segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Vovó Januária

Vovó Januária
Nubor Orlando Facure


       Ha 6 anos o neto Danilo vem empurrando a cadeira de rodas para um lugar e outro na casa da Vó Januária ou nas ruas íngrimes da cidadezinha de Morro Agudo em Minas Gerais. Sua perna direita precisa ficar esticada devido a uma ferida mal cherosa que não cicatriza desde que ela foi picada por uma aranha. Danilo faz curativo duas vezes por dia com ervas caseiras, unguentos e cremes humidificantes  mantendo a ferida enfaixada sem que , entretanto, aquele cheiro estranho desapareça.
       Januária foi casada com o pedreiro Denival por 25 anos até que ele a abndonou com a deculpa de procurar trabalho “por aí” – seu sonho era ir para o garimpo de Goiás – sua cubiça era o diamante que peneiravam nas barrancas dos rios naquela época.
Dos 5 filhos de Januária só a Carminha, mãe de Danilo, vinha lhe trazer ajuda e fazer companhia por algumas horas. O neto, apesar de seu 12 anos, fazia todas a tarefas de casa depois que Januária se imobilizou na cadeira de rodas.

       Januária, Denival, Carminha e Danilo programaram esse reencontro em Morro Agudo para recomporem seus compromissos perturbados na velha Espanha nos anos da colonização americana – foram quase duzentos anos de espera para que essa vida de sacrifício em Minas Gerais pudesse aliviar a culpas do passado.
       Januária, usando amigos influentes, conseguiu deportar o marido Denival para ficar com suas pepitas de ouro trazidas da América por marinheiros espanhois. Depois, Produzindo intrigas acabou desfazendo um casamento feliz de Danilo com Carminha fujindo  com ele para o interior de Portugal – numa viagem tumultuada pelas intempéries da estação chuvosa, ela, exigindo pressa na carruagem, faz o coxeiro cair do assento fraturando as duas pernas.
       Apesar de rica, vivendo com Danilo uma paixão que não tinha direito, Januária, corroida por remorsos envelece precocemente morrendo sozinha num casarão próximo a Coimbra.


A reencarnação aproxima as pessoas de quem mais necessitamos para sustentar nossa evolução espiritual. Dificuldades, doenças, afeições que nos abandonam fazem parte do bem e do mal que nós mesmos plantamos – são as lições que precisamos para resgatar e crescer

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pensamentos

Pensamentos
Nubor Orlando Facure

Como é complicado o meu pensar:

As lembranças que me chegam
Sem mais nem menos me vem à mente as coisas que quero esquecer
Ha coisas que vem e vão
Os pensamemtos saltam de um para o outro sem que eu possa examiná-los com mais cuidado
As coisas que mais quero
Ainda bem que consigo trazer muitas daquelas que me fazem falta – eu penso em quem me ama, quem eu devo evitar, o que eu fiz ontem e onde vou hoje a tarde – mas nunca sei se os pensarei de volta amanhã
As coisas que me fogem
A vezes tento construir com palavras o que penso lhe dizer e elas nunca me chegam como as quero
As coisas como elas são
As vezes tento me iludir mas, o preço real da vida é alto e volto a acordar para viver o que eu não queria
As coisas que me incomodam
Como são perversas. Insistem permanecendo mais tempo do que merecem
As coisas que me encantam

Não posso compreender como elas ficaram todas no passado – acho mesmo que a memória é um casarão antigo de brincar de esconde-esconde, como naquele tempo de criança e que se foi