Mas, pedir o quê ?
Nubor Orlando Facure
Isabela me consulta
desde que nasceu. Há 9 anos vem me ver no colo da mãe. É uma menina que tem 6 a
7 convulsões por dia, as vezes tem só uma piscação, ou torce a cabecinha,
outras vezes apenas fica pálida ou molinha como uma boneca de pano. Quando
chega, eu falo alto seu nome para ela me reconhecer, seu corpinho imediatamente
estremece e ela solta uns grunhidos abrindo um bocão enorme com a língua saindo
e entrando mostrando os dentes perfeitos. A mãe diz que ela está rindo para mim
eu aqui por dentro me esforçando para não chorar.
Mariana foi adotada
quando nasceu. A mãe biológica usuária de drogas era aidética. Vejo mensalmente
essa menina de 13 anos, estirada na cadeira de rodas que se espicha como um
berço. Seu fígado está em frangalhos devido as altas doses do coquetel. Todo
mês temos de rever seus exames, devido mais uma febre que se repete
insistentemente. Estou medicando para controlar suas convulsões há mais de 4
anos e nunca tivemos como controlá-las completamente. Mariana não fala, nem
precisa, a gente nota nos seus trejeitos, no seu sorriso torto, nos seus gritos
agitados quando ela está feliz.
Não peço para as duas
nem saúde nem sabedoria. Elas são felizes ao seu modo e desse jeito mesmo foram
capazes de nos escravizar ao seu amor inocente
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