Os assaltantes
Nubor Orlando Facure
Nas estradas do ouro que desciam de
Minas Gerais para o Rio de Janeiro eram comuns os assaltos. Um grupo, que por
ali andava, destacava-se pela violência
e rapidez que agia, atirando, mantando e roubando as preciosas cargas de ouro e
mantimentos que saiam de Ouro Preto.
Candinho de 45 anos e seus dois
sobrinhos, Daniel de 17 e Dionísio de 14 anos. Apesar da pouca idade esses meninos eram
fortes, valentões e violentos
Mês de junho, muita chuva e muito
frio atrapalham os planos do trio de assaltantes e eles caem numa armadilha
sendo presos pela força policial que estava a sua procura.
Permaneceram três meses aguardando
a sentença do Juiz quando o capitão de policia traz a notícia de que a Corte do
Rio de Janeiro determinou que eles deveriam cumprir pena em Barbacena onde
ficariam presos por 15 anos
Quatro soldados formaram o pelotão
que os iria transportar para Barbacena. Dessa vez agora, o clima joga a favor
dos assaltantes. Frio, chuva e estrada escorregadia nas subidas da serra obriga
a vigilância a relaxar permitindo, num descuido, que os três bandidos fujam da
guarda. Os três correm para nunca mais serem encontrados lá naquelas bandas da
estrada do ouro
Dr. Silas, médico da Santa Casa de
Bebedouro está percorrendo os corredores do velho hospital atendendo a sua
variada clientela.
No Quarto 16 cumprimenta a família
de Dionísio portador de uma doença dos músculos que o deixou paralisado desde
bebezinho. Recebe alimentação por sonda, precisa fisioterapia e curativo nas
escaras. Quinze anos de doença, lutas e dificuldades com pneumonia, uma atrás da outra
No Quarto em frente está Daniel,
completando 8 anos de internação, na mesma cama, paralisado por um acidente de
moto. Não fala, mas, os parentes percebem que na presença da Mãe, uma ou outra
lágrima ele deixa escorrer pelos olhos. Já pregou muito susto, parecendo que ia
morrer durante as crises de convulsão que uma ou duas noites por mês o sacode na cama.
Descendo até a ala de velhinhos o
Dr. Silas entra no quarto do Sr. Cândido, acometido precocemente do Mal de
Alzheimer. Ha 15 anos está totalmente indiferente a qualquer apelo dos
familiares. Não reconhece mais ninguém, as vezes se torna agressivo, precisa
de ajuda para se alimentar, para o banho e, por um ou outro descuido, já caiu
da cama fraturando ossos
Aquele trio de assaltantes que
deveria cumprir pena de 15 anos em Barbacena está agora, internado na antiga
Santa Casa algemados a um leito que os imobiliza
Lição de casa
Os doentes da Alma permanecerão
sempre em débito com a Justiça Divina até que se cumpra sua sentença. Deus permite que doenças físicas façam o
papel dos carcereiros – ao invés de grades e algemas estaremos submetidos a
paralisia, a dor e a demência para nos imobilizar
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