A marca de nascença
Nubor Orlando Facure
As duas irmãs saiam da mansão nobre
de São Paulo para visitar no hospital público
Dona Agnes, antiga serviçal que
lhes servia de governanta por mais de 20 anos.
Enquanto o motorista se via com as
dificuldades do trânsito, Marília e Margot, as gêmeas ricas da mansão paulista,
recapitulavam antigas lembranças do carinho, e esforço no trabalho caseiro que
Dona Agnes multiplicava em todos os momentos de suas vidas. Elas eram órfãs, a
mãe falecera no dia do parto gemelar complicado. A única imagem que tinham da
mãe era um álbum de retratos onde ela aparece com parentes na praia da Enseada
no Guarujá. Mesmo no branco e preto gasto das fotos antigas era possível ver
uma mancha na coxa direita da mãe. Era como a água quando cai no chão
esparramando gotículas em volta. Uma mancha maior, cercada de outras pequenas
em torno dela.
Daí a pouco já estão entrando pelas
portas de uma enfermaria de graves. As notícias não são nada animadoras, mesmo
jovem e sem nunca ter se queixado em casa, os exames de Dona Agnes revelaram
diabetes e pressão alta e, naquela noite ela entrara em um estado de pré-coma,
a agitação foi constante com risco de quedas do leito e, sem acompanhante,
foram as vizinhas do leito que ajudavam como podiam.
Marrília e Margot se postam ali ao
lado da cama percebendo o suor que escorre da face de Agnes. Que propósito
teria Deus quando juntou essa três mulheres de personalidade e condições
sociais tão diferentes. Mas, o coração das gêmeas não é indiferente ao
sofrimento da servidora que fora companheira fiel por tantos anos.
De repente, aproximam-se as
atendentes da enfermagem com o material
de banho e descobrem o corpo de Dona Agnes. A mesma mancha de nascença está lá
na coxa direita – a gota de água com os respingos ao lado.
Marília e Margot nunca perceberam
que a Misericórdia Divina aproximara delas a mãe que perderam no parto. A reencarnação
é benção com que a Justiça de Deus recompõe nossas oportunidades
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