Perguntas de um jornalista ao Dr. Nubor orlando Facure
A primeira questão é, na verdade, pedir um relato sobre o contexto em que o Sr. conheceu e conviveu com o Chico Xavier (as lembranças, experiências e de que forma tudo repercutiu ao longo da sua vida)?
Tive o primeiro encontro com Chico Xavier aos 18 anos quando ele iniciava sua mudança para Uberaba. Foi uma reunião solene no Centro Espírita Uberabense. Minha mãe anotou meu nome num papel e levou até a enorme pilha de pedidos de orientação que eram encaminhados ao Chico para ouvirmos as palavras da Espiritualidade. Lembro-me até hoje dessa mensagem. Ela me recomendava estar atento às lições do evangelho e não descuidar das questões sociais.
Posteriormente, já na mudança definitiva, foi meu pai o construtor da casa onde o Chico foi morar e isso facilitou contatos mais próximos com o médium.
Vou destacar um deles. Já era de madrugada e ao nos despedir do Chico, minha mãe, mais uma senhora e eu, o Chico nos pede para lermos uma página do evangelho. Caiu na escolha aleatória a lição de Jesus: “não atirai pérolas aos porcos“. Ele mesmo comentou que aprendera com Emmanuel que tudo tem sua hora, que por exemplo, num deserto, não adiantaria pregarmos as lições de Jesus, haveríamos de distribuir água que seria mais oportuno. Nisso ele pede que eu comente a lição. Foi quando fiz referência as mães que nas portas dos presídios, em situação de extremo sofrimento, esmagadas pelo desatino de filhos rebeldes com as Leis Divinas, mesmo assim elas perseveram e sempre consideram mesmo derrotadas em seus argumentos,que seus filhos são inocentes e merecem comiseração. Pude, surpreso, ver a comoção do Chico. Ele, então me agradece dizendo que naquele instante lhe apareceu aos olhos do Espírito a visão da sua mãe ali presente, sendo que faziam mais de 10 anos que ele não a via.
Biógrafos do Chico já exploraram exaustivamente episódios de sua vida, mas são milhares de contatos diretos com o médium e muito ainda haverá de se contar. Os cenários mais marcantes creio que todos conhecem. Tive oportunidade de estar presente em vários deles.
Estive na fila que antecedia as reuniões de sexta-feira disputando seu carinhoso abraço entre dezenas de amigos e necessitados de consolo que procuravam apenas tocar no Chico e ouvir-lo dizer - “confia meu filho, tudo vai da certo“, “vamos trabalhar para que nada de grave nos aconteça“.
Assisti a leitura de cartas comoventes, psicografadas aceleradamente.Uma delas era de um taxista assassinado em São Paulo, sua esposa Benedita estava ali presente e nós todos derramamos todas as lágrimas que nos era possível conter
Como se todos nós fôssemos atingidos pelo mesmo projétil que atingiu o taxista. Outra delas foi do meu avô que nos ofereceu um texto carregado de detalhes que só a família reconhece.
Acompanhei o Chico e o grupo de amigos nas famosas peregrinações noturnas percorrendo as ruas esburacadas no bairro onde ele morava. Ainda tenho na memória a visão do médium nas portas de um desses casebres carregando sempre um livro sob o braço. Cercado por todos ele lia uma página para nossa meditação e até hoje minhas lembranças registram aquele ton de voz mansa inigualável. Saíamos desses encontros cheios de vontade, prometendo todo nosso empenho em seguir seus exemplos.
Estive dentro da casa do Chico, num grupo restrito ouvindo seus relatos incansáveis de casos que se sucediam a mais casos que ele continuamente nos contava. Disse na última noite que lá estive que uma senhora de São Paulo o procurou aflita.
Chico, dizia ela - minha vida “está por um fio“, já fiz várias cirurgias, ainda tenho de tratar do coração. O que eu faço Chico?. Ele responde: “minha filha. Emmanuel aqui presente pede para lhe dizer que se você trabalhar o fio engrossa”
Também ouvi seus comentários instrutivos no final de uma das reuniões mediúnicas, já altas horas da madrugada. Algumas de suas mensagens ainda as retenho embora corroídas pelo tempo:
Dizia o Chico - os homens estão usando a mulher como chinelo, quando ficam folgados eles procuram outra. A pílula vai liberar realmente a mulher e, a comida que o ganso comeu até agora a mulher vai comer também. Dentro de 100 anos o bebê humano será totalmente produzido em laboratório. Na história humana foi sempre a mulher quem pagou esse alto preço que a gravidez a sujeita. O futuro da humanidade está nas mãos do próprio Homem, estará nas suas atitudes e decisões as conseqüências do que ele fará com o planeta. O Apocalipse poderá ou não ocorrer conforme nossa conduta. Por enquanto ele é provável porque não resolvemos a questão da Palestina (estávamos em 1976)
Estive com o Chico nas prolongadas distribuições de Natal onde milhares de necessitados esperavam receber um ou outro alimento e um sinal pelo menos do olhar do Chico.
Também o vi nos bancos do abacateiro onde ele emitiu pensamentos de profundo conteúdo filosófico.
No meu último contato com ele, numa das reuniões da Casa da Prece, permaneci por horas assentado no seu quintal me sentindo inundado numa paz que me afetava profundamente por dentro modificando meus pensamentos. Apelei para meus conhecimentos de neurologia para tentar explicar o que estava acontecendo em minha mente. Daí a pouco entrei até a sala da reuniões e, quando chegou minha vez, o Chico pronunciou meu nome e me pediu para aproximar o Maximo perto dele. Prendeu-me o rosto com as duas mão e me disse: preciso lhe fazer um pedido. Quase desmaiei. Ele completou: “não se esqueça de mim em suas preces”.
O Sr. se recorda de passagens de Chico por Campinas? Em 1972 ele recebeu o título de Cidadão Campineiro. Não sei se o Sr. pode comentar a respeito.
Assisti dois momentos do Chico em Campinas. Antes de receber o título de Cidadão campineiro em 1972 ele esteve num encontro realizado na Fonte São Paulo. Estive ali com minha esposa Lourdes e a filha Kátia na ocasião com 4 anos. A emoção não me permitiu reter detalhes da solenidade, mas, ao final o Chico permaneceu no palco atendendo a fila que se formou para cumprimentá-lo. Ao me reconhecer ele me fez aproximar o rosto e disse palavras que até hoje ressoam em meus ouvidos: “você está muito bem acompanhado” Quem seria? A parentela física, esposa e filha ou parentes do mundo espiritual a quem eu dirigia minhas orações naquele momento?
O título de “Cidadão Campineiro” foi recebido no Ginásio do Taquaral. Não cheguei a falar com ele, mas, lembro-me de algumas palavras do seu discurso de agradecimento quando ele nos diz que estavam presentes na solenidade Espíritos ilustres ligados a história de Campinas, lembro-me de Orosimbo Maia e Álvaro Ribeiro. Quero me desculpar se cometi algum erro nas datas que podem ser conferidas com os organizadores desses eventos
O Sr. pode indicar mais pessoas que conheceram o médium pessoalmente?
Poderia citar dezenas. Meus pais e, particularmente minha irmã conviveram com ele muito de perto. Vale a pena citar alguns momentos dessa relação de amizade. Quando meu pai já estava terminando de construir a casa onde o Chico foi morar ao se mudar para Uberaba, o lugar ainda era pouco habitado e, no entardecer, ele reunia os pedreiros para voltarem juntos. Nisso o Chico o chamava pedia seu lenço e apertava por instantes deixando o lenço impregnado com um perfume de rosas. Dizia o Chico que era para entregar à minha mãe. Todos parentes queriam cheirar o lenço para perceber o cheiro agradável. Lembro-me que minha mãe mandou um vidrinho cheio d’água com o recado ao Chico para ele perfumar o vidrinho que manteria por mais tempo o perfume.
Logo que foi concretizada a mudança, minha mãe, minha irmã e eu iniciamos no galpão do “centro” do Chico - Comunhão Espírita Cristã - as primeiras aulas dominicais, para evangelização das crianças do bairro.
Já morávamos em Campinas quando em 1992 faleceu minha mãe. Meses depois, eswtando em Uberaba minha irmã pede notícias dela ao Chico. Carinhosamente ele diz que ela estava dando aulas para crianças. E o que ela, não sendo professora estaria ensinando? “acolhendo crianças desencarnadas e ensinando “Jesus”, que as professoras de hoje estão omitindo em suas lições.
A disposição e decoração do consultório do Sr. também são reflexos do Espiritismo?
Cheguei em Campinas em 1966 e sempre manifestei meu pensamento espírita. Procurei não agredir as crenças de ninguém respeitando a escolha de cada um, mas, nunca me omitindo em conceitos como, a reencarnação, para justificar a aparente injustiça da ocorrência inesperada de tanto sofrimento que nós neurologistas presenciamos. Nunca deixei de falar sobre a imortalidade da Alma, tantas eram as notícias que tínhamos de parentes e amigos falecidos que se anunciavam na psicografia do Chico em Uberaba. Nunca deixei de ensinar aos meus alunos na UNICAMP, onde lecionei por 30 anos que só a existência do Espírito poderia explicar a diversidade da natureza humana, a complexidade das funções cerebrais, a maravilha de genialidade das crianças precoces.
Foi essa postura que culminou com a fundação do Instituto do Cérebro onde pude ampliar nossa prática espírita. Contando com o talento artístico da minha esposa o ambiente foi decorado com trabalhos dela. Também pelo seu esforço foram criadas mais de 5 mil pequenas mensagens que, no final das minhas consultas, os pacientes fazem uma leitura de uma delas aliviando a tensão dos diagnósticos ou das formalidades médicas indispensáveis.
Conto, também, com ajuda da minha filha Lúcia, que juntamente com a mãe, D. Lourde, fazem, semanalmente, uma reunião para leitura do evangelho. Freqüentemente um ou outro dos nossos pacientes acompanham essas reuniões de ajuda espiritual aos nossos doentes.
Quero lembrar, também, que toda nossa região já sabe que sou Espírita. Vez por outra fico sabendo de doentes que recusam me consultar justamente por isso. Entretanto, muitos me procuram justamente para esclarecimento de problemas espirituais. Preciso sempre deixar claro que nunca fuiz consultas espirituais, sou um neurologista espírita e posso ajudar orientando situações de comprometimento espiritual e, quando necessário encaminho esses pacientes ao Centro Allan Kardec da nossas cidade. Nessa situações já testemunhei inúmeras vezes manifestações mediúnicas nas nossas consultas, sejam incorporações ou vidência de entidades que ali se revelam aos pacientes portadores dessa aptidão.
O Sr. preserva materiais da época em que conheceu o médium? Fotos ou qualquer outro elemento que remeta à época.
Fiz opção de guardar apenas em minhas memórias a mensagem evangélica pregada pelo Chico. Nunca deixei de agradecer todo aprendizado que seus livros me permitiram desfrutar e nunca me esqueci de sua recomendação de que, entre ele e Kardec optássemos por Kardec. Para admiração e modelo a cultuar, apenas Jesus Cristo, a quem ele se referia com extrema doçura.
Numa próxima encarnação, seu eu não puder estar de novo com o Chico Xavier, pelo menos que alguém me faça a caridade de me oferecer um dos seus livros.
domingo, 18 de abril de 2010
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