Vovó Januária
Nubor Orlando Facure
Ha 6 anos o neto Danilo vem empurrando a
cadeira de rodas para um lugar e outro na casa da Vó Januária ou nas ruas
íngrimes da cidadezinha de Morro Agudo em Minas Gerais. Sua perna direita
precisa ficar esticada devido a uma ferida mal cherosa que não cicatriza desde
que ela foi picada por uma aranha. Danilo faz curativo duas vezes por dia com
ervas caseiras, unguentos e cremes humidificantes mantendo a ferida enfaixada sem que ,
entretanto, aquele cheiro estranho desapareça.
Januária foi casada com o pedreiro
Denival por 25 anos até que ele a abndonou com a deculpa de procurar trabalho
“por aí” – seu sonho era ir para o garimpo de Goiás – sua cubiça era o diamante
que peneiravam nas barrancas dos rios naquela época.
Dos 5 filhos de Januária só a
Carminha, mãe de Danilo, vinha lhe trazer ajuda e fazer companhia por algumas
horas. O neto, apesar de seu 12 anos, fazia todas a tarefas de casa depois que
Januária se imobilizou na cadeira de rodas.
Januária, Denival, Carminha e Danilo
programaram esse reencontro em Morro Agudo para recomporem seus compromissos
perturbados na velha Espanha nos anos da colonização americana – foram quase
duzentos anos de espera para que essa vida de sacrifício em Minas Gerais
pudesse aliviar a culpas do passado.
Januária, usando amigos influentes,
conseguiu deportar o marido Denival para ficar com suas pepitas de ouro trazidas
da América por marinheiros espanhois. Depois, Produzindo intrigas acabou desfazendo
um casamento feliz de Danilo com Carminha fujindo com ele para o interior de Portugal – numa
viagem tumultuada pelas intempéries da estação chuvosa, ela, exigindo pressa na
carruagem, faz o coxeiro cair do assento fraturando as duas pernas.
Apesar de rica, vivendo com Danilo uma
paixão que não tinha direito, Januária, corroida por remorsos envelece
precocemente morrendo sozinha num casarão próximo a Coimbra.
A reencarnação aproxima as pessoas
de quem mais necessitamos para sustentar nossa evolução espiritual.
Dificuldades, doenças, afeições que nos abandonam fazem parte do bem e do mal
que nós mesmos plantamos – são as lições que precisamos para resgatar e crescer
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