domingo, 19 de janeiro de 2014

A sala de Santa Agnes

A sala de Santa Agnes
Nubor Orlando Facure


Isoladas das demais pacientes, as claudicantes, as paralíticas, as dementes e as epilépticas, a sala de Santa Agnes abrigava as famosas histéricas do Professor Charcot, pai da neurologia francesa.
Nas suas aulas de demonstrações teatrais a figura majestosa de Charcot impunha admiração e respeito a um seleto grupo de assistentes: Babinsky, Dejenrine, Pierre-Marrie, Pierre Janet, Freud e, um dos seus alunos mais promissores – o Dr. Axel Munthe, com pouco mais de 24 anos, cuja genialidade chamava a atenção do mestre da Salprêtrière.
O jovem e talentoso assistente era habilidoso em hipnose e nas últimas semanas estava envolvendo-se com uma das pacientes da enfermaria de Santa Agnes. Ele prometera aos pais de Geneviève, na época com 20 anos de idade, que iria resgata-la das mãos do Professor Charcot para que ela voltasse a vilazinha da Normandie onde poderia trabalhar no sítio dos pais que, agora idosos, não suportavam mais as lides do campo.
Geneviève tornara-se publicamente famosa, acabava de ser capa de uma revista – Le rire - era uma das estrelas mais requisitadas nas famosas reuniões de terça-feira, orientadas por Charcot para suas demonstrações dos quadros histéricos, ali, Geneviève  revelava suas contorções e gesticulações convulsivas.
Alex Munthe consegui autorização para trabalhar com a jovenzinha da Normandie iniciando um processo de sugestão pós-hipnótica. Ele introduzia paulatinamente a ideia de que Geneviève deveria encontra-lo em sua clínica e  revelasse o desejo de voltar a sua aldeia com os seus pais.
No início as sugestões pareciam que estavam sendo acolhidas, mas, a fuga não pode ser concretizada sendo a trama descoberta pelo Professor Charcot.
 Repreendido em seu gabinete, o Professor Charcot, despediu da sua clínica o jovem talentoso Axel Munthe com uma frase tonitroante:  Assez, monsieur!

P.S – Adaptado do livro de Hermínio Miranda: As mil faces da realidade espiritual

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