Rigidez para com os outros
Nubor Orlando Facure
Dr. Teolindo Dantas é magistrado numa capital nordestina. Povo rude mas simples se mistura com gente violenta e com trapaceiros da pior espécie. Para o Dr. Dantas o que importa é aplicar o rigor da Lei. Não ha prerrogativas, privilégios, nada de conceder mais tempo nem de abrandar as penas. Quem errou tem de pagar.
O relógio do tempo parece voar e um câncer de pulmão põe fim à vida de Teolindo Dantas.
O povo diz que o ”que aqui se faz aqui se paga. O Espiritismo ensina que após essa vida temos um encontro com a consciência da qual ninguém pode fugir.
Dr. Dantas, nas porta do sepulcro já encontra instalado um “Tribunal de obsessores” – agora é ele quem vai ser julgado. Uma entidade sisuda passa a ler extensa lista de recriminações:
Na revisão de processos do Dr. Teolindo Dantas consta:
Seu Jonas foi condenado por não pagar prestações numa loja de roupa
Dona Rosa ficou devendo na farmácia
Tonico Silva não pagou os moveis do quarto
Dagoberto descumpriu o prazo de entrega das ferragens
Zenildo Coelho ficou devendo 15 dias de serviço na colheita da cana
Zoraide foi denunciada pela patroa por roubo de jóias
Maria Antônia de Jesus depois que foi abandonada pelo marido não acertou as contas na venda do seu Genivaldo
A Clotilde estragou o vestido que Dona Madalena Serpa ia usar na recepção do Governador
Adelaide, a servente do grupo escolar, sofreu queda batendo o rosto fortemente. Foi acudida por policiais que vendo seu desequilíbrio para andar afirmaram ao delegado que ela estava bêbada. Por decisão do Dr. Dantas os dois filhos menores de Adelaide foram recolhidos para uma instituição de órfãos.
Foi proferida a sentença lida pelo dirigente do tribunal das trevas:
Trinta anos de isolamento e voltar ao planeta na condição de surdo-mudo abandonado pelos pais nas ruas de Recife
Lição de casa
Ensina Jesus que seremos julgados pela mesma moeda que usarmos
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