quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Mas, pedir o quê ?

Mas, pedir o quê ?
Nubor Orlando Facure

      Isabela me consulta desde que nasceu. Há 9 anos vem me ver no colo da mãe. É uma menina que tem 6 a 7 convulsões por dia, as vezes tem só uma piscação, ou torce a cabecinha, outras vezes apenas fica pálida ou molinha como uma boneca de pano. Quando chega, eu falo alto seu nome para ela me reconhecer, seu corpinho imediatamente estremece e ela solta uns grunhidos abrindo um bocão enorme com a língua saindo e entrando mostrando os dentes perfeitos. A mãe diz que ela está rindo para mim eu aqui por dentro me esforçando para não chorar.
     
      Mariana foi adotada quando nasceu. A mãe biológica usuária de drogas era aidética. Vejo mensalmente essa menina de 13 anos, estirada na cadeira de rodas que se espicha como um berço. Seu fígado está em frangalhos devido as altas doses do coquetel. Todo mês temos de rever seus exames, devido mais uma febre que se repete insistentemente. Estou medicando para controlar suas convulsões há mais de 4 anos e nunca tivemos como controlá-las completamente. Mariana não fala, nem precisa, a gente nota nos seus trejeitos, no seu sorriso torto, nos seus gritos agitados quando ela está feliz.
     

      Não peço para as duas nem saúde nem sabedoria. Elas são felizes ao seu modo e desse jeito mesmo foram capazes de nos escravizar ao seu amor inocente

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