreta

 Na depressão grave a pessoa apresenta quase todos os sintomas de depressão, que praticamente a impedem de exercer suas atividades diárias regulares
 Na depressão moderada a pessoa apresenta muitos sintomas de depressão, que freqüentemente a impedem de cumprir suas obrigações
 Na depressão discreta a pessoa apresenta alguns sintomas de depressão, que lhe exigem um esforço adicional para fazer as coisas necessárias

Tipos de tratamento

Para cada tipo de depressão existe um tratamento adequado.

 Medicamento antidepressivo
 Psicoterapia
 Medicamento antidepressivo associado a psicoterapia
Fases de tratamento

A depressão em geral é tratada em duas etapas

 Primeira com tratamento da fase aguda
 Segunda com tratamento de extensão, que compreende uma fase de continuação e, se necessário, uma fase de manutenção

O objetivo da fase aguda é a eliminação dos sintomas da depressão. A continuação desse tratamento por alguns meses é importante para evitar que a doença reapareça.
O tratamento de manutenção é mantido por um período mais longo, está indicado nos casos de depressão recorrente, ou seja, quando a pessoa já apresentou os três ou mais episódios de depressão, separados por intervalos de vários meses ou mais tempo, em que pode se sentir bem, sem sintomas.

Porque a depressão deve ser tratada ?

 O tratamento precoce pode evitar que a depressão se torne grave ou crônica
 Idéias de suicídio são comuns na depressão, o risco de suicídio aumenta quando os pacientes não são tratados e os episódios depressivos se repetem. Quando o tratamento é eficaz, esses pensamentos desaparecem
 Nos intervalos entre os episódios, uma em cada quatro pessoas pode apresentar ainda sintomas e dificuldades para executar as atividades diárias. Essas se não forem tratadas, têm grande chance de desenvolver outro episódio de depressão.
 O tratamento, especialmente com medicamentos, pode evitar novos episódios de depressão. Quanto maior o número de episódios de depressão no passado, maior a probabilidade de desenvolver outro. A maioria das pessoas que tiveram um episódio de depressão vai ter um segundo. Sem tratamento, após dois episódios, as chances de um terceiro episódio (depressão recorrente) são maiores. Depois de três episódios, as chances de um quarto são de 90%.

Medicamentos antidepressivos

Existem diversos tipos de medicamentos antidepressivos que podem ser utilizados para o tratamento. Os medicamentos antidepressivos não criam hábito ou dependência. São eficazes na depressão grave e podem ser úteis na depressão leve a moderada.

Psicoterapia

O objetivo do tratamento agudo só com psicoterapia é eliminar os sintomas de depressão e fazer com você retorne à vida normal.

Tipos de psicoterapia

A psicoterapia pode ser individual, em grupo e familiar.
Os três tipos têm sido mais estudados em relação à eficácia na redução dos sintomas de depressão maior.

 Terapia comportamental – aborda o comportamento atual
 Terapia cognitiva – aborda os pensamentos e crenças
 Terapia interpessoal – aborda os relacionamentos atuais

Não se recomenda psicoterapia como único tratamento na depressão grave ou transtorno bipolar.

Cuidando de você mesmo

Quando se está deprimido, é importante

 Respeitar suas limitações. Não espere fazer tudo que está acostumado a fazer. Estabeleça metas compatíveis com sua condição atual.
 Reconhecer que pensamentos negativos (auto-reprovação, desânimo, expectativa de fracasso e outra idéias desse tipo) fazem parte da depressão. Na medida em que você superar a depressão, os pensamentos negativos também irão desaparecer.
 Evitar tomar decisões importantes durante o episódio depressivo. Se for necessário tomar alguma decisão importante, peça ajuda a seu médico ou terapeuta ou a alguém em quem você confie.
 Evitar o uso de drogas e álcool. Pesquisas demonstraram que o uso excessivo de álcool ou uso de drogas pode desencadear ou piorar a depressão. Além disso, podem reduzir a eficácia dos medicamentos antidepressivos ou produzir efeitos colaterais perigosos.
 Compreender que assim como levou tempo para a depressão se desenvolver, também demorará algum tempo para que ela desapareça.

Pessoas com depressão maior geralmente têm dificuldades no trabalho, na escola e no relacionamento com familiares. Com o tratamento quase todas voltam à vida normal.

Formas de apoiar um membro deprimido da família

 Tente manter um relacionamento o mais normal possível
 Reconheça que a pessoa está sofrendo
 Não espere simplesmente que a pessoa melhore repentinamente
 Envie esforços para que a pessoa decida se tratar e melhorar
 Demonstre afeição, ofereça palavras reconfortantes e faça elogios
 Mostre que você respeita e valoriza a pessoa
 Ajude a pessoa a manter-se ocupada, um membro ativo da família
 Não critique, atormente ou censure a pessoa por seu comportamento deprimido
 Não diga ou faça qualquer coisa que, em sua opinião, poderia piorar a imagem pouco satisfatória que a pessoa já tem de si mesma
 Leve a sério qualquer conversa sobre suicídio e notifique o fato imediatamente ao médico ou ao profissional responsável

Teste para identificar os sintomas de depressão

a- sinto-me miserável triste

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

b- acho difícil fazer as coisas que eu costumava fazer

0 sim, definitivamente ( ) 1 sim, algumas vezes ( )
2 não, não muito ( ) 3 não, absolutamente ( )

c- fiquei com uma sensação de medo ou pânico aparentemente sem nenhuma razão

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )
d- falo choramingando ou tenho exatamente esta impressão

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

e- ainda aprecio as coisas que eu costumava fazer

0 sim, definitivamente ( ) 1 sim, algumas vezes ( )
2 não, não muito ( ) 3 não, absolutamente ( )

f- estou agitado e não consigo permanecer quieto

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

g- consigo adormecer facilmente sem as pílulas para dormir

0 sim, definitivamente ( ) 1 sim, algumas vezes ( )
2 não, não muito ( ) 3 não, absolutamente ( )

h- sinto-me ansioso quando saio de casa sozinho

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

i- perdi o interesse pelas coisas em geral

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

j- fico cansado sem motivo algum

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

k- estou mais irritável do que o usual

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

l- acordo de madrugada e depois durmo mal o resto da noite

0 não, absolutamente ( ) 1 não, não muito ( )
2 sim, algumas vezes ( ) 3 sim, definitivamente ( )

Some os números marcados de todas as questões. Se os pontos somarem 15 ou acima, é recomendado que você mostre o teste ao seu médico e solicite-lhe que o avalie. Se a somatória dos pontos não for alta, mas você suspeitar que está com depressão, converse com seu médico.

domingo, 22 de março de 2009

PSICOSFERA, NOSSO MEIO AMBIENTE ESPIRITUAL


Nubor Orlando Facure


Observar e perceber o mundo que nos cerca tem nuanças de complexidade infinita. O mesmo objeto, uma mesma pessoa ou um mesmo cenário podem despertar interpretações completamente diferentes conforme o sentimento de quem observa.
O mesmo mundo e que vivemos seria outro se aqui só vivessem sonhadores, místicos, poetas ou santos. Em termos neuropsicológicos já sabemos que o nosso cérebro faz reconhecimento do mundo que nos cerca “sonhando” uma idéia a partir do que vai percebendo. Daí a possibilidade do que for feio para um ser bonito para o outro.
Cada objeto que vemos desperta em nós lembranças e vivências que são associadas compondo nosso julgamento sobre este objeto.
Por isto, cada um de nós “sonha” o mundo conforme suas experiências psíquicas.
Podemos dizer que no dia a dia, ao observarmos a realidade que nos cerca, estamos compondo em torno de nós um cenário mental com formas e figuras que nos acompanham.
O mais importante é que é este cenário psíquico quem direcional nossos comportamentos.
Nós sempre reagimos de conformidade com a interpretação que damos às coisas e às pessoas e, como vimos, nossas interpretações são na verdade julgamentos que o cérebro constrói com representações, com idéias que têm forma e movimento.
Considerando todas as mentes humanas capazes de pensar e criar, podemos deduzir que estamos mergulhados num mundo psíquico de proporções gigantescas e, seguramente interferindo uns sobre os outros, induzindo-nos a comportamentos coletivos massificantes.
Quando toda uma população vê uma notícia pela televisão ou lê a mesma notícia nos jornais, estas pessoas estão criando representações mentais com referência a estas notícias reconstruindo e revivendo os cenários e as personagens envolvidas ou citadas nos noticiários. É como se o mesmo acontecimento se reproduzisse em cada mente que se liga ao episódio noticiado.
Nossa grande questão é saber se este “cenário” mental com formas e personagens assim criados, tem alguma “realidade” física semelhante à que estamos inseridos no mundo material.
Na interpretação da física de hoje, o mundo de moléculas e átomos foi substituído por “campos de energia”. O comportamento aparentemente estável da matéria física foi substituído por “ondas” e “pacotes” de energia que se alternam na dependência da opinião do observador.
Portanto, a matéria se densifica em partículas ou se esvai em onda conforme o julgamento mental de quem participa do experimento. Em termos de matéria física, o ser e o desvanecer depende da mente de quem observa o experimento.
A única coisa palpável que restou deste mundo físico de aparência estável é uma “espuma quântica” onde a matéria e a energia se relacionam.
Pelo menos em termos teóricos podemos pressupor outros “estados” de matéria como, por exemplo, a “matéria radiante” sensível aos influxos da mente. A força mental que se expressa em pensamentos cria “onda” e “partículas” que também se coagulam concretizando as formas dos objetos e das pessoas em quem pensamos.
Enquanto a “espuma quântica” solidifica o mundo físico em que nos movimentamos, a “matéria radiante” corporifica o mundo mental que idealizamos. Assim como falamos em higiene e poluição do ambiente físico, podemos falar e, agora sim, falar “concretamente” em limpeza e poluição psíquica.
Estamos todos mergulhados num mundo psíquico mais “concreto” do que possamos supor e, neste ambiente, a seleção das idéias facilitará um clima mental mais saudável ou mais poluído.
Uma simples notícia de jornal, uma conversa que nos emociona, um filme a que assistimos ou um episódio que relatamos criam junto de nós um ambiente psíquico que chamamos de psicosfera. Somos “caixeiro ambulantes” de idéias que podem facilmente nos identificar aos videntes deste mundo psíquico.
Estas formas-pensamentos um dia farão de etiologia das doenças, principalmente psicossomáticas, e o médico aprenderá a prescrever a prece e a meditação para equilíbrio da nossa psicosfera.
Cada um de nós terá uma responsabilidade individual para construir seu próprio mundo mental selecionando o que fala, o que vê, o que ouve, o que lê porque tudo isto implica em incorporar para sempre matéria mental em nosso psiquismo.
Crises Psíquicas - Nas fronteiras da Epilepsia

Nubor Orlando Facure

De maneira geral o leigo reconhece a Epilepsia como uma crise assustadora e repugnante em que o indivíduo desmaia e cai ao solo se debatendo em contrações. A Bíblia faz relatos de crises que atribui a atuações "demoníacas" que lembram as manifestações epilépticas mantendo por milênios confusão e preconceitos. Dostoiewisk e Machado de Assis, portadores de epilepsia, utilizaram-se de protagonistas de seus romances para descreverem suas próprias crises. Vultos ilustres da História tiveram epilepsia mas, para o homem comum , é na sarjeta das ruas que ele costuma tomar contato e se amedrontar com a violência da crise convulsiva.
Embora Hipócrates tenha feito em seus escritos uma brilhante descrição da crise de Grande Mal, indicando o cérebro como o responsável por toda esta sintomatologia, a Epilepsia foi tida como uma doença mental pelos séculos afora e só depois do surgimento da Neurologia no século passado é que a Epilepsia passou a ser compreendida como uma síndrome decorrente de uma lesão orgânica no cérebro.
Hoje se entende a epilepsia como uma descarga elétrica desorganizada que atinge os neurônios cerebrais provocando sintomas correlacionados com a área cerebral afetada.
Embora os relatos mediúnicos do porte de Missionários da Luz ditado pelo espírito André Luiz façam descrições inconfundíveis de sintomatologia epiléptica em seus protagonistas, submissos à interferência espiritual francamente obsessora, a medicina de hoje rejeita qualquer presença espiritual na gênese de crises epilépticas, especialmente pelo temor de ver ressurgir a nefasta participação de "demônios" dos antigos textos bíblicos que a Idade Média e a Inquisição souberam tirar proveito.
Os exames sofisticados de hoje identificam os traumas, as infeções, os tumores e as degenerações entre diversas outras causas de natureza orgânica para a etiologia da Epilepsia, entretanto, nenhum destes exames está apropriado para detectar as vibrações do plano espiritual que nos fariam compreender mais profundamente a natureza essencial do problema da Epilepsia.
Nem sequer de longe pretendemos excluir a gênese cerebral da manifestação epiléptica mas, a visão exclusivamente materialista da Medicina tradicional a envolve de um obscurantismo estúpido que não lhe permite identificar um outro universo de interferência situado na dimensão espiritual que, como causa ou como agravante, interfere na freqüência e na constelação de sintomas que o epiléptico manifesta.
Negando a existência do Espírito a Medicina não consegue enxergar que, através do próprio estudo da Epilepsia ela teria muito o que aprender, Por exemplo, com o que os pacientes epilépticos vivenciam durante as chamadas "crises psíquicas" , nas quais, observa-se uma riqueza de expressão clínica cognitiva, que o simples desarranjo de neurônios em "curto-circuito" não tem argumentos para justificar.
Na classificação das crises epilépticas a Neurologia destaca um tipo de crise chamada de Crise Focal ou Parcial em que não há comprometimento da consciência e a sintomatologia será decorrente do local no cérebro afetado pela descarga neuronal desorganizada. Na área motora o paciente irá apresentar contrações musculares na mão, no braço , na perna ou em qualquer outra parte do corpo correspondente a região motora do cérebro afetado.
Numa área sensitiva os sintomas serão referidos como adormecimentos, sensações estranhas ou deformações no membro atingido.
É no grupo das crises focais que estão incluídas as crises psíquicas, nas quais, o paciente relata sensações subjetivas que experimenta espontaneamente podendo ter duração de minutos, horas ou dias.
As descrições clássicas das crises psíquicas fazem referência mais comumente às crises de "Dejà vú" e de "Jamais vú". Estes dois quadros são reconhecidos como decorrente de lesões na base do cérebro na região dos lobos temporais. No "Dejà vú" (já visto), o paciente relata uma sensação de familiaridade com o ambiente ou com as pessoas mesmo que lhe sejam estranhas e que ele as estejam vendo pela primeira vez. Num local que lhe seja completamente desconhecido o paciente ao ter sua crise sente uma forte impressão de que já conhece ou já estivera naquele lugar.
Na crise de "Jamais vú" (jamais visto) o paciente manifesta sensação de estranheza em lugares conhecidos ou por pessoas da sua convivência.
Ambas situações que descrevemos podem ocorrer ocasionalmente com qualquer pessoa normal, mas, no epiléptico, estas sensações são comumente repetitivas e duradouras.
Muitos epilépticos apresentam crises psíquicas freqüentes mas que tem merecido pouco destaque por parecerem corriqueiras como as mudanças súbitas de humor, um entristecimento súbito ou uma agressividade imotivada e desproporcional que pode beirar à violência.
Neste artigo, estou interessado em relatar outros tipos de crises psíquicas, relativamente raras em que os próprios pacientes tem muita dificuldade em achar termos adequados para descreve-las. Elas merecem ao meu ver um estudo meticuloso procurando-se valorizar as verdadeiras sensações destas experiências subjetivas que os pacientes procuram nos passar, sentindo inclusive, com freqüência, a incredulidade com que a maioria dos médicos manifestam ao ouvi-los.
Os relatos destas crises, à primeira vista parecem inconsistentes, inverosímeis, superficiais, misturando-se com os sintomas da própria ansiedade com que os pacientes convivem quando vítimas deste tipo de crise. Elas podem ser muito demoradas e não tem o caráter ictal de subtaniedade das crises convulsivas. Não há uma afetação da consciência mas sim da percepção de funções complexas como da noção de tempo, do espaço, da realidade, do movimento, da noção do Eu e até do pensamento.
Estas várias sensações ao nível da vivência psíquica do indivíduo, a mim parecem fornecer preciosa observação da fronteira entre as experiências vividas física ou espiritualmente por estes pacientes.
Uns poucos relatos que fizeram estes pacientes, me ajudaram a confirmar que o mundo mental de cada um de nós transita numa dimensão espiritual que transcende a experiência física. Um deles é médico, freqüenta meu consultório desde garoto por ter convulsões decorrentes de neurocisticercose e recentemente procurou-me com uma certa inquietação tentando relatar, ele acompanhado pela esposa que, nos últimos dois dias tinha perdido a capacidade de acompanhar a passagem do tempo. Não era a identificação do tempo das horas ou do dia e da noite. Ele dizia ser uma perda da "noção do tempo". Os acontecimentos processavam-se na sua mente e quando ele se dava conta estes acontecimentos já tinham acabado de ocorrer.
Ao dirigir-se para seu consultório conduzindo seu carro pela estrada, fazia as curvas, mas sempre com a idéia de que isto não lhe tomava tempo, porque ocorria na sua mente, literalmente falando, antes de acontecerem fisicamente. O que tinha em mente, do trajeto que percorria, não era uma imaginação, era o próprio acontecimento . Dizia que não lhe fazia sentido o antes ou o depois porque tudo que ocorria em seqüência ele vivenciava ocorrendo simultaneamente.
Sua esposa o ajudava como auxiliar de anestesia e na entrevista me contava que apesar de permanecer o tempo todo com estas sensações que descrevia ele procedia normalmente enquanto anestesiava seus pacientes, apenas dizia que, toda atitude que tomava já lhe parecia ter ocorrido não como uma premunição mas como um acontecimento "já feito" , se assim podemos dizer por ele, e, ao terminar a anestesia, para sua mente, os fatos lhe pareciam continuar acontecendo.
A neurologia descreve, também, um estado de crise psíquica em que o paciente tem a sensação constante de estar vivendo um sonho. É chamado de "Dreamy States" pelos clássicos.
Tivemos dois pacientes que nos relataram episódios em que sentiam uma alteração no que eles chamavam de "realidade". Uma jovem senhora referia que estas sensações a perturbavam há anos. Principalmente a noite e se estivesse perto de muitas pessoas. Isto a deixava insegura. Parecia fazer as coisas por instinto. Insistia em dizer que nas crises tinha a sensação de estar vivendo em um "estágio antes da realidade".
Um outro paciente com crises semelhantes acrescentava que também tinha a impressão de "não estar vivendo a realidade" e, tudo que fazia, para ele, "não tinha conteúdo emocional".
Duas crianças e dois adultos jovens que já acompanhávamos por antecedentes de convulsões, nos relataram episódios percepção alterada no movimento dos objetos e do próprio pensamento.
Ouvi deles expressões do tipo: "Os movimentos das coisas e das pessoas parecem acelerados"; "quando estendo as mãos para pegar um objeto parece que meus gestos são muito rápidos"; "as pessoas atravessam a rua muito depressa"; "fica difícil atravessar a rua com os carros todos correndo"; "tudo ao redor parece estar acelerado"; "as pessoas parecem falar muito rápido". Um dos garotos dizia ser acordado pela crise. Para um deles, o seu próprio pensamento, quando em crise, parecia ser acelerado.
Nestas horas ele evitava o diálogo com receio de demonstrar aos outros alguma perturbação. Um destes pacientes, com 23 anos é pintor e dizia que nas crises sentia que tudo se passava lentamente, seus próprios gestos ao lidar com o pincel lhe parecia ser feito em camera lenta embora os seus colegas não confirmassem esta vagaresa. Ele se sentia assim por mais de uma semana seguida entrando e saindo das crises sem qualquer motivo aparente.
Uma senhora que também acompanhávamos por ter desmaios, tinha um eletrencéfalo com alterações focais no hemisfério esquerdo e uma tomografia cerebral típica de neurocisticercose. Ela contava que vinha tendo episódios em que parecia se deslocar, se sentia estar muito longe, "como se num outro mundo", "ocupando um outro espaço". Estes episódios duravam 20 minutos e a seguir, mantendo-se sempre muito lúcida, ela sentia a cabeça vazia, ficava pálida e ofegante.
Outros quadros, mais complexos e as vezes muito elaborados, tem sido rotulado como alucinatórios e comumente relacionados com as disritimias do lobo temporal ou as patologias do sono.
Alguns pacientes se dizem sentir fora do corpo, sensação que a neurologia chama de “despersonalização”. Para outros, os objetos que vêem ou os sons que ouvem, estão aumentados, diminuídos ou distorcidos. As vezes, há uma concentração de cenas e episódios memorizados e o paciente, num relance, recapitula toda sua existência. Dá-se o nome de “visão panorâmica” da vida.
Tivemos, entre muitos outros, o caso de uma garota de 9 anos, que nos consultava devido manifestações comuns de epilepsia. Ela nos relatou que por algumas ocasiões, estando absolutamente desperta, se sente saindo do seu corpo em completa lucidez. Numa destas últimas crises estava sentada no sofá, assistindo televisão, quando, subitamente, se vê de pé, ao lado do corpo físico. Questionei sobre seus medos nesta hora e qual sua atitude ao se ver nesta duplicidade.
Ela respondeu-nos com muita simplicidade que assustada procurou se dirigir para perto da televisão para ver se o seu corpo ali sentado a acompanhava.
Os quadros que descrevemos acima não surpreenderiam a qualquer neurologista habituado a atender casos de epilepsia. Seguramente serão atribuídos à presença de distúrbio da atividade neuronal especialmente do lobo temporal e a maioria deles vai se ver livre destas crises com medicação disponível para atuar especificamente nas disritimias desta região.
É curioso, entretanto, que, estas descrições, ao relatarem como estes pacientes vivenciam ou "decodificam" a noção do sentido do tempo, da apreensão da realidade, da relação espaço-tempo no deslocamento dos objetos, da síntese e projeção do pensamento, nos permite despretensiosamente conjeturar uma série de semelhanças com certas descrições não acadêmicas na literatura espiritualista.
Os textos especializados em descrições sobre técnicas de meditação, Por exemplo, revelam que os "grandes mestres" e "místicos" que atingem os graus mais profundos de interiorização da consciência , fazem interessantes descrições em relação ao sentido do tempo, ao espaço ocupado pela matéria, à velocidade das partículas de matéria/energia que sintonizam, bem como, o turbilhão do fluxo do pensamento descrições estas que a meu ver tem correspondência muito provocativa com as dos epilépticos que aqui registramos.
Para nós espíritas, os conceitos de tempo no mundo espiritual, de espaço na dimensão extra-física, de projeções do pensamento, de deslocamento do corpo espiritual podem ser facilmente reconhecidos nesta serie de estórias que registramos. As lesões objetivas que a massa cerebral evidencia nestes quadros são para mim, nada mais que portas de intercessões entre as duas dimensões, a expressão física de uma realidade que o corpo nos permite palpar e a percepção espiritual que vivenciamos sem os sentidos perceberem.

sábado, 14 de março de 2009

Entrevista à Revista Internacional de Espiritismo

RIE
QUANDO FOI FUNDADO E A QUE SE DESTINA O INSTITUTO DO CEREBRO DE CAMPINAS ?

O Instituto do Cérebro foi fundado em 1987 com o propósito de integrar profissionais das áreas de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia interessados em estudar o dilema da interação cérebro - mente tendo como paradigma a existência da alma. Com isto, permitimos que nossos profissionais e nossa clientela se sintam sem compromissos com as exigências acadêmicas que nos impede de se explorar por inteiro a transcendência do ser humano.

RIE
O INSTITUTO É UMA ENTIDADE ESPIRITA ?

Como Instituição não. É uma Clínica de Neurologia com os registros profissionais e sociais pertinentes à atividade médica tradicional.

RIE
E O SR É ESPIRITA ? QUAIS SÃO AS SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS ?

Sou espírita desde os sete anos de idade, tendo recebido esta orientação dos meus pais freqüentando centros espíritas de Uberaba onde nasci. Formei-me em medicina, também em Uberaba e, me especializei em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas de São Paulo. Fui professor nesta área, na UNICAMP, durante 30 anos tendo me aposentado em 1995 como Professor Titular de Neurocirurgia. Atualmente me dedico em tempo integral às atividades neurológicas do Instituto do Cérebro. Em todas atividades que exerci, particularmente como professor universitário, tive oportunidade de expressar com sinceridade e clareza meu pensamento espírita especialmente quando se tratava de analisar o porque do sofrimento humano. Trabalhando na neurologia com o cérebro e as doenças mentais, não ha como não se comprometer a importância e a segurança do espiritismo no esclarecimento da complexidade da mente e seus distúrbios.

RIE
COMO É FEITA A INTEGRAÇÃO MENTE CÉREBRO --CORPO/ESPIRITO ?

A Neurologia de hoje ainda não tem uma interpretação adequada para este dilema. Na interpretação oficial, acadêmica, a mente, é um simples produto emanante da atividade cerebral. É como se exigir que o relógio funcionando pudesse ser responsável pelo tempo. Neste sentido, o espiritismo fornece um paradigma mais adequado, não só por readmitir a mente como expressão do espírito, mas também por esclarecer que entre o cérebro e a mente existe um elemento intermediário, transdutor desta interação, que é o perispírito. A participação do perispírito permite a compreensão adequada para os fenômenos tanto dos que se processam no cérebro como, dos que emanam do espírito. O Livro dos Médiuns, o Livro dos Espíritos e as obras de André Luiz são definitivas para o esclarecimento destas questões.



RIE
NEUROLOGICAMENTE FALANDO COMO SE PROCESSA O FENOMENO MEDIUNICO ?

Allan Kardec reafirma várias vezes no Livro dos Médiuns que o fenômeno mediúnico se processa no cérebro do médium e sempre com a participação deste.
Como neurologista, posso, com a cautela necessária, sugerir que o fenômeno mediúnico é um processo de automatismo complexo, realizado através do cérebro do médium, sob a atuação de entidades espirituais que se sintonizam com o médium. Dispomos no nosso cérebro de centros de atividades automáticas para as diversas atividades motoras que nos permitem, por exemplo, falar fluentemente, escrever rapidamente, pintar ou dedilhar um instrumento musical. Estas áreas expressam suas atividades com pouca participação da consciência. Nenhum de nós quando fala, escreve ou digita um computador, precisa se deter para escolher letras , palavras ou frases. Uma vez estando treinados, este processo flui rapidamente pela nossa voz quando falamos ou pelas nossas mãos quando escrevemos. Desde que o médium possa deslocar seu foco de consciência, o espírito comunicante pode se ocupar dos núcleos de atividade automática do cérebro do médium e fazer transcorrer por ali os conceitos da sua mensagem. Esta interpretação traz diversos outros desdobramentos que, uma entrevista como esta, não tem espaço suficiente para discorrermos, mas, vale a pena meditarmos sobre eles.

RIE
E A OBSESSÃO ?

Acreditamos que a obsessão está presente numa grande maioria das perturbações da mente. As idéias fixas, as exigências sistemáticas que fazemos para nossos privilégios, os desvios de comportamento que nos conduzem à violência e à agressão contra o próximo, as querelas do dia a dia dentro ou fora de casa, são portas abertas para os processos de obsessão. E, é através do cérebro, perdendo o controle da nossa capacidade de decidir ou cedendo forças aos nossos instintos primitivos é que seremos dominados pelas entidades comprometidas com nosso passado.

RIE
QUAL O PAPEL DA EPIFESE ( OU GLANDULA PINEAL ) NESSES FENOMENOS ?

André Luiz destacou mais de uma vez a importância da pineal na sintonia da mente entre o médium e o espírito comunicante. A ciência neurológica, por enquanto, descreve a pineal com uma glândula de localização profunda no cérebro, relacionada com a pigmentação da pele, com o ritmo circadiano (dia e noite) e com o despertar do desenvolvimento dos caracteres sexuais genitais. Tem-se escrito muito sobre a melatonina secretada pela glândula pineal. Este hormônio tem uma ação relaxante, tranqüilizante, discreta o que tem servido para que, na literatura leiga, se propague uma série de propriedades que a nosso ver são balelas e panacéias sem fundamento.

RIE
EXISTE REALMENTE ANIMISMO NO FENOMENO MEDIUNICO ?

Conforme dissemos acima, o fenômeno mediúnico, de efeito intelectual, se processa através do cérebro do médium. Isto implica em que sistematicamente, em toda manifestação mediúnica ocorre uma co-autoria no conteúdo da comunicação, independentemente de estar o médium consciente ou não de sua participação ou interferência. É clássico se dizer que em todo fenômeno mediúnico existe animismo ,assim como, em todo fenômeno anímico existe assistência espiritual, portanto, também um processo de mediunismo.

RIE
QUAL A EXPLICAÇÃO PARA AS CHAMADAS “ EXPERIENCIAS FORA DO CORPO “ ( OBE-OUT OF BODY EXPERIENCES ) ?

A literatura espírita é riquíssima em relatos de médiuns que vivenciaram estas experiências e muitos livros foram ditados a estes médiuns a partir destes desdobramentos conscientes do corpo espiritual. Psiquiatras americanos tem propagado as descrições destas experiências, cativando um público muito grande, seduzido por expressões novas, mas, que em sua essência nada acrescentam ao que já se conhece com mais profundidade nos livros espíritas como, por exemplo, os da excelente médium Yvone Pereira ( Memórias de um suicida, Recordações da Mediunidade, Devassando o Invisível, Nas telas do Infinito ).
O espírita estudioso sabe que estes fenômenos são perfeitamente possíveis quando se aprende que o perispírito pode se desprender com mais ou menos facilidades dos laços que o prende ao corpo e se deslocar vivenciando o cenário do mundo espiritual. Em algumas pessoas esta vivência pode se tornar consciente e se fixar nos centros de memória do cérebro físico. O que lhes permite descrever, com a capacidade que cada um tem de interpretar o que vivenciou, a experiência que teve “do outro lado” da vida.

RIE
E PARA OS CHAMADOS EQMs ( “EXPERIENCIAS DE QUASE MORTE “) ?

Pacientes vítimas de traumatismos cranianos, de parada cardíaca ou de acidentes anestésicos ao recuperarem a consciência tem referido percepções de cenários fora da realidade física onde se localizavam. Freqüentemente descrevem atravessar um túnel e posteriormente visualizarem lugares luminosos onde podem estar presente familiares ou possíveis entidades espirituais que os confortam, amparam e os estimulam a retomarem o corpo para continuarem a existência na Terra. Possivelmente estes indivíduos podem estar com seu cérebro alterado quimicamente pelo trauma ou por drogas usadas na ressuscitarão e de alguma maneira estas mudanças químicas facilitem sua excursão, quase sempre de curta duração, pelas dimensões do mundo espiritual.


RIE
QUAIS SÃO AS NOVIDADES NA ALIANÇA ENTRE A MEDICINA E O ESPIRITISMO ?

Na busca do Homem integral, o Espiritismo permite à Medicina, inserir em seus conceitos a existência da Alma e do corpo espiritual, da dinâmica das vidas sucessivas, das leis de ação e reação em termos morais para justificar as causas dos nossos sofrimentos, a importância do nosso equilíbrio mental através da boa conduta e da oração, o significado das leis de evolução biológica e espiritual, esclarecendo que todos estamos predestinados à perfeição na medida do nosso esforço individual para dominarmos nossas más tendências e que a doença é um processo de resgate do equilíbrio com nossas necessidades espirituais e uma oportunidade de iluminação e crescimento.
Temos visto nos últimos anos um interesse crescente por temas ligados à doutrina espírita, mesmo no meio universitário onde, freqüentemente, ha uma certa rejeição aos conceitos
espiritualistas.
Entrevista: Nubor Orlando Facure – Neurocirurgião e diretor do Instituto do Cérebro de Campinas.
Tema: Criança anencéfala continua viva


Um caso de anencefalia tem gerado indagações de profissionais da saúde, estudiosos e da sociedade brasileira. Estamos falando da bebê anencéfala (nascida apenas com o tronco cerebral, sem encéfalo), dia 20 de novembro do ano passado, Marcela de Jesus Ferreira – hoje com seis meses de vida, natural de Patrocínio Paulista, cidade localizada na região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
Segundo depoimento da pediatra da pequena Marcela, Márcia Beani Barcellos, veiculada no Jornal ‘O Estado de São Paulo’, de 20 de maio de 2007. “ Em teoria, uma criança anencéfala não teria dor, fome, sentimento, frio, mas Marcela prova justamente o contrário, pois ela tem frio, dor, sente a presença da mãe, chora quando tem desconforto, emite sons e respira um bom tempo sem o auxílio do aparelho de oxigênio. [...] Ela pede colo, gosta de tomar banho.”
A mãe do bebê, Cacilda Galante Ferreira, é católica fervorosa, de família simples e muito esclarecida. “Sofrer a gente sofre, mas ela não pertence a mim, mas a Deus, e eu cuido dela aqui com muito amor [...].Enquanto isso, cada segundo da vida dela é precioso pra mim, em nenhum momento da gestação pensei no aborto”.
Sendo este um assunto digno de melhor compreensão, ‘O Tagarela’ entrevistou o neurologista e espírita, Nubor Orlando Facure, que aceitou esclarecer este distúrbio de anencefalia no âmbito fisiológico e espiritual, para que possamos compreender que este tipo de má-formação tem uma explicação científica-espiritual e que o fato da pequena Marcela ainda estar viva, nada tem de espetacular e nem de milagroso, mas sim – a prova viva da magnitude do Criador. Boa leitura!

1) A anencefalia pode ser considerada uma doença cármica?
Não gosto dessa expressão “doença cármica”. Da idéia de uma punição irremediável.
Usa-se muito o conceito de carma no meio espírita com um certo exagero, nos fazendo supor que temos que passar por situações impositivas em decorrência de comportamentos e erros que cometemos no passado. No Espiritismo compreendemos as doenças como sendo oportunidades de resgate, de redenção de nossas culpas e principalmente de crescimento espiritual. Mais que uma punição, as doenças trazem lições para o paciente e para seus familiares. É importante aprendermos a lições que o sofrimento nos oferece, não com a submissão inoperante que nos sugere suportar sem reclamar, mas, com atitudes nobres que nos permitam superar as adversidades.
Anencefalia como qualquer outra situação grave, não precisa ser vista como sentença cármica. Doença grave no corpo apressa correção no espírito.


2) Que tipos de imperfeições do espírito poderiam levar o indivíduo a escolher reencarnar como um anencéfalo?
A literatura espírita confirma que nada ocorre por acaso. Não sabemos quais são as causas profundas que justificam um situação tão grave como a que ocorre na anencefalia. Podemos apenas conjecturar que o dano cerebral deve ocorrer naquelas criaturas extremamente desajustada psiquicamente e que agora buscam um novo corpo na tentativa de recomporem sua anatomia perispiritual para se inserir de novo entre nós com uma mente renovada.


3) Especialistas da medicina afirmam que uma criança anencéfala, não pode ver; ouvir; sentir dor; frio; calor; e até a comparam com um ‘vegetal’. Como explicar o caso da pequena Marcela, que segundo sua mãe sente sua presença, gosta de tomar banho, pede colo, tem frio, sente dor, chora quando está em desconforto, emite sons e respira um tempo sem os aparelhos?
Como neurologista estou acostumado a ver fenômenos surpreendentes na fisiologia do cérebro. Um deles é a sua plasticidade. A perda de uma área anatômica não significa sempre a perda da sua função. Existe a possibilidade de outra área executar a função perdida. Ainda não está definido o quanto de cérebro precisamos possuir para expressarmos sentimentos e emoções.

4) Qual é o papel dos pais e da família nesses casos de anencefalia? Haja vista, que no caso de Marcela, os pais têm apresentado intensa preparação espiritual, já que dispensam amor e carinho necessário ao bebê.
Mesmo sabendo da gravidade da anencefalia e da curtíssima duração que costumam ter essas crianças, convém pensarmos no grande gesto de amor e caridade que essa família e principalmente essa mãe estão fazendo em favor do resgate espiritual que está em curso nessa vida tão breve. No caso da Marcela, ela está ocorrendo num momento extremamente importante para servir de alerta aos nossos ilustres juizes que inadvertidamente tem aceitado uma falsa argumentação médica autorizando aborto em caos de anencefalia. Creio que agora eles tem uma demonstração viva do erro que estariam cometendo .
5) De acordo com especialistas da saúde, a anencefalia afeta mais meninas do que meninos. Isso é verdade? Espiritualmente, qual a explicação para este fato?
Realmente, a anencefalia ocorre três vezes mais em meninas do que em meninos. Desconheço as razões espirituais que justifiquem essa desigualdade.


6) Qual a importância para a ciência acadêmica, o reconhecimento da existência da mente fora da matéria?
Quando a Medicina aceitar que a mente transcende o cérebro estaremos adotando um novo paradigma que terá implicações extraordinárias para toda Ciência Médica. É assim que vê o Espiritismo. A mente, é sinônimo de Alma, de Espírito. Ela, portanto, é imortal, experimenta múltiplas encarnações, está destinada a evoluir incessantemente e usa o cérebro como instrumento de sua expressão no mundo físico por onde circulamos.

7) Os espíritos afirmam que, há os natimortos que não foram destinados a encarnação de um espírito, seria licito a utilização nas pesquisas científicas dos embriões descartados na inseminação artificial.
Trata-se de uma situação grave e polêmica. Experimentar com a vida nessas circunstâncias é temerário e pode agravar nossos compromissos espirituais.

8) As pesquisas com célula tronco poderá chegar a regenerar parte do nosso cérebro?
A Ciência inúmeras vezes rompeu as fronteiras do impossível. Mesmo considerando a complexidade dos neurônios e de suas redes funcionais, tudo é possível. Nenhum de nós esta autorizado a fazer previsões que não possam ser superadas.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Doença de Alzheimer

Escala de avaliação de atividades da vida diária.

Esta escala contem atividades habituais divididas em 17 categorias.
Caso exista dificuldade a distúrbios não cognitivos como alterações motoras ou sensórias, anote este fato como observação no fim do teste. Considere a capacidade de executar a atividade, mesmo que não a execute efetivamente.

Tarefas domésticas.

0- Normal. É capaz de executar bem tarefas como fazer compras, arrumar quarto e cozinha.
1- Executa estes tipos de tarefas se houver alguma orientação.
2- Executa algumas tarefas sob orientação constante.
3- Incapaz de realizar tarefas domésticas.

Atividade profissional.


0- Normal. Continua a trabalhar sem problemas.
1- Apresenta alguns pequenos problemas.
2- Trabalha em funções mais fáceis.
3- Não trabalha mais.

Manuseio de dinheiro

0- Normal. Compreende bem o valor do dinheiro; capaz de usar cheque (se estava habituado).
1- Confunde-se um pouco mas ainda paga contas e é responsável pelo seu dinheiro.
2- Manuseia pequenas somas de dinheiro mas comete erros freqüentes.
3- Incapaz de manusear dinheiro.

Uso do telefone.

0- Normal.
1- Faz ligações para alguns números conhecidos.
2- Apenas responde às chamadas.
3- Não usa o telefone de forma alguma.
Consertos domésticos.
0- Normal. Executa todos os consertos costumeiros.
1- Executa pelo menos metade dos consertos costumeiros.
2- Ocasionalmente, executa pequenos consertos.
3- Não executa mais quaisquer consertos.

Uso de eletrodomésticos.

0- Normal. É capaz de utilizar eletrodomésticos corretamente.
1- Comete erros eventualmente.
2- Comete muitos erros mas ainda utiliza eletrodomésticos.
3- Incapaz de utilizar eletrodomésticos.

Entretenimento.

0- Normal. Acompanha fatos correntes (atualidades), lê e assiste TV, capaz de participar de jogos.
1- Acompanha parcialmente atualidades, confunde-se um pouco com o enredo de novelas e filmes, capaz de participar de jogos simples.
2- Assiste TV mas compreende pouco, não acompanha atualidades.
3- Não é capaz de assistir TV ou de interessar por atualidades.

Orientação espacial.

0- Normal. Orienta-se até por caminhos desconhecidos, capaz de utilizar mapa ou informações para atingir seu objetivo.
1- Orienta-se apenas em caminhos conhecidos.
2- Perde-se na vizinhança.
3- Desorientado dentro da própria casa (por exemplo :- vai à cozinha quando quer ir ao banheiro).

Orientação interpessoal.

0- Normal. Identifica corretamente pessoas e suas funções.
1- Comete alguns erros de identificação.
2- Confunde freqüentemente parentes distantes ou pessoas conhecidas.
3- Não identifica corretamente familiares próximos.
Relacionamento familiar.

0- Normal.
1- Menos tolerante; menos interessado ou excessivamente preocupado.
2- Quase não participa da vida familiar.
3- Não reconhece perfeitamente os familiares.

Relacionamento com os amigos.

0- Encontra-se com os amigos normalmente.
1- Encontra-se com os amigos com menor freqüência.
2- Aceita visitas, mas não procura companhia.
3- Recusa-se a manter relacionamento social, insulta os visitantes ou não os reconhece.

Ingestão de comprimidos ou remédios.

0- Normal. Lembra-se de tomar a dose sem precisar de ajuda.
1- Lembra-se de tomar a dose caso ela seja mantida em lugar especifico.
2- Precisa de lembretes verbais ou escritos.
3- É preciso que outras pessoas lhe dêem os remédios.

Interesse na aparência pessoal.

0- Usual.
1- Interessa-se no caso de sair, mas não se interessa se for ficar em casa.
2- Deixa-se arrumar ou permite que o arrume apenas quando assim solicitado.
3- Resiste às tentativas do acompanhante para asseá-lo e arrumá-lo.

Higiene pessoal.

0- Normal., sem necessidade de supervisão.
1- Necessita supervisão, mas vai ao banheiro e toma banho sem auxilio.
2- Necessita ajuda e orientação para os cuidados.
3- totalmente dependente.

Hábitos alimentares.

0- Normal. Alimenta-se corretamente, com utensílios apropriados.
1- Alimenta-se só com colher, sem higiene.
2- Capaz de comer apenas sólidos, (pão, biscoitos).
3- Necessita ser alimentado.

Capacidade de vestir-se.

0- Normal.
1- Às vezes abotoa erradamente.
3- Não se veste sozinho.

Controle esfincteriano.
0- Normal.
1- Enurese noturna ocasional.
2- Enurese noturna freqüente.
3- Incontinência.

Observações :-

Escreva aqui algumas considerações importantes.

ESTÁGIOS DA DOENÇA DE ALZHEIMER

AVALIAÇÃO

Estágio 1

Nenhuma deterioração funcional objetiva ou subjetiva

- habilidades ocupacionais, sociais e outras preservadas.

Diagnóstico Função cognitiva normal

Prognóstico Excelente


Estágio 2

Deterioração funcional --subjetiva sem comprometimento no desempenho das atividades sociais e ocupacionais

-esquecimento de nomes e locais
-esquecimento de localização de objetos
-diminuição da capacidade para guardar compromissos

Obs -Esses decréscimos, geralmente, não são notados por pessoas próximas e não há comprometimento das atividades sociais e ocupacionais.
Os sintomas subjetivos, comuns à idade, podem estar associados a desordens afetivas e ansiedades.

Diagnóstico- Funcionamento cognitivo compátivel com o desenvolvimento normal da idade.

Prognóstico- Excelente

Estágio 3

Deterioração funcional objetiva comprometendo tarefas ocupacionais e sociais complexas

- intensificação da perda de memória
- comprometimento das atividades psicomotoras
- diminuição das atividades sociais e ocupacionais ( evitar ansiedade e situações embaraçosas )
- sem dificuldades nas tarefas de rotina, embora haja alteração sutil do estilo de vida

Diagnóstico- Funções cognitivas ainda compatíveis com níveis de normalidade onde predominam quadros de ansiedade.

Prognóstico- Bom, durante 3 a 4 anos de evolução
Deterioração cognitiva em mais de 80% dos casos.


Estágio 4

Deficiência no desempenho das tarefas complexas de vida diária

- discalculia
- dificuldade em planejar e executar tarefas
- com familiares ainda funcionam independentes
- sem familiares pode haver funcionamento comprometido, impossibilidades relacionadas à sua rotina
- dificuldade para planejar e executar compras

Diagnóstico- Funcionamento cognitivo prejudicado

Prognóstico- 72% ---> piora, podendo evoluir para a morte

28% ---> estáveis por 3 a 4 anos

Estágio 5

Desempenho deficiente em tarefas básicas de vida diária como escolher suas próprias roupas.
Deficit patognomônico deste estágio

- passa a ser dependente de familiares
- necessita de auxílio em afazeres e escolha de roupas
- se esquece do banho. Faz quando lembrado
- dificuldade para dirigir, cometendo erros primários
- ainda há julgamento crítico embora prejudicado
- distúrbios afetivos como :- choro fácil, ansiedade, alterações no sono

Diagnóstico- Função cognitiva prejudicada ( moderada )

Prognóstico- Ruim, deterioração superior em 3 a 4 anos.

Estágio 6

Dispraxia para vestir-se e banhar-se

5 substágios

6a- dispraxia para vestir-se. Dificuldades para amarrar e colocar sapatos. Dificuldade ou escolha inadequada da roupa

6b- não consegue banhar-se sòzinho
não lava-se ou seca-se completamente

6c- decréscimo na habilidade para desempenhar mecanicamente a independência e limpeza higiênica
ocasionalmente incontinência urinária

6d- incontinência urinária

6e- incontinência fecal

Diagnóstico- Funcionamento cognitivo moderadamente severo

Prognóstico- Hospitalização frequente, morte em aproximadamente 4 anos

Obs:- agitação psicomotora
sintomas psicóticos com alucinações visuais e auditivas

Estágio 7

Perda da linguagem, locomoção e consciência

6 subestágios

7a- vocabulário limitado

7b- vocabulário limitado a palavras únicas, sim, não, ok, em qualquer circunstância,passa a ser ininteligível

7c- perda da capacidade de andar ( por deterioração cognitiva )

7d- perda da capacidade de sentar

7e- - perda da capacidade de sorrir
- não há reconhecimento de pessoas, familiares ou objetos
- reflexo de Grasp preservado
- reação de alerta presente

7f- - perda da habilidade para erguer a cabeça
- necessidade de SNG para alimentação
- emissão de ruídos sem relação com estímulos externos

Prognóstico - Ruim
Fragmentos
Nubor Orlando Facure

O que nos faz humanos é a nossa capacidade de dizer não, querendo dizer sim

O cérebro decompõe sensações e recompõe percepções.

Consciência é a propriedade que nos permite perceber a realidade interna e externa

A Consciência resulta da construção da idéia, mas, ela não é a idéia, ela é o ser que a constrói

Comportamento é a atividade mental expressa numa conduta.

Os animais são capazes de se expressarem por uma linguagem que nos permite compreendê-los. Isso é mais do que um comportamento, é uma atividade mental complexa.

A realidade interna – de uma ameaça, por exemplo, – é diferente da realidade externa.

Vários estímulos ambientais expandiram o cérebro – isso nos dá a impressão de que o cérebro cresce em função do que fazemos.
No entanto, o cérebro de hoje já está pronto para muitas coisas que só faremos no futuro.
Ele é o mesmo há 200 mil anos, época em que não tínhamos computador, games ou celular multifuncional.

O mundo foi feito de fogo, água, terra, ar e, ....pólvora

A “evolução das espécies” é verdadeira
A “sobrevivência dos mais aptos” também
A “seleção natural” é correta
Nas variações casuais (mutações genéticas) age Deus

Psicologia é o estudo da atividade mental vivida internamente ou expressa externamente - revelada por nossos comportamentos.


Confirmei que uma paciente tinha Doença de Alzheimer. A filha me diz que seu médico em Minas e os outros irmãos não acreditavam nesse diagnóstico.
A gente pode dar os ouvidos ao outro, dar as mãos e até mesmo o coração, mas, não podemos lhes dar as nossas idéias.



A base espiritual da memória
No cérebro - rede de neurônios, química cerebral, as memórias são lembranças.
No perispírito - fluido magnético, memória é vibração, lembrar é reviver.
No Espírito - é princípio quântico, recordar é luz e cor. Memória é iluminação.


O sonho é a gente que inventa

As necessidades estimulam as idéias e elas desenvolvem o cérebro.

domingo, 8 de março de 2009

A origem da consciência


Nubor Orlando Facure


A teoria da “evolução das espécies” de Charles Darwin (1805-1882) provocou um dos maiores choques cultural da humanidade e suas conseqüências ainda estão longe de se esgotarem. Além dos aspectos biológicos com que foi inicialmente exposta pelo seu criador podemos percebê-la em diversos outros campos onde se manifesta a vida1. Não seria exagero questionarmos se a evolução poderia ser reconhecida na “gênese das idéias”, capacidade que dá ao homem de hoje a sua supremacia na natureza. Nesse caso, poderíamos questionar se a “evolução das idéias” ocorreu dentro de determinados princípios e se teria sofrido uma seleção adaptativa como a que ocorreu na diferenciação anatômica, fisiológica e comportamental das espécies.
O famoso psicólogo suíço, Jean Piaget, estudou a inteligência sugerindo a ocorrência de fases que acompanham o desenvolvimento da criança. Essa e outras interpretações tem sido motivo de estudos exaustivos nas diversas áreas das neurociências2. Estudos da psicologia evolucionista sugerem que um chimpanzé adulto não ultrapassa a etapa sensório-motora que corresponde a uma criança de três anos, mesmo assim, temos que reconhecer que o seu repertório comportamental é muito vasto, nos permitindo conjeturar que eles tenham “idéias” com uma gama muito variada de pensamentos3.
Podemos reconhecer, facilmente, as fases e os diferentes “níveis hierárquicos” na construção das idéias que nos dias de hoje atestam nossa racionalidade. Toda “hierarquia” pressupõe níveis de maior ou menor organização e possibilita a divisão em categorias que variam na sua complexidade. Convêm reconhecer as “idéias” como produtos de desejos e intenções construídas por pensamentos. A complexidade, maior ou menor que se revela nas idéias, é que nos permite ver nelas uma manifesta hierarquia.
Nossa sugestão é propor uma leitura por extenso do percurso que o “princípio inteligente” fez, animando todos os seres vivos, desde suas expressões mais primitivas até seu mais alto nível na espécie humana. Poderíamos ver aqui, mesmo que numa identificação arbritária, as diversas fases que percorreram os seres vivos para compor todo seu patrimônio ideatório. A idéia de sobrevivência, por exemplo, deve ter percorrido toda esta trajetória, e quase tudo que existe no nosso corpo pode ser visto como recursos que desenvolvemos para garantir esta sobrevivência. O altruísmo, que apareceu mais tarde, iniciou-se como estratégia para garantir a sobrevivência. O que antes era de interesse individual, passou, depois, a ser de interesse grupal. Convém ressaltar que os comportamentos tidos como altruístas são observado em uma ampla gama de animais, incluindo insetos, aracnídeos e vários vertebrados. O mais importante, ainda, é que sob o panorama atual da teoria evolucionista, a seleção natural age somente no nível do indivíduo e não do grupo1 Isso nos leva a uma re-interpretação do “altruísmo”, que é visto hoje como um comportamento que oferece vantagens a parentes, pois esses contêm genes em comum. Em última instância o altruísmo, pelo resultado que pretende, pode ser visto como uma forma de nepotismo genético.
Pode parecer um contra-senso falarmos de “idéias”, assim como, causaria desconfiança, apontarmos qualquer expressão de atividade psíquica nas formas mais “primitivas” (no sentido de mais antigas) de vida3. Não podemos negar, porém, que a ligação biológica entre esses seres e nós, exige, de alguma forma, que tudo que se denomina para os humanos de “psiquismo” (como sinônimo de atividade mental), tem um vínculo, uma procedência, uma preexistência, uma relação direta com o comportamento destes seres. É a identificação deste percurso contínuo da atividade “mental” que queremos acompanhar. É claro que pode nos faltar terminologia e conhecimento para explicitarmos com mais propriedade o que “pensam” estes seres “primitivos”, mas não nos é permitido deixar de identificar naquilo que eles revelam em termos de “respostas químicas”, de “reações reflexas” e de “comportamentos instintivos”, com tudo o que nós produzimos no conjunto de atitudes complexas que chamamos de humanas.
É bom lembrarmos que em termos fisiológicos, a ação que produz um determinado comportamento, é resultante de um pensamento que dirige esta ação. Isto é visível quando corro para me proteger da chuva. O mesmo fenômeno é notado no chimpanzé que corre de medo de uma cobra.4 Em ambos os casos ocorrem comportamentos de fuga com um conteúdo mental. No caso do chimpanzé, costuma-se rotulá-lo de comportamento instintivo, como se isso fosse possível de acontecer sem a construção de um repertório mental, constituído de pensamentos de medo, diante de um perigo eminente. Sua distinção em relação ao pensamento humano pode revelar quantidades e qualidades diferentes, mas não podemos excluir que existam pensamentos e suas idéias correspondentes, tanto para o homem como para o chimpanzé.


O enigma da mente


A definição de mente e sua interação com o cérebro são dilemas ainda não resolvidos pela Ciência5 . O homem compreende sua mente através das idéias que ela expressa. Para René Descartes (1596-165), nós já nascemos com um conteúdo de idéias inatas e Gottfried W.Leibniz (1646-1716) sugere a existência de mônadas na estruturação da mente6 . Para outros o conteúdo mental é produzido pelos estímulos que atravessam os nossos sentidos.
A discussão filosófica interpreta as idéias como sendo todo nosso conteúdo mental.7 Elas podem ser expressas em diversas formas de linguagem, seja num texto falado ou escrito ou numa composição artística qualquer. Em todas suas manifestações, o pensamento será sempre o veículo que expressa estas idéias8.
Não escapa do raciocínio de qualquer um de nós que as idéias podem ter graus de maior ou menor complexidade. John Locke (1632-1704), por exemplo, considera que as idéias podem ser simples ou complexas e elas seriam o resultado das nossas sensações ou das nossas reflexões.9
David Hume6 (1711-1776) diz que o pensar é pensar por meio de imagens, é imaginar e toda experiência, seja na sensação ou na imaginação, é chamada de percepção. Para Hume, as percepções são constituídas de idéias e impressões. As impressões podem se originar da experiência sensorial ou de atividades como a memória. Diz ainda Hume, que a impressão, sendo um processo interno de criação mental, pode não ter a mesma nitidez das idéias produzidas pela experiência sensorial. Ela precede sempre as idéias produzidas pelas sensações e, o que não pode ser imaginado não pode ser experimentado10
Definindo a mente, Hume a considera uma espécie de teatro, onde várias percepções fazem a sua apresentação sucessivamente. Diz Hume que não temos a menor noção do lugar onde essas cenas são representadas, nem dos materiais que as compõem. Nossa mente seria apenas uma sucessão de percepções. A humanidade seria um acervo ou uma coleção de diferentes percepções que se sucedem umas às outras, numa rapidez inconcebível e se acham num estado de perpétuo fluxo ou movimento. A noção de Eu, para Hume é impossível. É um disfarce para confundir uma sucessão de idéias, com a idéia de identidade que formamos de algo que permanece igual durante um período de tempo6.
A idéia de que a mente interfere na percepção das coisas não é nova. Baruch Spinoza (1632-1677) 11, considerava que “está na natureza da mente perceber as coisas sob um certo ponto de vista atemporal”. Para Leibniz, é à disposição das mônadas, cada qual com uma disposição diferente, que dá a aparência à realidade. Cada objeto consiste de uma colônia de mônadas e o corpo humano tem uma mônada dominante, privilegiada, que mais especificamente se denomina “alma humana”.
O filósofo inglês, John Locke (1632-1704), no “Ensaio sobre o Entendimento humano de 1690”, revive a afirmação de Aristóteles, considerando a mente como uma folha de papel em branco cujo conteúdo seria preenchido pela experiência7 . Locke12 chama este conteúdo mental, de idéias, reconhecendo a existência de “idéias de sensação”, que seriam originadas da observação do mundo exterior através dos nossos sentidos e as “idéias de reflexão” que surgiriam quando a mente observa a si mesmo, é quando a mente analisa por si mesmo o seu conteúdo. Dizia Locke, que tudo o que nós conhecemos são idéias, e estas, por sua vez, retratam ou representam o mundo.
George Berkeley (1685-1753) considerava que o existir de alguma coisa é o mesmo que ser percebido6 . Isso significa dizer que os objetos que se percebe estão na própria mente. Nossa percepção visual, por exemplo, não são de coisas externas, mas simplesmente idéias que estão na mente. No seu “Princípio do Conhecimento Humano” de 1710, Berkeley, especifica sua fórmula básica de que “ser é ser percebido”. O que na verdade conhecemos e comentamos são, conteúdos mentais. Isso fica claro, por exemplo, quando ouvimos alguém. O que entendemos é o “conteúdo mental” do que ele diz, mais do que uma série de sons verbais isolados uns dos outros e depois encadeados como as contas de um colar.
Georg Hegel (1770-1831) 6 partia da história para construir seus princípios da dialética. Seu método se aplicava não só como um instrumento da teoria do conhecimento, mas diretamente como uma descrição do mundo. Todo passo dialético percorre três etapas. A uma declaração inicial se opõe uma contra declaração e, finalmente, as duas se combinam numa espécie de acordo. Penso eu que o oxigênio é vital para nossa sobrevivência, mas, num incêndio, o oxigênio pode agravar o fogo e nos comprometer a vida. Concluímos que conforme as circunstâncias, o oxigênio pode ser indispensável ou perigoso para nossas vidas. No discurso inicial, segundo a dialética de Hegel, podem se opor proposições contraditórias, mas a conclusão deve exigir um arranjo composto. A contradição pode existir no discurso inicial, mas no mundo cotidiano dos fatos não existe a contradição.
Hegel foi autor do “Fenomenologia do Espírito” publicado em 1806. Ele mostra possuir considerável percepção da mente humana. Na psicologia do desenvolvimento intelectual, a dialética é, até certo ponto, um método perspicaz de observação e aprendizado. Percebe-se que com freqüência a mente progride segundo o padrão dialético seguindo a seqüência da tese, da antítese e a conclusão da síntese. A Filosofia para Hegel é definida como o estudo da sua própria história. Foi a explicação detalhada dos acontecimentos que fez Hegel publicar a “Filosofia da História” de onde retirou sua dialética.
Creio eu que os acontecimentos e o significado de cada evento no decorrer do tempo, pode nos fazer compreender o sentido das coisas. Nesse aspecto a evolução da mente pode ser revelada numa abordagem dialética.13



A embriogênese das idéias


A estrutura anátomo-fisiológica do cérebro humano passou por todo o processo evolutivo a que se submeteram os organismos das várias espécies que a natureza produziu14 . Não é de estanhar que possamos surpreender no passado as origens da complexidade da mente humana e as idéias que a permite se expressar15
Por simplificação arbitrária, podemos fazer uma leitura didática das idéias considerando os níveis de suas complexidades. Seria uma proposta de se identificar uma “hierarquia” na construção e evolução das idéias, como se estivéssemos percorrendo os programas mais simples que serviram de base para construir os sistemas mais sofisticados que organizam a mente humana.

Analisamos seis fases:

1 - Fase química ou celular. Bactérias.

Os primeiros organismos vivos iniciaram uma troca de informações químicas com o meio exterior. 16 É a fase onde se aprimora o contato que propicia a aproximação ou a fuga, mediadas exclusivamente por reações químicas. Um animal constituído de uma única célula tem capacidade de detectar nas suas vizinhanças a presença de substâncias nutritivas e de realizar movimentos em direção a essas substâncias que ele incorpora em sua estrutura17 . Uma ameba, constituída por uma única célula, pode reagir, fugindo de uma picada com uma agulha ou absorver um fragmento químico que a alimenta. Essa mesma atitude continua a existir numa célula do nosso estômago ou de uma colônia de fungos.
No corpo humano, existem 250 tipos diferentes de células e é através da linguagem química que cada uma delas se comunica, entre si e com o meio exterior18 . Nossa atividade mental é indispensável para essa orquestração, embora nossa consciência participe muito pouco dessa atividade, vindo a si dar conta dela, nas ocasiões em que as doenças rompem a homeostase e a harmonia dos órgãos.
É extraordinário como o ovário da mulher é capaz de liberar mensalmente uma célula reprodutora, escolhida entre inúmeras outras. Não se sabe por qual mecanismo é feita essa escolha, e por mais simples que possa parecer, em cada mês é um ovário diferente que fornece o óvulo.
No quadro das redes neurais a complexidade da comunicação química e elétrica é tão extraordinária que permite aos materialistas pensarem que é ali que nascem todas as nossas idéias5 . O perfume de uma flor que afeta a química das nossas células olfativas é capaz de nos provocar lembranças há muito tempo sepultadas nas nossas memórias da adolescência. A atuação de cocaína nos neurônios é tremendamente devastadora para a personalidade do indivíduo viciado nesta droga. Um pensamento de cólera pode desencadear a produção de substâncias pelas nossas glândulas, com efeito, devastador para nosso organismo.
A hipófise tem mais ou menos o tamanho de uma ervilha e, mesmo assim é capaz de orquestrar uma dezena de hormônios que regulam glândulas esparramadas pelo nosso organismo.

2 - Fase reflexa: animais invertebrados.
Após a fase química e no momento em que uma célula reconhece a presença de outras células vizinhas, construiu-se uma organização que passou a distribuir tarefas. Foi criado pela “idéia” do grupo celular, um sistema de estímulo-resposta caracterizado, tipicamente, pela expressão de um determinado comportamento reativo. Essa reação pode ser tão simples como um movimento corporal ou uma divisão celular. Outras vezes são complexas expressando fuga ou aproximação.
Nesse nível, as condições para se produzir um aprendizado ainda são precárias, mas, a programação genética herdada permite a essas espécies primitivas reproduzirem a mesma resposta sistematicamente e organizarem os seus instintos. Uma lesma do mar (aplísia) não é capaz de aprender a sair de um labirinto, mas reage diante de uma ameaça, expulsando um jato de tinta que confunde o predador 19.
O instinto cria uma fixação de comportamento, mas, às vezes, esta falta de flexibilidade pode ser danosa e comprometedora para a sobrevivência do animal20. Uma mariposa confunde a luz dos postes com a claridade da lua e morre queimada pelo calor da lâmpada. É curioso notar o quanto essa falta de flexibilidade tem perturbado a vida de todas as criaturas. As tartarugas recém nascidas, por exemplo, confundem as luzes da cidade com as estrelas vespertinas, e morrem esmagadas no asfalto. Por outro lado, é notória a competência das mulheres em lidarem com a flexibilidade das idéias a seu favor, superando com isso, o mito da inteligência masculina.
O processo fundamental nesta fase incipiente do “princípio inteligente” é sua interação com o meio. Sua fisiologia está baseada na lei de “ação e reação” onde para um determinado efeito existe uma única causa que a observação ou a experimentação pode revelar. Em termos neurológicos esta fase caminha para o desenvolvimento do arco reflexo e dos mecanismos automáticos ligados aos núcleos da base. Estas estruturas estão intimamente ligadas à sobrevivência. Organizam-se colônias multicelulares e a reprodução é por divisão celular sem qualquer divisão sexual A partir daqui serão desenvolvidos objetivos mais sofisticados para aproveitar melhor os mecanismos de aproximação ou fuga. Uma libélula é capaz de responder a estímulos químicos de uma parceira sexual situada há quilômetros de distância.
Diversos órgãos do nosso corpo estão em constante atividade dirigida por um sistema nervoso totalmente autônomo. Este sistema funciona sob controle de atividade química de neurotransmissores que os reflexos nervosos ao nível dessas vísceras liberam. A “hidra dos aquários” é um dos animais que possui o sistema nervoso mais simples que conhecemos e convém destacar que com a criação das primeiras redes neurais, teve início o que podemos chamar de linguagem interna.


3 - Nível das proto-idéias: peixes, répteis, anfíbios e aves.
Têm início os automatismos. Desenvolve-se aqui a organização de sociedades, formação de agrupamentos e construção de abrigos. Um animal nessa fase já tem “consciência” da existência do outro. Na constituição das famílias começam a aparecer “idéias” de proteção dos descendentes e acúmulo de alimentos para garantir a escassez. Os pais têm compromissos na alimentação das suas crias. As relações com o meio exterior ficam mais complexas. Aparecem as noções de esquema corporal vital para o animal aprender a associar as suas dimensões em relação ao ambiente, ao tamanho dos seus rivais e o quanto pode estender suas patas para alcançar as suas presas. Desenvolvem-se a orientação no tempo e no espaço indispensáveis aos ritmos biológicos circadianos. Aves e peixes fazem jornadas quilométricas mapeando e depois memorizando as sinalizações que encontram na trajetória percorrida durante as migrações. Aparece um verdadeiro aprendizado no qual o conhecimento adquirido é transmitido de uma geração para outra. Isso pode ser visto na construção de tocas, de ninhos ou mesmo nos gestos que as aves usam para voar. Na verdade todas essas atividades não são exclusividades dos vertebrados, varias espécies de insetos já fazem exatamente a mesma coisa milhões de anos antes1 .

4 - Nível integrativo ou associativo: mamíferos “inferiores” e primatas.
Aqui a aquisição de conhecimento se completa com a possibilidade de ser este conhecimento transmitido às gerações futuras. Varias funções psíquicas são agregadas para a sua estruturação. Compõe-se, por exemplo, da fixação da atenção, das respostas emocionais e da memorização. Elas se caracterizam pela interação com o ambiente e pela formação do conhecimento.
O animal consegue desenvolver um comportamento comprovadamente inteligente21. O macaco utiliza-se de instrumentos que lhe facilitam o acesso a uma fruta que os braços se mostram curtos para alcançar. Comportamentos altruísticos facilitam a sobrevivência de membros do grupo3 .

5 - Nível de aquisição da consciência do Eu: humanos
Quando falamos de consciência do Eu, temos a impressão de que esse Eu parece ser alguém que está sempre conosco, exatamente onde estamos e dentro de nós. A minha sombra não é o meu Eu, nem o é as imagens que vejo nas minhas memórias. Ali estão apenas as minhas lembranças.
É extensa a literatura que descreve as características que diferenciam o comportamento do homem em relação aos outros animais22 . Diz-se que o homem é o único animal que perdoa. Só ele é capaz de sorrir e de dar a vida para salvar seu filho (pesquisas recentes constatam que insetos, aracnídeos e outros vertebrados também podem exibir esse comportamento). O homem é o único animal cujos medos são capazes de criar supertições23 .
A mente humana incorporou todos os processos de linguagem que a evolução do nosso organismo nos possibilitou acumular. Nossas “idéias” passaram a dar um significado a cada objeto. Esse significado passou a ser reconhecido por símbolos. O pensamento começou a se expressar simbolicamente por palavras construindo uma linguagem a partir da qual a humanidade construiu sua cultura24.
A aquisição da linguagem falada foi um processo que hoje está tão arraigado em nossa mente, que nos parece ser impossível mentalizarmos qualquer idéia sem o uso de palavras25 . Todos nós, porém, nos comunicamos, tanto interna como externamente, com diversas outras formas de linguagem. Nossos medos e nossas crenças, comumente, não usam palavras para se manifestarem em nós. As expressões corporais são umas das mais eficientes formas de comunicação que também não se serve de palavras. Qualquer artista de teatro sabe que nosso corpo fala pelos gestos. A linguagem corporal é tremendamente mais rica e eficiente que a linguagem verbal. As palavras nunca conseguem expressar toda força de uma grande emoção enunciada por gestos.
A consciência dos nossos atos corre em paralelo com uma série de gestos que podemos realizar inconscientemente11. Já discorri sobre o que chamei de inconsciente neurológico dando exemplos que ilustram esta atividade. Diversas funções cerebrais estão intimamente ligadas à consciência. É fácil percebermos que o nosso nível de consciência está ligado ao esforço que imprimimos à atenção. Quanto à qualidade da consciência, essa depende do material contido nas nossas memórias26 .
Nossa consciência é limitada pelos recursos que o cérebro pode lhe oferecer. Em raras situações o desdobramento da consciência pode ser registrado no cérebro e nessas situações tomamos contato direto com as informações procedentes de outras dimensões e que ficaram impressas nos circuitos da memória física.
A espiritualidade é tida como um atributo de nossa personalidade. Ela se desenvolveu no curso da evolução a partir de idéias primitivas de temores diante das ameaças que as forças da Natureza pareciam nos ameaçar. Depois, aprendemos a estabelecer as trocas com a divindade e criamos os rituais religiosos com a idéia de nos proteger8 .


6 - Nível transcendente ou de espiritualização: “místicos” e missionários.
Compreende o período da expansão da consciência. O neurologista está habituado a analisar os níveis de consciência no seu sentido de maior ou menor profundidade. Esses níveis variam desde o estado de alerta, a sonolência, o torpor e o coma, quando então a consciência está abolida em graus de maior ou menor profundidade27 . A visão neuropsicológica moderna nos permite ver as alterações da consciência em expressões de maior ou menor amplitude. A expansão da consciência nos permite acessar, voluntária ou involuntariamente, os chamados “estados alterados da consciência”, com a possibilidade de transitar por informações de outras dimensões.
No nosso atual estágio evolutivo, o que compreendemos destes “outros planos da vida”, ainda são “idéias” elaboradas por construções fragmentárias. Quase sempre sem tradução completa nas expressões comuns da linguagem humana. Elas podem ser aceitas, transmitidas, mas não são compreendidas em toda sua extensão. É preciso ver nelas o subentendido que o aparente não revela. Expressam conceitos como: Deus, a criação, a eternidade e o infinito. Caracterizam-se por serem adquiridas como uma “revelação”. Podem ser interpretadas como sendo uma “vivência psíquica”. Uma das suas características é a sua generalidade. Grandes místicos do passado conseguiram expressá-las nos textos dos seus pensamentos memoráveis. Ao recordar algumas destas idéias podemos perceber a harmonia com que combinam simplicidade com complexidade: “o tudo está em tudo”, “tudo é movimento”, “o cosmo está no homem”, “o não visto é o visível próximo”. Aqui se descobre a complexidade do mundo, a extensão das experiências que nossas mentes já acumulam. E, tanto efeito como causa, devem ser vistos no plural28 .



Uma visão psicológica

As idéias têm a propriedade de revelar a atividade mental que estamos desenvolvendo. Isso não significa que elas sejam sempre expressas na linguagem falada que estamos habituados a expressar. Um gesto ou a expressão de um olhar nos mostra que o corpo fala, e às vezes, fala mais que as palavras29 .
Penso que o conteúdo da nossa mente não é preenchido apenas por idéias, conforme afirmam alguns filósofos12 . O que torna muito mais complexa as possibilidades de nos expressarmos. Todos nós sabemos, que o conteúdo do inconsciente, é muito rico de imagens que as idéias se mantém por muito tempo desordenadas. Conhecemos a dificuldade em traduzirmos este texto escondido no inconsciente. Muitas doenças servem de linguagem traumática para expressar o que temos ali dentro.
À medida que vamos estabelecendo idéias bem definidas, vamos acumulando um conhecimento que gradativamente constrói a nossa cultura. Outras idéias são aceitas de modo dogmático estabelecendo as crenças e criando os mitos. As crenças podem se adquirir a partir de uma experiência subjetiva, difícil de ser transmitida para os outros25.
No diálogo interior que fazemos com a nossa própria consciência estamos habituados a construir desejos e intenções que podem se revelar no ambiente que nos cerca através de palavras ou de gestos. Entendo a consciência como a “propriedade” que nos permite perceber a realidade interna e externa.
No que se refere ao mundo exterior, é sempre mais fácil construirmos idéias que descrevam o que percebemos a respeito dele. É uma tarefa mais leve identificarmos e descrevermos os objetos situados fora de nós. Quanto ao nosso mundo interior as idéias são insuficientes para descrevê-lo. Nossas impressões e reflexões são sempre mais fortes do que os pensamentos que elaboramos sobre elas. Estamos habituados a traduzir nossos pensamentos em palavras, e as emoções que nos afetam, podem ser de tal magnitude que nos faltem palavras para descreve-las30 . Outras vezes, nossa surpresa é tão grande que nos faltam idéias para interpretar os fatos que nos abalam29 .
Acreditamos que nossa consciência é preenchida de pensamentos e idéias incessantes, parecendo-nos a todos que é impossível pararmos de pensar11 . Os místicos, habituados a se concentrarem em meditações profundas, descrevem a consciência como um fluxo incessante de energia e não necessariamente de idéias. Nesse estágio, a consciência se apropria da essência das coisas e atinge outras realidades.
No processo de aquisição das idéias e da experiência que a evolução sedimentou, podemos perceber que a mente humana é herdeira, de todas as formas de conhecimento de cada célula, cada agrupamento celular e cada organismo que a evolução nos permitiu transitar, conduzindo, o “princípio inteligente”. É perfeitamente possível identificarmos, em expressões do comportamento humano, toda esta riqueza de idéias que a vida, expressa em tão grande diversidade biológica, conseguiu fixar em nossa mente.
A atividade celular em qualquer parte do nosso corpo ainda obedece à mesma química das células dos primeiros animais que nos antecederam27 . Os reflexos primitivos permanecem em total independência na sinfonia dos nossos órgãos internos. Os instintos e automatismos de uma abelha que constrói seus favos ou de uma libélula que localiza sua fêmea permanecem vivos no homem e na mulher que constroem seus sonhos. Quase todos nós já vivemos a experiência de usar um reflexo de fuga para dar um salto antes que alguém nos atropele. O instinto de sobrevivência nos faz agasalharmos para não sermos surpreendidos pelo frio. Muitas vezes caminhamos automaticamente por ruas que já conhecemos sem precisarmos nos dar conta dos obstáculos que elas contém. É instintiva a necessidade de correr quando um animal nos ameaça ou quando o cheiro de fumaça é alertado pelo grito de que há fogo por perto. Com esses exemplos estamos ressaltando que a química celular, os reflexos, os automatismos, o comportamentos instintivos adquiridos nos cenários da vida, permanecem convivendo conosco em parceria com a consciência, permitindo que através dela, toda nossa atividade seja comprometida com nossa responsabilidade.

A psicopatologia

A doença mental tem sido estudada a partir de variadas interpretações31,32 . Não pretendemos nos deter nesse histórico deixando apenas registrado que, na atualidade, ainda prevalecem duas visões que tentam compreender os fundamentos da psicopatologia humana33. Uma organicista e outra psicodinâmica. Qualquer que seja nossa abordagem, permanecerá no palco das manifestações clínicas, uma perturbação no contexto das idéias que cada indivíduo revela nos seus desvios mentais.
Como nos parece que as idéias foram construídas a partir de um processo evolutivo acrescentando níveis de aquisições hierarquizadas, creio que poderíamos dar uma olhada no discurso das doenças mentais a partir da idéias que revelam o quadro clínico destas manifestações. Nossa proposta é apenas um ensaio despretensioso.
No caso do autista, podemos enxergá-lo fixado em um nível de reação extremamente limitado que não lhe permite interagir adequadamente com o meio exterior. Sua capacidade de gerar respostas aos estímulos exteriores está fortemente comprometida. Sua vida se limita a reflexos simples sem os componentes de associação entre os diversos módulos de atividade cerebral.
No transtorno obsessivo compulsivo as atitudes estão fixadas em automatismos primários cuja repetição é impositiva para o paciente.
Na esquizofrenia ocorre uma regressão violenta na capacidade de construir idéias coerentes com a realidade tanto do meio externo quanto interno32 . O paciente tem uma aparência de constante sensação de hostilidade. Suas capacidades parece se limitarem a reações de fuga, tal qual um animal onde as “idéias” se limitam à atividade celular. Os estímulos exteriores não têm competência para gerar um padrão de resposta integrada.

A Hierarquia das idéias na Formação da Consciência

Diversos fatores contribuíram para que o estudo da consciência voltasse a despertar interesse da Ciência11 . Este estímulo se iniciou com a “Década do Cérebro” e o estudo das funções cerebrais através das imagens com a Tomografia de Pósitrons e a Ressonância Funcional.
O neurologista Antônio Damásio e o físico Francis Crick são dois exemplos atuais de estudiosos que se propuseram a esclarecer o “enigma da consciência”11 . Em ambos persiste a visão materialista que reconhece no cérebro e no arranjo dos seus neurônios a capacidade de produzir a mente e estabelecer as condições que constrói a consciência. Os elementos envolvidos são outros, mas é o mesmo conceito de que se serve Thomas Hobbes (1588-1679), quando publicou o Leviatã em 1651, afirmando que a realidade interna se resume em movimento e que nossos pensamentos e nossas paixões são efeitos do movimento da matéria.
No modelo materialista, utilizado pelas escolas neurológicas da atualidade, temos de lidar com redes de neurônios e tentar conhecer o mínimo de estrutura cerebral que é exigida para permitir a determinado animal permanecer consciente33 . Esta resposta não é difícil quando estivermos procurando apenas o que a consciência representa em termos de estarmos alerta, em contato com o meio exterior. Teremos muito mais dificuldade quando discutirmos a extensão total da consciência, o significado do Eu, o grau de apreensão que podemos fazer de uma determinada situação ou mesmo do ambiente que afeta a nossa consciência. Num sistema organizado e de alta complexidade como o cérebro, é perfeitamente possível estabelecer os fundamentos neurofisiológicos para uma expressão limitada da consciência humana.
Para os que aceitam o paradigma espiritualista, sabemos que nossa Alma, devido a suas múltiplas existências, tem um conteúdo de conhecimento muito maior do que o que o cérebro físico possa revelar34 . É exatamente esta limitação apresentada pelo cérebro que nos impede de identificar uma lei abrangente, capaz de apreender toda fenomenologia da consciência.
Ao invés de se tentar equacionar o “enigma da consciência” pela estrutura das redes neurais e seus sistemas de organização, estamos apresentando uma via de acesso à consciência, pela elaboração e hierarquização das idéias13 . Ao estabelecermos um fundamento hierárquico para suas expressões, podemos questionar quais conteúdos e significados das idéias que seriam compatíveis com o aparecimento da consciência. Dessa forma, quando aumentar nosso conhecimento sobre os diversos aspectos da consciência, os fundamentos serão sempre os mesmos, irão variar apenas o significado das idéias necessárias para explicar determinada apresentação da consciência. Para estarmos alertas e perceptivos em relação ao ambiente, precisamos de um determinado padrão ideatório e para estarmos consciente do Eu, nos é exigido um outro determinado padrão de idéias. Para a expansão da consciência a outros planos da vida, são exigidos os padrões transcendentes de idéias. Os ganhos anatômicos do cérebro foram adquiridos, presumivelmente, pelo desenvolvimento de uma crescente constelação de idéias que a evolução estimulou nos desafios da vida34.
A importância das idéias se revela na percepção que temos da realidade, bem como, nas ações que executamos acreditando serem procedentes de nossa vontade. Ambas, nada mais são que impressões do imaginário que a evolução nos permitiu construir na consciência.
A Natureza humana – O Espírito como agente de transformação

Nubor Orlando Facure

Somos um amontoado de 300 trilhões de células formando tecidos e órgãos. Uma olhada nos hepatócitos do fígado, nas ilhotas do pâncreas, nos folículos do ovário, nos músculos do coração nos mostrará uma arquitetura variada de células que nos compõem. Entretanto, é no cérebro que identificaremos nos seus neurônios, uma variedade muito maior de “design” que a natureza arquitetou. Temos cerca de 250 tipos diferentes de células no nosso organismo e mais de 200 são desenhos de neurônios.
Ao lado de macacos, gorilas e orangotangos, fazemos parte da classe dos primatas contando apenas com 450 genes diferentes do Chimpanzé. Mesmo considerando que nossa capacidade intelectual é espantosamente superior à deles, o nosso comportamento foi construído de maneira incrivelmente parecida e os programas para processar o cérebro são compatíveis para os dois. A diferença é maior na quantidade e na qualidade, mas não nos fundamentos.
Na trajetória evolutiva entre o “homem-macaco” e nós, foram produzidas modificações relevantes, testemunhadas por inúmeros fragmentos fósseis: contando com um novo “design” da coluna vertebral passamos a andar eretos; alargando e empinando a bacia aprendemos a girar para traz apoiados nos pés; os ombros foram modelados permitindo projetarmos uma pedra para cima; usando o polegar e opondo-lhe, facilmente, o indicador aprendemos a construir uma pinça; a laringe se posicionou para emitirmos a fala articulada; as enzimas digestivas se multiplicaram para absorvermos outras variedades de alimentos. A transformação mais importante, porém, ocorreu no “cérebro executivo” – nosso lobo frontal aumentou de tamanho quatro vezes expandindo recursos para planejarmos nosso futuro.

O comportamento animal

Não escapava aos antigos pensadores que os animais tinham reflexos, sensibilidade, movimento e emoções. Mesmo assim, Aristóteles negava aos animais a existência da Alma e René Descartes os via como destituídos de qualquer raciocínio. Eles agiriam pela disposição dos seus órgãos.
Esse pensamento veio a mudar completamente quando, Darwin, nos alinhou na “árvore da vida”. Na “Origem das espécies” compomos uma mesma descendência com todos os seres vivos, percebendo-se, assim, que tudo o que nós somos tem início e fim no que já fomos.
Nas últimas décadas, o estudo do comportamento animal no seu próprio ambiente, revelou traços característicos daquilo que presunçosamente imaginávamos ser privilégio do comportamento humano. Altruísmo, organização social, prazer ou desprazer, capacidade para mentir, disfarçar ou brincar são vistos em animais tão diferentes como pássaros, guaxinim ou macacos. Comportamentos complexos, também, são compartilhados por variadas espécies: monogamia, infidelidade, formação de tribos, recrutamento de apoio social e assassinatos premeditados. Mas, é justamente o inverso que merece mais destaque nesse artigo – o que os animais revelam como instinto de sobrevivência, agressividade, ataques de fúria, fobias, caprichos da personalidade, o abraço, as expressões de nojo, as disputas de território – são, também, traços comuns a qualquer ser humano, registrando em nós, uma indiscutível identidade animal.

O papel dos genes

A “filosofia” dos ditos populares tem feito pré-julgamentos curiosos para interpretar a natureza humana, considerando sua submissão, tanto aos fatores hereditários, como ao poder de transformação do ambiente. Nós todos já escutamos dizer que “filho de peixe, peixinho é”; “pau que nasce torto morre torto”; “é de pequeno que se torce o pepino”. O senso comum pode aceitar essas afirmações como verdadeiras, embora, experimentos no campo da genética e da psicologia comportamental, têm revelado contradições interessantes.
O estudo dos genes e como eles se misturam para transmitirem heranças tiveram início com os famosos experimentos de Gregor Mendel. Seu trabalho, combinando ervilhas, permaneceu desconhecido por 20 anos quando foram redescobertos por Hugo de Vries. Estudioso da hereditariedade, ele, também, confirmou a existência dos fatores recessivos e dominantes nas combinações genéticas e propôs a existência de uma unidade de transmissão genética que denominou de “pangene”.
Mais tarde, Thomas Hunt Morgan, aprofundou-se nos detalhes da transmissão dos genes estudando talentosamente a “mosca das frutas” (Drosófila). Na sua famosa “sala das moscas” ele conseguiu fazer as combinações adequadas para produzir as variações genéticas que procurava. A partir daí, a Ciência humana, passou a dispor de recurso tecnológico para manipular os genes mutantes, capacitando-se para criar novas variantes para velhas espécies.
A maior descoberta se deve a Crick e Watson que em 1953 descreveram a dupla hélice do DNA na intimidade dos núcleos das células. O gene passou a ser identificado como um fragmento de letras dessa gigantesca cadeia de aminoácidos. E, finalmente, com a cooperação internacional, o material genético do ser humano (33000 genes) foi totalmente decodificado no projeto Genoma de 2003.
A curiosidade de muitos tem, precipitadamente, transformado o gene na grande panacéia científica dos últimos anos. A cartografia do DNA permitiu-nos a identificação da paternidade que se imaginava protegida pelo anonimato. Doenças genéticas passaram a receber números de código específico. A masculinidade foi relacionada com o SRY, o gene que programa o testículo. A par de promessas de cura e rejuvenescimento com as “células tronco” a mídia frequentemente noticia, com alarde, a descoberta de genes para a felicidade, para a depressão ou para a superioridade da inteligência feminina (conforme a fonte de informação).
Os especialistas são enfáticos em dizerem que o gene não deve ser visto como a causa disso ou daquilo. Ele é o mecanismo que, nos “predispõe” a, mais ou menos inteligência, aptidão esportiva, comportamento viril, baixa estatura ou obesidade, quando os aplicamos no ambiente adequado. Os genes criam condições para nos afirmarmos sobre um ambiente propício. Escolher entre música ou matemática tem predisposições genéticas. Casar ou divorciar também. E nós todos sabemos como essas decisões influem em nossas vidas e muda o ambiente onde viveremos. O papel do gene pode ser compreendido, resumidamente, em dois processos: o gene é capaz de duplicar-se no interior das células e, comanda uma “receita” de proteínas realizada pelo RNA. Nos defeitos dessas duplicações, ocorridas “ao acaso”, é que surgem as variações genéticas, chamadas mutantes, que condicionam o aparecimento de ajustes morfológicos ou funcionais no organismo dos descendentes. É um primeiro passo para se chegar ao aprimoramento de uma nova espécie.


Instinto e aprendizado

Um determinado comportamento que não é imitado ou aprendido pode, a princípio, ser tido como instintivo. Sendo assim, é herdado, e deve ter uma representação genética para a sua transcrição. Nem sempre a cada comportamento corresponderá um gene para sua expressão, mais provavelmente teremos uma coleção maior ou menor de genes orquestrando esse desempenho. É o que ocorre para a aranha que tece cuidadosamente ou para a “viúva negra” que devora o macho durante a cópula.
Na programação de qualquer comportamento animal, a densidade tanto do determinismo genético como da participação do ambiente, é complexa e às vezes contradiz as interpretações apressadas. Seymour Benzer realizou um experimento virtuoso com Drosófilas. Elas eram submetidas a um choque elétrico nos pés seguido de um jato de ar com substância malcheirosa. Ele percebeu que, com o tempo, as moscas “aprenderam” a “respirar fundo” tão logo percebiam o choque. Assim, as moscas, associavam choque com odores e se protegiam do cheiro ruim. Era um condicionamento de moscas reproduzindo o que Pavlov fez com os cães.
Seymour Benzer percebeu, porém, que nem todas as moscas aprendiam esse comportamento. Nas que tinham sucesso ele demonstrou a presença de 17 genes especificamente ligados ao desempenho condicionado: “choque nos pés - encher os pulmões – evita cheiro ruim”. Entre os 17 genes estão aqueles que Benzer denominou com bom humor: “burro”; “amnésico” e “lesado”.
Pavlov atribuiu ao córtex cerebral o “reflexo psíquico” que descobriu existir no condicionamento. Ele se surpreenderia com o trabalho de Benzer revelando uma programação genética por traz do aprendizado que condiciona os animais – tanto moscas, como cães e, com certeza, também os humanos.
É uma afirmação forte, mas, o que Benzer parece nos dizer é que nossa “capacidade de aprender” é herdada sem esforço. O que temos de fazer é contar com as oportunidades que o ambiente oferece e não deixá-las escapar entre os dedos.
Comportamentos complexos como fobias, agressividade, fervor místico, marcas da personalidade e composição familiar, são comprovadamente herdados. Estudos em animas revelaram que mudanças no perfil de neuro-transmissores cerebrais – geneticamente determinados – conduzem a comportamentos contraditórios no acasalamento e dedicação à prole. Modelos de laboratório interessantes foram estudados por Tom Insel manipulando camundongos. Os arganazes-do-campo são monogâmicos e os pais cuidam dos filhotes por muitas semanas. Os arganazes-montanheses, por outro lado, são polígamos, os casais se separam rapidamente e a mãe cuida pouco tempo de suas crias. Estudos genéticos e bioquímicos mostraram que os arganazes-do-campo contavam com genes que produzem receptores para ocitocina e vasopressina. O primeiro está presente em áreas límbicas do cérebro ligado à “memória social” e a vasopressina à recompensa. Por outro lado, não contando com esses receptores cerebrais, o arganaz-montanhês não se lembra com quem se acasalou dez minutos antes e não estabelece vínculo com as crias.
Uma das descobertas mais surpreendente nas expressões do comportamento animal foi feita por Konrad Lorenz. O testemunho que ele trouxe ao experimento e a sua singeleza são singulares. Entrando em contato com gansos que acabavam de nascer, ele percebeu que a sua presença despertava nos filhotes uma aderência filial que ele denominou “imprinting”.
Konrad se tornava a “mãe” de gansos recém-nascidos em sua presença.
O “imprinting” chama a atenção para a importância dos “eventos iniciais” nos processos de aprendizado. E, principalmente, do “timing” para uma determinada aquisição de conhecimento. Estudos posteriores mostraram que as oclusões prolongadas de um dos olhos de gatos recém-nascidos os privariam de visão para o resto da vida. Ficou evidente que todos nós temos uma “janela” aberta para o aprendizado com especificidade para o conteúdo e aprisionada pelo tempo. Isso é muito evidente para o desenvolvimento da fala e o aprendizado de uma língua estrangeira. É conveniente que aos cinco anos tenhamos domínio adequado da linguagem.



O gene e a cultura



A dinâmica da integração genes e ambientes não pode ser vista de maneira dogmática ou excludente. A cultura pode à primeira vista parecer sobressair-se ao papel da herança na determinação da atividade mental. Um intelectual moderno pode nos parecer dispor de desempenho superior ao de indivíduos da sociedade marginal ou povos “primitivos” da América ou da Polinésia. Na virada do Século XIX Francis Boas conviveu com povos nativos do Canadá identificando seus hábitos e aptidões, constatando a mesma fisiologia e a mesma psicologia do homem europeu da época. A natureza dos processos mentais permanece como herança, independente da erudição e da cultura. São os genes quem nos possibilitam acumular conhecimento e é a cultura que estimula o gene a aprimorar o cérebro.
Aprender significa adquirir novos comportamentos. Um programa de rotinas, repetindo as mesmas tarefas, reforçam as sinapses que sedimentam o aprendizado, mas, aprender mais, implica em se surpreender com fatos novos.
A discrepância que os fatos novos provocam, estimula genes, que transcrevem proteínas, que criam novas sinapses, arquitetando mudanças e sedimentando o aprendizado. Mais ou menos cultura se traduz em redes neurais cada vez mais complexas. É aqui que está a nossa diferença com o cérebro do chimpanzé. Temos trilhões de sinapses a mais.


A pressão do ambiente

Aqui também a crônica popular registra uma interpretação anedotária. Quando um filho se sai excepcionalmente bem em seus desafios costumamos ouvir que “puxou o pai”. Quando é o filho do visinho que as notícias do bairro dão destaque ao sucesso, os méritos são atribuídos aos “colégios dispendiosos” que ele freqüentou. No primeiro caso a inteligência é herdada do pai, no segundo a educação fez a diferença.
A agressividade, a criminalidade e o mau desempenho escolar costumam ser atribuídos ao ambiente familiar, ao tipo de criação, à desigualdade social. No entanto, experimentos e avaliações cuidadosas de gêmeos e filhos adotivos não confirmam, inteiramente, essa interpretação.
Gêmeos separados logo após o nascimento e criados, sem contato, em ambientes distantes, revelaram depois, aptidões e preferências incrivelmente semelhantes: o estilo de vida, a escolha da profissão, a ocorrência de divórcios, o número de filhos, a decoração da casa, a opção de lazer e pequenos trejeitos que um e outro manifestam involuntariamente.
A adoção de filhos, procedentes de lares dissolutos, mesmo quando criados em famílias íntegras, tem mostrado de maneira significativa a dependência genética do comportamento anti-social.


Idéias inatas


Alguns comportamentos humanos revelam uma aparente complexidade como, por exemplo, a expressão de nojo frente a um alimento mal-cheiroso. São, no entanto, instintivos e relacionados diretamente com a sobrevivência que é nosso mecanismo de autodefesa mais eficiente. Historicamente, alguns filósofos insistiam em negar qualquer conhecimento inato ou instintivo no ser humano. Nascendo como uma folha em branco, todo comportamento precisava passar primeiro pelos sentidos para depois se sedimentarem na mente.
Por outro lado, Platão, afirmava que todo conhecimento tinha uma existência prévia no “mundo da idéias” e, René Descartes, apontava a crença na existência de Deus, as noções matemáticas, a idéia de perfeição como “idéias inatas” partilhadas por todos os homens.
Empiricamente, qualquer um de nós que passou pela experiência de acompanhar o cotidiano do crescimento dos filhos, tem múltiplas oportunidades de se surpreender com o desempenho deles na fala, na construção de frases, na criação de situações inesperadas, na escolha dos brinquedos, na interpretação de fatos novos e principalmente nas perguntas que fazem, revelando um comportamento que “nasce pronto” ou uma escolha que “ninguém ensinou”. Como sugere Steven Pinker, a criança herda o “instinto da fala”. A mente estaria constituída por módulos multifuncionais que nos permitiria dispor dos mecanismos para processar e absorver as informações, como por exemplo, o vocabulário da linguagem materna. Na mesma linha de proposição, Noam Chomsky, sugere que toda criança nasce com uma estrutura cerebral pronta para a aquisição das regras gramaticais, comuns e adequadas a toda as línguas.
Creio podermos adiantar que as “idéias inatas” estão ligadas a módulos mentais que, são sensíveis ao aprendizado de determinado conteúdo – linguagem, fervor espiritual, altruísmo – e especializados em exigências do ambiente – sobrevivência, fobia, acasalamento, reprodução entre outros.


Na “dimensão espiritual”

A Doutrina Espírita acrescenta a “dimensão espiritual” na construção da natureza humana ressaltando a sua complexidade.
O corpo físico é vestimenta transitória que dá ao Espírito instrumento para se manifestar no mundo em que vivemos.
Reencarnando em vidas sucessivas, temos oportunidade de renovar experiências, redimir faltas, reavaliar acertos e erros e projetarmos compromissos futuros.
Nada ocorre por acaso, Deus é criador e seus prepostos orientam nossos destinos.
Estamos todos inseridos no projeto de progresso incessante que nos elevará ao nível de Espíritos Superiores.
O “princípio inteligente” com o qual inauguramos a vida percorreu as diversas escalas evolutivas se empenhando na aquisição de reflexos, de instintos, de automatismo e de racionalidade até atingir a condição humana que desfrutamos hoje.
A evolução da mente sugestionou e dirigiu as necessidades da evolução do corpo.
A Espiritualidade Superior introduziu as mudanças necessárias para o sucesso do projeto humano realizando intervenções nos dois planos da vida.
Nossos talentos ou aptidões para o bem ou para o mal são frutos do nosso próprio mérito. A perseverança aprimora o artista, o estudo constrói o gênio, a serenidade modela o santo, persistir no vício estaciona, prejudicar o próximo escraviza à falta cometida, fugir da lição adia a corrigenda.
Tanto a aparência que cada um de nós revela como o ambiente que a vida nos localiza, são situações momentâneas, adequadas às nossas necessidades. Um lavrador que se exaure na terra pode estar vivendo a lição da simplicidade e da paciência. Um político em evidência pode estar experimentando o compromisso do poder. Um líder religioso pode estar aprendendo a perseverança na fé. A família que nos acompanha, com dedicação ou com dificuldades e exigências, representam créditos ou proteção, contas a pagar ou correções a aceitar em nós mesmos.
Somos expressões parciais e acanhadas das múltiplas vivências que já experimentamos em outras existências. Talentos e deficiências estão frequentemente, imersos na lei de esquecimento transitório que nos protege.
Na reencarnação, a misericórdia divina nos favorece a benção do recomeço ignorando um passado de culpas.
Para a Doutrina Espírita, não cabe qualquer idéia de superioridade de raça, de gênero, de profissão ou de prestígio social. O que nos credencia é o bem que fizermos ao próximo e a transformação para melhor que acrescentarmos a nós mesmos.
Cada criança acumula a somatória das personalidades que desenvolveu no transcurso de milênios e a inocência dos primeiros anos é oportunidade de redirecionar comportamentos, transformar sentimentos e adquirir novos valores.
Pais e irmãos, profissão e casamento, fortunas e privilégios são empréstimos transitórios que exigirão prestação de contas. “A vida nos dará o que buscarmos e nos cobrará o que recebermos”.
“A genética sinaliza, mas, não realiza o que for do nosso compromisso”. Na verdade, “somos herdeiros de nós mesmos”, é nosso passado que nos representa no palco da vida. Nem genes nem sobrenomes serão passaportes para livrar-nos de sentimentos de culpa, de tempo perdido ou de perdão que recusamos dar. Nossas dificuldades refletem nossas necessidades e com o esforço de hoje é que garantimos a recompensa de amanhã.
A Ciência oficial ainda não se deu conta da “dimensão espiritual” e o quanto ela interage em nossas vidas. Aqueles que enterramos nas últimas despedidas do túmulo permanecem vivos e compartilham conosco uma intimidade que não suspeitamos. Nossa fisiologia sensorial não tem sensibilidade para registrar suas presenças, mas, nossa atividade mental irradia no mesmo espectro de sintonia. Compartilhamos com eles o mesmo universo de ondas mentais. Vivemos permanentemente como emissores e receptores projetando e recebendo todos os pensamentos que vibram com os mesmos objetivos que os nossos. Parentes e amigos, inimigos e adversários, companheiros no bem e comparsas no crime se associam aos nossos propósitos. Suas vozes ressoam em nossos pensamentos, suas sugestões induzem nossas escolhas, sua proteção nos ajuda a superar as dificuldades e sua perturbação nos retém no desespero. Comungamos com os “mortos” mais frequentemente que com os “vivos”. “Vivemos com uma nuvem de testemunhas”, no dizer de Paulo (Hebreus 12:12) e somos responsáveis por essa “parceria consentida” que nos sustenta para o bem ou para a ignorância.