Os fantasmas do músico
Nubor Orlando Facure
Seo Arnaldo entrou no consultório
vestido com elegância sóbria, bem cuidada. Como de costume, inicio minha
conversa tentando conhecer os dados pessoais e familiares do paciente. Ele
estava ali com sua filha, de aparência nobre, colaborativa esboçando certa
preocupação com as respostas do pai.
Ele era músico, trabalhou na
Sinfônica até sua aposentadoria ha 3 anos atrás. Morava só com a esposa
recebendo visitas frequentes da filha que estava ciente das queixas que ele
passou a relatar-me.
Para curtir a solidão da
aposentadoria ele assenta a tardinha no piano da sala e passa ali tocando o
instrumento até que chegue o horário de assistir o noticiário da televisão.
Foi nessa sala dedilhando seu piano
que começa o drama que me relatou calmamente. Ainda havia a luz da tarde quando
percebeu que tinha “alguém” na sua janela o observando. Como a visão foi muito
rápida ele se refez do susto e não deu maior importância ao fato. Porém, nos
dias subsequentes, a imagem de um homem o observava tocar piano por alguns
instantes. Ele resolve ir até a janela mas, constata que não havia ninguém por
lá. A coisa foi piorando, começa a aparecer mais de uma pessoa, homens,
mulheres, uma duas ou até três pessoas ali assistindo o músico ao piano. Ele
pesquisa melhor, vai ao quintal examinar se haveria alguém escondido embaixo da
janela.
Semanas depois as imagens
permaneciam de tal forma constantes que ele continuava tocando o piano sem dar
maior importância a elas. De repente nota que os figurantes que o assistiam,
estavam mais arrojados, passaram a ficar do lado dele próximo ao piano.
Dias depois ele se apavora com
imagens estranhas, bizarras, mas,
nítidas, eram seres pequenos, sobre seu piano, anãozinhos que quando ele
fixa o olhar, entram no seu copo ou na garrafa de agua que costumava deixar ali.
Esses seres minúsculos são denominados Lilliputianos pela semelhança aos que
são descritos nos contos de Gulliver na terra dos Lilliput.
Certa noite, nosso músico acorda de
madrugada e vê descer do teto até sua cama vários dos “amiguinhos” que o
seguiam na sala de piano – foi por isso que ele me procurou para consulta – se
da sala foram para o seu quarto, onde iam parar esses homenzinhos, que cada vez
mais afrontavam sua intimidade.
O quadro desse músico foi descrito
por um naturalista e filósofo suíço – Charles Bonnet que o observou no seu avô
e ironicamente ele mesmo, mais tarde,
veio a sofrer dessas alucinações – Charles Bonnet escreveu: “Ensaio
analítico sobre as Faculdades da Alma” em 1760 – nesse trabalho ele,
acertadamente, atribuiu essas alucinações a doenças dos olhos (miopia,
catarata, doenças na mácula ou na retina).
A filha do Seo Arnaldo sentiu-se
aliviada quando lhe garanti que não era doença de Alzheimer ou esquizofrenia
que sofria o seu pai
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