Os caminhos da roça
Nubor Orlando Facure
Lá na roça
O vai e vem dos peões, as viagens da carroça de milho, do caminhão do leiteiro, do caminhar das mulas que trazem as encomendas da cidade, vão marcando o solo criando caminhos.
Os anos se passaram e até hoje para ir de um lado para o outro seguimos as mesmas trilhas de antigamente - tropeçamos nas mesmas pedras, subimos os barrancos, ultrapassamos os veios d'água e nos esfolamos nas mesmas quedas.
No cérebro de um bebezinho
Ele está repleto de neurônios - quando sua mãe canta, seu irmãozinho joga uma bola, a professora o ensina a pintar, lá na televisão as crianças brincam, o pai o leva num passeio de carro - a cada estímulo novo, um conjunto de neurônios é mobilizado - são criadas redes de conexões neurais.
O efeito dos estímulos
Repetindo a mesma tarefa, haverá uma tendência da mesma rede de neurônios responderem ao estímulo. "Neurônios que disparam juntos hoje tendem a dispararem juntos no futuro". Isso é a essência do aprendizado. Freud teria adorado essa afirmação proposta por Donald Hebb em 1949
Uma criança leva um susto com o barulho de um brinquedo. Quando cresce, ela não se lembra mais do barulho, mas, rejeita pegar no brinquedo sem saber porquê. Aquele conjunto de neurônios que a criança estimulou na primeira ocasião reproduz a situação quando no futuro o mesmo estímulo se repete - a mesma rede de neurônios é mobilizada. É como seguir os mesmos caminhos da roça.
Nossos medos
O medo de chuva, a incapacidade para dirigir, a raiva da cunhada, o nojo da comida e a tristeza que aquela música provoca, são repetições das mesmas redes de neurônios que no passado construímos para nós mesmos.
Esse tipo de recordação está ligada a nossa "memória implícita" - ela não requer a participação da consciência - resumidamente, podemos dizer que nas nossas experiências do dia-a-dia, estamos desenvolvendo comportamentos e gerando emoções a cada imagem que a vida nos apresenta.
Imagens, comportamentos e emoções andam sempre juntas.
Não gosto tanto assim do lugar onde nasci - gosto mais é das lembranças que esses lugares me despertam.
O corpo fala
Esse tipo de memória (implícita) não se refere apenas a situações externas. Experiências vivenciadas pelo nosso corpo criarão conexões neurais que hoje estão respondendo a um estímulo e, no futuro, repetirão os mesmos caminhos. O carinho de um abraço numa criança ou as palmadas que a violentam marcam também o seu corpo
A maneira como respondemos hoje a dor de uma queda, de uma picada de injeção, ao corte de uma cirurgia, ao peso de uma dor nas costas, tem muito a ver com essa história na infância.
Nosso futuro fica mais ou menos escrito nas redes de neurônios que construímos ontem e hoje
domingo, 29 de maio de 2011
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