Madeleines, para onde foram?
Nubor Orlando Facure
A maior parte das minhas memórias ficaram de fora do meu cérebro
e hoje elas estão me abandonando lentamente
Marcel Proust as encontrou no cheiro das Madeleines que
saboreava
Parece que todas as coisas estão perdendo significado e levando
minhas memórias com elas
Eu ainda as vejo nos vitrais das Igrejas que descrevem as
estações do martírio de Jesus
Nos meus medos da pintura do demônio que dizem espreitar meus
pecados
No frio do meu corpo nos barulhos das cachoeiras que me
refrescavam
No trinado agitado dos pássaros que me acordavam começando a
madrugada
No ruído de passos chegando quando roubei o primeiro beijo sem
perceber sua mãe que estava tão perto
No milho assado na brasa do fogão a lenha espremido no canto da
nossa cozinha
Na escuridão da noite que se aproximava encerrando as
brincadeiras de pega-pega
No primeiro livro que li, deixando apenas o título de lembrança
– Dois corações
Não foram embora as minhas memórias, o que me deixou foi o valor
que dei a coisas que hoje já não me importam mais
É com profundo sentimento de irmandade que leio as madeleines que se foram... Assim vem sendo para mim e é justo, justo na medida em que libertar as memórias é libertar a si mesmo esvaziando-se as desimportâncias, como tão bem dizia Manoel de Barros. É UM PROCESSO, claro! As desimportâncias importam-se e custam a sair pela porta da frente. E isto é tudo o que precisam o coração e a alma, estes dois irmão gêmeos. Voltarei a escrever-lhe. Aqui, O AgradeSer.
ResponderExcluir